29 novembro, 2010

"Caminhos do Meu Navegar" (4)

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Cap II - Por terras de Angola

Afinal o destino estava para além de Maquela(*)




13 – Maquela do ZomboChegámos. A coluna militar atravessou lentamente a vila. A viagem durara pouco mais que 7 horas até ai chegar e dirigiu-se ao quartel, sede do batalhão, passando por entre sorrisos e acenos da população que apareceu nas ruas da vila. Minha Alma respondia, eu não. Pessoas brancas trajando civilmente e alguns militares distribuíam-se pelas entradas de edifícios cujo uso não residencial se percebia pela fachada e pelos anúncios pintados, uns nas frontarias outros em tabuletas improvisadas. Muitas mulheres pretas coloriam as ruas vestidas de cores garridas, parecendo terem sido postas ali com a missão de nos receber com uma alegria obrigada ou postiça. Minha Alma surpreendia-se, eu não. O casario de piso térreo e os arruamentos, cuja disposição não descortinei, engalanavam-se de verde em contraste com os tons levemente avermelhados da terra, lembrando a terra sena (ou terra de siena?), cor dominante das picadas que nos conduziram até lá. Palmeiras e mangueiras dispunham-se ordenadas para dar um ar mais gracioso àquela paisagem quase urbana. Minha Alma gabava aquela beleza meio inóspita, eu permanecia calado. Todos os nossos olhos, até os do Meu Contrário, pousaram no estabelecimento Socosol e logo a seguir, muito perto, no Bar Zombo, onde uma pequena multidão também acenou. Aí não resisti e fui acenando também à medida que me dava conta de que a verdadeira festa à nossa chegada pertencia à criançada. Às dezenas e meio vestidas, as crianças corriam ao lado da coluna, perante o ar meio receoso das mulheres, pois a proximidade das viaturas certamente as fazia temer pela sua segurança. O Meu Contrário, sempre tão racional, não sabia explicar como uma encenação assim podia incutir a tranquilidade que Minha Alma sentia. Nenhum de nós encontrou explicação para o sentimento de insegurança que Minha Alma detectou naquela gente. Os zombos pareciam mais receosos do que nós, recém-chegados. Talvez que nós, sem referencias prévias, estivéssemos à espera de sermos recebidos a tiro ou à catanada. Mas não. Apesar de um histórico de rebelião(*), os zombos mostravam-se pacíficos e, assim, não foi nada disso que aconteceu. Gostei de Maquela mas não iríamos ficar nela, para desespero da Minha Alma e a aparente indiferença do Meu Contrário…
14 – Mais pó da picada – Após uma curta paragem, a coluna prosseguiu viagem, agora já sem os carros civis que traziam mantimentos para toda a população. À saída de Maquela, uma placa indicava vários destinos em duas direcções. Seguimos a que referia a fronteira com o Congo, direitos à Kimbata. Poucos não sabiam que o destino final era a Fazenda Costa, a cerca de 35 km de Maquela, antiga roça de café, que a guerra se encarregara de transformar em acampamento militar. Era onde iríamos ficar. Pelo caminho, passámos por 3 sanzalas e muitos grupos de negros deslocando-se, recolhendo de um dia de trabalho nas lavras, seu único meio de sustento. À nossa aproximação embrenhavam-se capim dentro, prosseguindo a uns 15 ou 20 metros. Minha Alma interrogou-me mas só muitos dias depois, quando soube, lhe disse que era costume, em tempos idos, os veículos militares irromperem em sua direcção, passando por cima dos menos lestos e desprevenidos. Minha Alma nem queria acreditar. O Meu Contrário, não aceitou tal explicação e disse, ainda que pouco convictamente: “Fogem do pó da picada, não da maldade dos homens”…
15 – “Olha a nossa salvação!” – Passado um declive muito acentuado, a coluna subiu uma ravina pouco inclinada mas longa e avistou o aquartelamento. Logo a seguir, mais de uma centena se soldados vieram ao nosso encontro gritando coisas diversas. Fixei apenas uma exclamação: “Olha a nossa salvação!”. E éramos. Vínhamos render aquela gente e por isso estavam tão felizes. No céu, para onde olhei inadvertidamente, talvez para perceber de que lado estava Deus, se com a satisfação dos que iam regressar se com a tristeza dos que acabavam de chegar, apenas vi uma tonalidade avermelhada e calma do sol a partir. Era uma tonalidade tão bela que só poderia ser obra de mulher a afastar o sol no horizonte. Chamei àquela luminusidade serena, Maria do Sol e ela antes de a estrelada noite aparecer, pareceu-me ter dito “Rogério, amanhã ele voltará, para te alegrar a Alma”…
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(*) Este sub-capitulo é exclusivamente dedicado a contextualização geográfica do meu caminho pelo norte de Angola, os personagens passaram aqui para segundo plano. Retomarão já a seguir o papel que lhes reservei neste meu caminhar.

(**) Tivesse este livro preocupações históricas e eu não deixaria de citar o trabalho "Os Zombo na Tradição, na Colónia e na Independência", do Professor Doutor José Carlos de Oliveira, publicado na "Revista Militar" e a que podem aceder aqui: (I Parte); (II Parte); (III Parte)

28 novembro, 2010

Homilias dominicais (citando Saramago) - 17

Escrever foi sempre um desejo e um embaraço. Cedo gostei de brincar com as palavras. Por isso, esse desejo manifestava-se sob a forma de um prazer lúdico tão intenso como o era o do jogo do berlinde ou do pião. O embaraço, sentia-o por não saber exactamente sobre o que escrever. Valorizava tudo: um carreiro de formigas; a corrida entre um palito e um pau de fósforo, deslocando-se na corrente das águas das últimas chuvas, junto à berma do passeio da minha rua; as azinhagas e os pátios dos bairros pobres do Alto do Pina; o rosto do meu avô; o Tejo nos lugares que me foram pintados pelo Tapadinhas. Tudo. A tudo isso eu sempre dei muito valor e ficava embaraçado só de pensar que, quem me lesse, não lho reconheceria. Só nas aulas de português, por vezes, uma redacção de tema livre ou outro, servia como teste que o professor carimbava com um solitário "Bom". Só perdi essa timidez quando li "O Mundo dos Outros" e exactamente quando a voz se me embargou quando li, em voz alta à Teresa, aquele conto, "A Boca Enorme", sem outro assunto que não fosse um sentimento. Desde esse dia, marquei o José Gomes Ferreira, como minha referência. Escrevia-lhe as frases todas-assim-ligadas-como-uma-corrente-poética. Seguiu-se um período de cartas escritas 2 por semana mais de cem semanas a fio. Depois aconteceu um período longo, de quase 40 anos, de escrita cinzenta e pejada de palavras importadas e que eram, invariavelmente tituladas de relatórios. Relatórios disto e daquilo, destinados a aprovação de patrões ou "cavaleiros da industria" que não liam mais que uma página de um "Sumário Executivo"...
Há poucos meses, sem esquecer o meu poeta original, consenti que fosse Saramago a empurrar-me para novos textos. O tema escolhi-o eu: a natureza humana e os seus caminhos. A forma é a de um livro virtual de viagens. Para o escrever tomo recomendações sábias e que incluo na

HOMILIA DE HOJE
  • "Aqui, cada um com seu desgosto e todos com a mesma pena."
  • "...é o que as palavras simples têm de simpático, não sabem enganar."
  • "O código genético disso a que, sem pensar muito, nos temos contentado em chamar natureza humana, não se esgota na hélice orgânica do ácido desoxirribonucléico, ou DNA, tem muito mais que se lhe diga e muito mais para nos contar, mas essa, por dizê-lo de maneira figurada, é a espiral complementar que ainda não conseguimos fazer sair do jardim de infância, apesar de multidões de psicólogos e analistas das mais diversas escolas e calibres que têm partido as unhas a tentar abrir-lhe os ferrolhos."

José Saramago in “Ensaio sobre a lucidez”

26 novembro, 2010

Caminhos do Meu Navegar (3)

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Cap II - Por terras de Angola

Zombando, rumo a Maquela do Zombo



8 – A lua anda, em Luanda – 5 da manhã, 21 de Julho de 1969, hora de desembarcar do navio Vera Cruz. A lua tinha já fugido colocando-se, ela e os astronautas que por lá andaram, fora do meu pensamento. Eu, o Meu Contrário e a Minha Alma, olhávamos a luz do nascer do dia. Luz muito clara àquela hora e ainda morna. Os três, em conjunto, fixámos aquele céu antes de olhar para o que dali se avistava da cidade. Aquele céu não nos pareceu tão estranho quanto a terra. Antes de a pisar, fizemos um acordo. Zombar com tudo aquilo que viesse a acontecer. À medida que descia do portaló ia dizendo: “Nada do que irá acontecer, será levado a sério nesta vã tentativa de se adiar o futuro”. O Meu Contrário, que para os que só agora tomaram contacto com estas narrativas, não é mais que a outra parte de mim e a quem alguns chamam consciência, reforçou-me a decisão com um tom sentencioso: “Rogério, estou de acordo desde que isso não te leve a coisas disparatadas e que tanto dizes condenar”. A Minha Alma, foi mais reticente, mas lá se convenceu em pactuar. Chegou a alvitrar que talvez fosse mais aconselhável assumir um comportamento de zumbi, um morto vivo, em vez da opção escolhida de passar a ser um ser vivo confrontado com uma realidade que se propunha ridicularizar. Ficámos assim, num acordo forçado, de troçar com a tentativa do regime em impedir a queda do império colonial…
9 – O comboio malandro – Não sei se o poeta se referia ao comboio que liga o porto de Luanda ao Campo Militar do Grafanil, num percurso de cerca de 15 quilómetros, quando escreveu aquele poema que eu fui buscar antes mesmo de ele o pensar fazer. Este não é o do poeta, mas é um comboio malandro também. Minha Alma segredava-me com a ironia que tínhamos contratualizado: “Este comboio é um malandro cansado”. Tinha razão o comboio. Desde 1961, aquele máquina tinha já transportado mais de 300 000 praças e sargentos, seus contrários e outras tantas almas. Mas o comboio, todo inteiro, talvez soubesse que sua reforma não equivaleria à reforma daquele teimoso trajecto que muitos queriam apelidar de heróico. Cansado, arrastava-se nos carris e chiava ao peso da sua elevada carga, cerca de 3000 pessoas de verde fardadas. Cansado era também o fumo intenso e negro que, em excesso de malandrice, ia envolvendo tudo e todos e se ia desfazendo pela paisagem composta por um imenso casario abarracado, pois toda a periferia da cidade eram muceques. A marcha do comboio malandro era tão vagarosa, que permitia que centenas de crianças pretas a acompanhasse, uns dizendo adeus sorridentes, outros apenas mostrando os dentes (pois os sorrisos tinham-se esgotado nos últimos comboios que por ali tinham passado), outros ainda pedindo um moeda. Por parar um ou outro fazendo gesto de agachar, fiquei com a ideia que eram bastantes os soldados que mandavam seus trocos. Seria naquele dia um reforço àquela economia, pois que se tinham organizado para o peditório. Chegados ao campo de concentração militar (a expressão é cruelmente ambígua e irónica), houve tempo de desfile, parada e discurso de boas vindas. Tínhamos assim chegado à guerra colonial de forma mais oficial, embora a distribuição do armamento só viesse a ocorrer dias depois…
10 - A primeira carta – Aos sargentos e oficiais era facultada a pernoita nas respectivas messes, no centro de Luanda. Ainda havia sol quando cheguei ao quarto, depus o saco e saí. Procurei um café e de pronto escrevi a minha primeira carta à Teresa. Confirmava que ia ser deslocado para a Fazenda Costa, perto de Maquela do Zombo e que iria ficar em Luanda mais oito dias sendo a data de partida prevista para 30 de Julho. No fim da carta desenhei um navio e um comboio malandro para a minha filha João, com uma pequena descrição terminando enviando-lhe beijos e mil outros para a minha outra filha, a Sandra. Entre as notícias e este findar desenhado, era um desfilar de coisas ridículas, pois uma carta de amor, como todas as cartas de amor, tem de ser ridículas… Mais à noite, no serviço telefónico agendado, teria a oportunidade de falar com todas elas, um bom bocado. Pensei, se à época houvesse as actuais comunicações o Império Colonial teria caído naquele dia, logo a seguir à chegada do homem à Lua…
11 Uma montra – Só no dia seguinte vagueei pela cidade. Apenas iria ter relação com a cidade, muitos meses depois e, destes dias, guardo apenas difusas recordações. Lembro-me de ter parado frente a uma montra de roupa de criança. Roupa europeia. Olhei atentamente à procura de peças que imaginei poderem-se ajustar ao corpo pequenino das minhas filhas. Estendi a mão abrindo-lhe um palmo e coloquei-a quase sobre o vidro. Fechei um dos olhos, como se estivesse a fazer pontaria, mas apenas tirava medidas, sobre uma saiazinha cor de rosa. Estava eu neste estar, passaram duas catorzinhas cafecos que gargalharam, comentando “Os furrié tens os maluco nos cabeça dére”. O Meu Contrário, aproveitou para troçar e repetiu "Furriel, essa pose indica que tens já uma cabeça que amalucou". Minha Alma, silenciada, só nas minhas filhas pensava. Tirando aquela loja, tenho a vaga ideia de que Luanda não me pareceu uma cidade militarmente ocupada, mas certamente que estava...
12 - Rumo a Maquela do Zombo - Dia 30 de Setembro. 6 horas da manhã, hora da partida da coluna militar incorporando camionetas civis, com a nossa carga e o abastecimento regular. Partimos e eu, com uma arma na mão, zombava: "Minha Alma, sabes tu onde apontar para melhor falhar?". Minha Alma não respondeu, tinha adormecido. Provavelmente terá respondido antes de adormecer, mas já a não ouvi. Ambos acordaríamos horas depois, quase a chegarmos a Maquela... Só Meu Contrário fez todo o itinerário em estado de alerta e, ele primeiro que os adormecidos, ficou com uma primeira impressão do que era a África profunda num cenário pintado de falsa paz, pois todo o percurso foi feito sem sinais de guerra...

CONTINUA NA PRÓXIMA 2ª FEIRA
NOTA: O texto a cor diferente, corresponde a um acréscimo motivado por um comentário oportuno

25 novembro, 2010

"Caminhos do Meu Navegar", a ler amanhã , 6ª feira...

... e a partir de amanhã, também às segundas e quartas feiras, passarei a publicar páginas do meu livro, onde os meus três personagens principais trarão para os tempos de hoje a memória explicada de como eles se foram inconformando ao longo de percursos que nos dão história. Acelero assim a marcha, respondendo a inúmeras solicitações. Para já, dou destaque ao comentário do querido amigo Carlos Albuquerque, não só pelas palavras de incentivo, mas fundamentalmente por ter andado pelos mesmos lugares, vivendo situações certamente semelhantes. Escreveu ele:

"Mas eu sabia, caro Rogério, eu sabia!
Sabia que os seus "Caminhos do Meu Navegar" nos haveriam de pôr a bordo,na barca das suas "viagens", levando-nos na aventura em que está a transformar-se a leitura do que escreve. Escrita a um tempo empolgante, crítica, mordaz e criativa, fugindo ao convencional, trazendo para o presente, quer o passado como o futuro! É inegável que Saramago o está a acompanhar. Escreve, portanto, na melhor companhia.
Espero, expectante, por Maquela do Zombo. Como já lhe disse estive na Buela, indo algumas vezes a Maquela do Zombo. Não sei qual foi o seu itinerário, o meu foi por aqui: Luanda/Caxito/Ambriz/Ambrizete/Tomboco/São Salvador/Cuimba/Buela. Daqui por vezes ia a Maquela, mas, quase sempre, descia até à ponte do Rio M'Bridge a socorrer tropas chegadas da "Metrópole", por regra ali emboscadas.

O meu trajecto faz parte dos pesadelos. Quando deles acordamos fica-nos a estranha sensação de um sonho mau que a memória, defensivamente, esquece. Eu não me lembro de grande parte da viagem de Luanda a Maquela do Zombo. Falarei daquela que a memória ainda regista.

Até amanhã

Os que fizeram greve

Imagens da greve (retiradas daqui)

Palavras de um hipotético grevista

Parei aeroportos, aviões, portos, navios, embarcações, comboios e autocarros. O país deixou de fazer carros e baixou considerávelmente o fabrico de componentes. Deixei de tratar doentes, atrasei a redução de contas bancárias e parei escolas. Mas não parei a educação. Os meninos do meu país souberam a força que eu tenho e eu próprio o aprendi. Nem todos o fizeram e muita actividade sobrou na cidade? Sim, claro! Mas essa fraqueza é a maior debilidade da nossa economia. Sabia? As muitos pequenas empresas são mais de 250 mil e patrão não faz greve contra si mesmo (embora por vezes tal fosse conveniente, para um país mais decente). O comércio emprega sem direitos nem preceitos. Até pode dizer (e diz): "se não vieres trabalhar amanhã, escusas de aparecer mais". Não há vínculos contratuais.

Greve. Que ganho eu com isso? Talvez o reconhecimento de que o país sou eu e eu sou este país, pois quem vive à custa do meu trabalho parece estar a mais. Talvez comigo resolvam falar, discutindo o meu futuro e, se ele tem que ser duro, que o seja igualmente para toda a gente... A greve foi bem sucedida? Não sei ainda, mas fiquei com esta lição aprendida. Tenho força e devo usá-la. Usá-la-ei até que esta politica seja mudada. Já pouco tenho a perder, ou quase nada!

24 novembro, 2010

Os que não fizeram greve

Imagens da Greve Geral (retiradas daqui)


Fala de um hipotético não grevista:

Estamos no porão de um Vera Cruz, submissos perante um destino negro sem ar, sem espaço, sem luz queixando-nos sem agir, por ter medo ou por ignorância e falta de sentido da nossa gravidade (*), aquela que, em algumas circunstâncias, nos leva à superação ou à revolta

(*) A escritora Lídia Jorge disse (cito de cor) em sessão realizada na véspera da Greve Geral, que o povo português se afirma com um comportamento grave perante outros contextos, dando como exemplo a situação do imigrante que se assume com enorme gravidade quando confrontado com a adversidade de encarar e sobreviver noutras sociedades. Quando regressa, perde essa gravidade com que encarava a vida.

... mas podem falar com o piquete de greve

Para quem não sabe o que se está a passar, o vídeo pode explicar:

Veja o video em formato expandido

23 novembro, 2010

Greve Geral

Amanhã há greve. Greve Geral. Será certamente algo a assinalar... Alguns artistas solidarizaram-se com a Greve e a canção ainda é uma arma!

Entretanto, mesmo antes de acontecer, a Greve já produz efeitos. Reproduzo aqui o post editado no "Ladrão de Bicicletas", com texto de Nuno Teles:

"Assistir hoje ao "Prós e Contras" na RTP e ouvir Carvalho da Silva, João Proença, José Reis, José Silva Peneda e Garcia Pereira foi uma lufada de ar fresco no debate público em torno da crise. Uma discussão inédita na TV nacional sobre as origens da crise, os diferentes fardos da crise entre o trabalho e capital, o caminho para o desastre com as actuais medidas "austeritárias" e as saídas para a crise através do crescimento económico e da necessária refundação europeia. A luta social consegue as suas primeiras vitórias, abrindo brechas no pensamento único."

Ver aqui propostas cuja discussão poderá ser imposta pela Greve Geral.

22 novembro, 2010

Não posso faltar



Lídia Jorge no Café com Letras
[ debate ]
23 Novembro 2010, 21h30
Biblioteca Municipal de Oeiras


Uma noite a não perder onde terá a oportunidade de ouvir e dialogar com a mulher e a escritora.
Contactos: Tel. 21.440.63.36

Prémio "Blog de Ouro", vejamos porquê...

A Manuela, mulher dessas coisas da educação, atribuiu-me um galardão. Está lá no seu sítio, que reclama ser "Mais que uma geografia de lugares, uma geografia de sentimentos...". Fui tentar saber o porquê de tal distinção. Para que percebam, a coisa terá resultado deste diálogo:

Manuela - "É com admiração que constato como já perfiz 150 seguidores, mas mais do que isso, alegram-me as amizades virtuais que aqui se têm cimentado e que dentro em breve passarão algumas delas, a reais. Um bem-haja a todos, por me fazerem mais feliz. As rosas que vos ofereço, são as que vejo da minha janela, enquanto vos escrevo."
Eu respondi, àquele post de flores decorado, comentando assim:

Era para lá ir
colher a rosa que me tocava,
a que me deu
Não a colhi
deixei-a lá
a olhar para si
É a mais bela
das que vê
da sua janela
(que ninguém a colha
pois é minha,
tenho-a marcada
apenas com a ternura,
sem mais nada...)

Pronto! Parece estar explicada a razão de ter sido agraciado. Só que entendo tal prémio como prémio de comentador.

Alias, empenho-me em ler cuidadosamente e depois deixar coisas escritas, por vezes entendidas por esquisitas. Por exemplo: certa bloguista um dia enviou-me um mail não exaltado, mas bem amargurado, não percebendo a razão porque lhe deixara um poema em contradição. Respondi-lhe que é com grande prazer falo com POETAS mesmo dizendo o que não gostariam de ouvir. As minhas réplicas quase sempre confundem, causam perplexidades do tipo: "o que é que este gajo quer dizer?" ou então: "estes caras não tem mais que fazer?..." Mas expliquei que quando leio um poema forte, encaro-o como uma força da natureza. Para mim é "um tremor da Terra" e, por isso merece réplicas, que como se sabe, são sempre de intensidade e duração mais fracas. Faço réplicas, quando me fazem estremecer. Faço réplicas a poetas e a "turistas" da vida...

É esta maneira de estar que a Manuela, ao que parece, resolveu premiar... Devo acrescentar que existem situações que me calam. Por exemplo: o "meu pássaro azul" editou hoje isto e eu não consegui comentar (ver "só te peço 5 minutos")

21 novembro, 2010

Homilias dominicais (citando Saramago) - 16

A morte juntou dois homens na mesma data, 20 de Novembro. Não importa se teriam mais alguma coisa de comum para além de "pequenas coisas" que guardo deles como referenciais de vida e de valores. Trago para os lembrar, palavras deixadas por outros, não sabendo se esses outros lhes tinham mais ou menos afecto que aquele que eu lhes dedicava...

Sobre o primeiro, velho militante comunista, escreveu ontem Ana Paula Fitas: "Joaquim Gomes foi um combatente antifascista que protagonizou, com Álvaro Cunhal, a célebre fuga de Peniche, esse tétrico forte da tortura a que Cunhal chamou "estrela de seis pontas". Firme e determinado na dedicação coerente a uma vida dedicada à luta pela Liberdade, Joaquim Gomes faleceu hoje, aos 93 anos de idade (ler Aqui)... e, nos dias que correm, fazem falta os bons exemplos da lucidez e da dignidade. Para que não esqueça"
Sobre o segundo, Pedro Beça Múrias, de 47 anos,escreveu Luís Naves: "Não era alguém que fingisse a generosidade, mas que a exercia como quem ouve uma boa história. Noutro país qualquer, o Pedro teria sido um daqueles jornalistas imprescindíveis. Aqui, o seu talento foi desperdiçado, talvez por causa do espírito independente, que os poderosos em portugal consideram ser defeito, mas que me parece ser uma qualidade."

É sobre a morte a :


HOMILIA DE HOJE

"Não creio que venhamos a saber alguma coisa da morte que tenha alguma utilidade para os vivos. Porque, mesmo que soubéssemos tudo a respeito dela, o simples fato de estarmos vivos nos impede de aprender algo que tenha que ver com a morte. Seria necessário uma demonstração racional sobre o que nos acontece. Não o que nos acontece na morte, o que nos acontece depois da morte.
Tenho isso, enfim, bastante claro. Desapareceu a matéria e com ela desapareceu tudo aquilo que, durante um tempo e consensualmente, achamos que não é matéria --que chamamos de espírito, alma ou coisa que o valha.
Às vezes pessoas vivem como uma espécie de enamoramento da morte. Levam a vida toda como que namorando a morte. Eu não pertenço a esse grupo."

José Saramago, em entrevista ao jornal "Folha de S. Paulo"

19 novembro, 2010

Caminhos do Meu Navegar (2)

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Cap I - Destino Angola

Navegar, navegar até alunar (continuação)
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4 – Senhora do Mar - A amurada do Vera Cruz era o meu lugar de eleição. Desde a saída da barra do Tejo, ficava ali. Perdia tempos incontrolados olhando o mar. Denso, forte, profundo, azul, feito de caminhos e horizontes. Por ser assim, só uma alma o poderia domar. Alma Lusa? Foi, em tempos. Não, não sabia quem mandava no mar, mas seria mulher com certeza. Sim, uma mulher. A Senhora do Mar, sua amante e mãe de todos os nossos destinos, mesmo dos inúteis e dos adiados (que ainda hoje espero que se cumpram).
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5. O pior dia da viagem - Saí da amurada e enquanto ia andado pensava que os dias tinham corrido depressa. Dirigi-me à minha ocupação voluntária e ao desejado reencontro com a Rita. Cheguei ao posto médico que estava cheio de soldados nesse quarto dia do meu navegar. Soube então que nas últimas horas tinham quintuplicado os enjoos e apareceram os desarranjos intestinais dos mais sensíveis. À aproximação do Golfo da Guiné, ventos e altas vagas pareciam enraivecidos, mais pela missão dos homens do que pela rota do navio, segundo me elucidou a Senhora do Mar, que sem saber como me acompanhara sem ser sentida nem vista. A comida a bordo tinha-se sofisticado de molhos e temperos, para esconder a já pouca frescura dos géneros ou o mau funcionamento de uma ou outra câmara frigorífica. Os cabos enfermeiros esforçavam-se para atender a todos e eram muitos os que seguravam a barriga como se, com esse gesto, pudessem suster fezes e gases nuns intestinos tão alterados quanto o mar. A cena até poderia ser cómica, com dezenas de militares parecendo “charlôs” em dança bamboleante ao ritmo das ondas de mar alto, se não fossem as feições de esgar e agonia, postadas naqueles rostos preocupados em procurar equilibrar corpos e almas. Quase tudo se esfumou quando a Rita apareceu, mesmo sem ter sido chamada. Olhares de espanto pelo aparecimento de uma mulher a bordo. Sorrisos apareceram, embora amarelos e mal esboçados, inundado todas as faces. Tentaram recompor-se o mais que podiam, mas não podiam muito. A Rita, percebera que seu aparecimento fazia parte da cura e para todos sorriu dizendo, em voz que não lhe esperava “Eh, pessoal força ai que isso já passa!” e passou. Não foi logo, logo, mas passou, quando o navio entrou então no Golfo. O resto da viagem seria de grande calmaria pois a Senhora dos Mares tinha desistido de por tino na cabeça dos homens. Talvez por perceber que aquele navegar era obrigado, por decisores que ficaram em terra firme…

6 – As frustrações de Rita (*) – A azáfama de tratamento a tão malcheirosa e contorcida clientela tinha envolvido todos, designadamente a Rita. Enquanto ela distribuía cuidados e sorrisos eu ia dizendo uma ou outra graçola amenizando o ambiente pintando com algum humor o ar empestado, o que até caia bem. Talvez por isso a Rita passou a dedicar-me mais atenção. A Minha Alma guiava todos os meus gestos e palavras mantendo a Rita em apertada vigilância, coisa que Eu e o Meu Contrário também fazíamos mais discretamente. Quando tudo ficou mais calmo, lisonjeei a Rita: “Você aparece e zás, vai-se embora a maleita, quase sem receita”. A Rita, deu uma gargalhada pela piada rimada “Pois é furriel, quase só sirvo para isso…”. Aquela resposta, intrigando-me, fez assunto para horas de conversa. A Rita contou como fora aliciada para os pára-quedistas, suas perspectivas de heroína e sacerdócio, sonhos de anjo salvador em teatro de guerra. Contou como depois tudo foi diferente: hierarquias militares de comportamento mulherengo e ordinário; soldados respeitosos mas de má educação contida; operações de faz de conta pois os comandos militares sempre recearam que a sua presença poder espevitar o inimigo. Como militar era uma mulher de movimentos limitados. Nas evacuações de feridos nem a deixavam sair do helicóptero, com tais receios. As mulheres na guerra colonial eram assim como que um “Movimento Nacional Feminino” fardado, integrado em unidades que ficavam pelas cidades e sedes de batalhão convivendo com as famílias dos oficiais mobilizados. Nunca a interrompi escutando atentamente. Enquanto a Rita falava, a Minha Alma acariciava-lhe o rosto delicado e firme e de pele muito morena, certamente de moura algarvia ou do meu Alentejo. A atenção dada às palavras não impedia que Minha Alma, despercebidamente, lhe percorresse o corpo enfarpelado nas vestes de pára-quedista adivinhando-lhe contornos femininos bem delicados. Num dado momento senti que a voz da Rita se comoveu por entrar em confissões até para si própria inesperadas. Pegou-me na mão e pediu que a acompanhasse. Hesitei e Minha Alma segredou-me “vai, ela precisa de ti. Está muito fragilizada”. O meu contrário pensava o mesmo e eu deixei-me conduzir. Percorremos a curta distância entre o posto médico e o camarote dela. “Entra” e eu entrei. “Fica à vontade”, disse. Eu limitei-me a tirar as mãos dos bolsos, sem depois saber o que lhes fazer. Minha Alma repetiu-me “cuidado Rogério, ela está fragilizada”. O Meu Contrário, sempre consciencioso, surpreendia-me com palavras ofensivas “és um tosco, um atado…”. Percebendo-me melhor a mim que eu a ela foi dizendo: “Estou recomposta, fica mais um pouco e depois sai e não voltes mais. Acabas de dar um contributo valioso para a minha má reputação”. Depois de uma breve pausa, explicou-se “quando apresentar a demissão aceitá-la-ão sem reservas e a má fama não importa nada… ”. Fiquei uns minutos, folheando o livro que ela tinha aberto sobre a cama e depois alguns discos, cujas capas reconheci. Cantares clandestinos reclamando outros destinos. Saí sem dizer palavra, fazendo-lhe com os lábios um gesto de beijar e em troca deu-me um sorriso. Cá fora, olhares maliciosos comentavam o que não tinha acontecido. Não desfiz o equívoco e apressei o passo. Minha Alma ia radiante pois eu tinha ajudado a Rita a fazer retorno de um caminho mal escolhido…

7 – O gado seria melhor instalado - Dividindo o tempo entre a amurada e o posto médico e com o mar muito calmo, o tempo passava rápido e o calor intenso e abafado adivinhava a proximidade do fim desta viagem. Fumava um cigarro quando o cabo Quintas se aproximou. Vinha sem a Sua Alma e totalmente tomado pelo Seu Contrário. “Pois é!” disse. “Pois é, o quê?”. “Vocês têm todas as regalias a bordo, circulam por onde querem, tem salas de jogos e eu, se estou aqui, até posso levar uma “porrada”. Quer ver as condições em que nos trazem?”. “Vamos lá” disse acompanhando-o atrás. Descemos três lances de escadaria. O ar ia escasseando à medida que um cheiro nauseabundo e indescritível se intensificava. Dei mais uns passos e entrei por uma porta baixa, meio inclinado atrás do Quintas. “Veja só”. Vi para não mais esquecer. Beliches construídos em paus de pinho, com pouco mais três palmos entre cada cama e a superior. A má iluminação de toda aquela área do porão não deixava ver a última fiada de camas. O cheiro de corpos mal lavados misturado com o que me parecia serem cheiros de restos de comida estavam ampliados pela falta de ventilação e pela avaria dos ozonizadores. Eu não disse nada, apenas se fez claro como é que um navio com capacidade para mil passageiros, transportava três mil militares. Meu Contrário comentou tão baixo que nem o Quintas ouviu: ”Com estas condições se tivesse que haver revolta, ela já teria acontecido”. Minha Alma não comentou, acho que nessa altura chorou…

8 – A alunagem – Dia 20 de Julho seria um dia histórico para a humanidade, mas também para a desumanidade. Eu e o Meu Contrário não conseguem lembrar todos os pormenores desse dia. Mas a Minha Alma tem memória selectiva e recorda todos os momentos sensíveis da aproximação a Luanda, capital da Província Ultramarina de Angola. A manhã estava particularmente agradável e ia aquecendo intensamente com o passar das horas. Fora convidado para jantar na messe dos oficiais tripulantes. Não referi antes, mas a partir do terceiro dia deixei de tomar as refeições principais no refeitório de sargentos e passeia-as a ter na companhia do oficial, que tinha a seu cargo a casa das máquinas do navio Vera Cruz. Era um bom amigo, vizinho e visita cerimoniosa de meus sogros insistiu para me dar do melhor quer em comida quer em conversas que se prolongavam sempre que a actividade de bordo o permitia. À hora da janta lá estava. O menu, fora escolhido por mim “Sopa do Fogo”(**) regada por bom vinho. O jantar foi animado e todos seguíamos as notícia do rádio que começou a reportar a alunagem seriam 8 horas da noite até que o feito era assinalado horas depois e já cerca das 3h da manhã com palavras de Neil Armstrong: “Este é um pequeno passo para o Homem. mas um grande salto para a Humanidade”. Irónica, a Minha Alma dizia-me ao ouvido. “Mais logo, com este desembarque, a humanidade dará mais um passo atrás!” Irónico eu também, pensava brincando com as palavras: “Se a Lua anda, se calhar Luanda não estará lá para este alunar…”. O Meu Contrário, se conhecesse Saramago teria feito um trocadilho com uma sua reflexão: “Chega-se mais facilmente a Marte do que ao nosso próprio semelhante”. Poucas horas depois pisava terras da Lua Anda. Chegara não ao fim mas ao inicio de outro caminhar, sem pensar que se teria ou não regresso…

Próximo subcapitulo: Zombando, rumo a Maquela do Zombo
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NOTAS DO AUTOR

(*) O texto "As frustrações de Rita" reproduz o testemunho de uma paraquedista que na realidade conheci a bordo. Procurei-a, pelo seu verdadeiro nome porque, por vezes, é fácil reencontros na web. Não vi qualquer mensão ou foto. Sobre a veracidade de algumas das suas declarações, encontrei neste documento e também neste, afirmações muito próximas e que, no essencial, comprovam as suas frustrações.
(**) "Sopa do Fogo" é uma espécie de sopa rica de couves, carnes e enchidos cozinhados no vapor das caldeiras do navio e que frequentemente serve de refeição ao pessoal de turno na "casa das máquinas" do navio.

18 novembro, 2010

"Caminhos do Meu Navegar", a ler amanhã

Amanhã continuarei a editar a continuação do meu primeiro capitulo, e assim acontecerá por enquanto, às 6ªs feiras. Para o pouco já publicado, são para mim relevantes as opiniões que vou colhendo. De entre os muitos comentários, mails e até telefonemas de incentivo, um me tocou particularmente. A sua autora, a Barbara, criou uma personagem para o meu "Caminhar..." e deu-me disso conta, assim:

"Estou junto a si. Não exactamente no barco. Nem no mar nem na terra. Em parte alguma visível. Pois está claro prá mim, que nas entrelinhas do teu romance - há uma história bem mais profunda e sem pátria, sem porto e sem data. É essa relação fantástica entre você e o seu contrário. A alma, com certeza modestamente co-autora. Ela é a tua deusa da guerra - de todas as guerras. Com muitos nomes. Eis aqui o Rogério, navegante em todos os sentidos. Com uma rosa dos ventos tatuada. Ao mar - que o mar tem dona.
obs: a tónica dos meus comentários será esta - a desafiar-te a mando da dona do mar."

Apropriei-me da dona do mar. Apenas lhe introduzo uma pequena alteração: não será "dona", será "senhora". "Senhora do Mar". A banda sonora foi feita à medida da minha vida, quando navegava em águas negras:


Volto ao tema do "bullying": como formar gente agressiva, em 10 lições

O facto de o meu post de ontem ter merecido comentários interessantes, nomeadamente a reconhecer a complexidade do tema, cá vai mais um texto, sem repetir tudo o que, em Março, escrevi sobre este assunto:
COMO FORMAR GENTE AGRESSIVA E VIOLENTA

1. Comece, desde a infância, dando ao seu filho tudo o que ele pede. Assim crescerá convencido de que o mundo inteiro lhe pertence.
2. Não lhe dê qualquer educação moral. Espere que chegue à maioridade para que possa decidir livremente.
3. Quando disser palavrões, ria-se. Isto o animará a fazer coisas ainda mais "graciosas".
4. Não o contrarie nunca, nem lhe diga que está mal algo que faça. Poderia criar-lhe um complexo de culpa.
5. Arrume tudo o que ele deixa espalhado: livros, sapatos, roupa, brinquedos. Assim se acostumará a atirar a responsabilidade para os outros.
6. Deixe-o ler tudo o que lhe caia nas mãos e ver todos os programas de televisão e navegar na net sem fazer a minha ideia por onde "viaja". Cuide de que os seus utensílios - pratos, talheres....- estão bem esterilizados. Porém, deixe que a sua mente se carregue de lixo. Assim aprenderá a considerar valioso o que só é porcaria.
7. Discuta e critique o seu par em sua presença. Assim, não ficará surpreendido nem sofrerá demasiado quando a sua família ficar para sempre destroçada.
8. Dê-lhe todo o dinheiro que quiser gastar, não vá ele suspeitar que para dispor de dinheiro é necessário esforçar-se e trabalhar.
9. Satisfaça todos os seus desejos, apetites, comodidades e prazeres. O sacrifico e a austeridade poderiam produzir frustrações.
10. Ponha-se ao seu lado em qualquer conflito que tenha com os seus professores, vizinhos e amigos. Pense que todos eles têm preconceitos contra o seu filho e que de verdade querem aborrecê-lo.
(Retirado daqui)

NOTA: Não está provado que daqui saia um vândalo, pode-se dar o caso de se estar a produzir uma figura pública de grande relevância nacional, na área dos negócios ou outra...

16 novembro, 2010

Bullying, apenas uma expressão de uma questão muito mais vasta...

Num excelente post "Bullying: quando o agressor é o seu filho", Elaine Gaspareto, do blogue "Um pouco de mim" convida os seus leitores a uma reflexão sobre o assunto. Pego no tema, porque me é querido. A ele dediquei vários posts, que editei em Março, quando ainda tinha dado os meus primeiros passos nesta actividade de escrever para outros lerem e comentarem, fazendo amigos e, visitando-os, retribuir-lhes afectos, "réplicas" e rimas bem ou mal alinhavadas. Podem, se quiserem, consultar esse material que está entre cerca de 30 posts, que estão no meu baú aí ao lado, com a etiqueta "Educação e Jovens". São 6 posts com a designação "Incapacidade Educativa", seguidos de mais 4: "Propostas para melhorar a incapacidade educativa". Se acharem mais prático, procurem as postagens no mês de Março, entre os dias 13 e 22. Para resposta à Elaine, escrevi um texto simples. Relata um acontecimento recente...

Diogo, meu neto, tem 15 meses. Todos os dias tem coisas novas para nos dar. São manifestações que resultam em grande parte do processo de aprendizagem e que se baseia na imitação. Imita-nos nas pequenas palavras (sem que consiga dizer uma só, acertadamente). Imita-nos sobretudo nos pequenos gestos e, por nos observar, já faz recadinhos: vai buscar a chucha, põe as fraldas no lixo, faz zapping com o comando de televisão, varre o chão como a avó e imita nossas gargalhadas. Um dia da semana passada, sem que tal esperasse, deu-me um bofetão e fez cara de zangado. De pronto, teatralizei um choro para uma dor que não tive. Teatro sério de impressionar plateias adultas. Diogo, ficou desorientado pelo "inesperado" resultado da sua "experiência" como "violento agressor". Olhou-me sério e espantado e, logo a seguir, correu disparado direito a um dos seus brinquedos. Pegou-lhe e veio direito a mim, dizendo "dá" estendendo-me já não me lembro o quê, com todo o ar de me compensar, distrair, mostrar-me o seu carinho ou talvez outra coisa qualquer que me fizesse esquecer o incidente...
Pensei que tive um procedimento impensadamente feliz e adequado. Só voltará a bater se não se importar em causar dor a alguém. Se lhe tivesse batido, ainda que simuladamente, teria colocado a situação no campo de "o mais forte é que vence". Se lhe tivesse ralhado, teria dado o flanco quanto a uma fraqueza vulgar no adulto em se irritar com um comportamento que, para uma criança tão pequena, é um inocente gesto de imitação... Aparentemente, esta história não tem a ver com o tema proposto. Também, aparentemente, o vídeo que se segue não tem a ver com o bullyng. Mas se um caso e outro, que vão ver, não tem a ver com a violência, então não sei se tenho coisas importantes a dizer... Talvez Deus faça uns bonzinhos e outros maus, para uns baterem nos outros e Ele se entreter com o espectáculo da agressão...

Saramago: Cadeia de leitura em 83 cidades assinala, hoje, o 88.º aniversário de nascimento do escritor

Uma cadeia de leitura assinala, hoje, o 88.º aniversário de nascimento de José Saramago, numa homenagem do Instituto Camões ao "grande génio" e Nobel da Literatura que morreu a 18 de Junho de 2010.
Oitenta e três é o total das iniciativas a promover pelo Instituto Camões em 26 cidades dos quatro continentes: África, América, Europa e Ásia, segundo o programa a que a Lusa teve acesso.(ver noticia aqui)
A ariel, no seu blogue "cirandando", dá noticia de outras iniciativas, nomeadamente a inauguração na Biblioteca Municipal Palácio Galveias da sala José Saramago e reproduz dois vídeos a não perder.
Também a Teresa, do "ematejoca azul", não esqueceu esta data, dando destaque carinhoso ao significado que Saramago atribuía àquela biblioteca municipal, juntando também um vídeo repleto de afecto
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Já depois de ter editado o texto acima, outros amigos escolheram o dia para trazer também o tema. Acrescento-os aqui, para memória documental e dos afectos:

15 novembro, 2010

14 novembro, 2010

Homilias dominicais (citando Saramago) - 15

Foram os seus caminhos que inspiraram estes outros, meus,
por onde vou navegando à procura de quem somos

A dialética é um instrumento poderoso e, talvez por isso nos tempos que vão correndo, ausente e quase clandestino como método do entendimento do mundo. Assumi essa ferramenta como metodologia de reflexão. Tese, antítese e síntese assumem a forma de partes de mim em diálogo constante. Mas não só. Encararei, do mesmo modo, que qualquer pessoa e um qualquer colectivo também estarão repartidos entre aquilo que pretendem, aquilo que contraria tal pretensão e, por último, por aquilo que determina o ser, o fazer, o estar, o sentir... (e que, por facilidade de expressão, designo por alma). Tudo isto para desvendar o que seja essa coisa "estranha, rara e misteriosa que é um sentimento". Sentimento das pessoas e dos povos.

HOMILIA DOMINICAL

"Se olharmos as coisas de perto, na melhor das hipóteses chegaremos à conclusão de que as palavras tentam dizer o que pensámos ou sentimos, mas há motivos para suspeitar que, por muito que procurem, não chegarão nunca a enunciar essa coisa estranha, rara e misteriosa que é um sentimento."

José Saramago, in Novos Cadernos de Saramago

Julgo que Saramago não queria afirmar uma impossibilidade mas sim lançar um desafio para que se procurem as palavras adequadas. Aceitei-o escrevendo "Caminhos do Meu Navegar"

O sorriso da Rita

Não sei se leu, mas escrevi no meu livro: "...lançando-me um sorriso. O sorriso tinha luz e calor de enternecer". Se fosse a Minha Alma a primeira a comentar o sorriso da Rita, ela teria plagiado um autor amado:

Creio que foi o sorriso,
sorriso foi quem abriu a porta.

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Era um sorriso com muita luz
lá dentro, apetecia
entrar nele, tirar a roupa, ficar
nu dentro daquele sorriso.
--
Correr, navegar, morrer naquele sorriso

12 novembro, 2010

"Caminhos do Meu Navegar" Cap I - Destino Angola

pág. anterior



Cap
I - Destino Angola


Navegar, navegar até alunar



1. O apaziguamento – 12 de Julho de 1969. Manhã estranhamente calma, dado o acontecimento da minha forçada partida para terras agitadas. Mas como tudo tem uma explicação, a serenidade sentida também a tinha. De há muito a guerra aberta entre mim e o Meu Contrário, nome que convencionei chamar ao meu outro eu, tinha reduzido a sua intensidade. Venci-o com a minha decisão em ir, aceitando a imposição que empurrava para a guerra várias gerações e a minha. O Meu Contrário argumentava, com palavras pesadas e sólidas dizendo-me incoerente, que eram já muitos os desertores, que eu sempre condenara a guerra e a politica colonial, lembrando a minha admiração pelo acto do poeta desertor. Lembrava até os meus momentos na “Casa dos Estudantes do Império” e do entusiasmo com que falava dos momentos que lá passava. Resisti, contra-argumentado coisas várias. Ser casado, ter duas filhas e as consequências familiares do estatuto de desertor, mais ainda do que o ser. Irado, o Meu Contrário desfilava adjectivos sendo o de incoerente mais por mim sentido que o de covarde ou vendido. Calar-lhe-ia a boca um argumento final: “E se a sublevação das forças armadas for uma hipótese, quem está cá para a suportar e fazer vingar?” questionei. O Meu Contrário calou-se e não voltou a falar no assunto. A minha consciência ficou de bem comigo. Em toda esta discussão Minha Alma abdicou do seu papel moderador entre mim e a razão. Acho que se ela se tivesse pronunciado eu teria desertado…

2. A despedida – O cais fervilhava. No rio, o paquete Vera Cruz começou a agitar mansamente as águas, logo após o desfile militar e a fanfarra ter terminado a marcha que tocara com estridentes clarins, bombos e caixas. Milhares de vozes poderiam ser confundidas com o bulício das praças, não fossem audíveis, como eram, os soluços e choros antecipando a despedida. Eu tinha sido dispensado de tais cerimónias, por pertencer aos Serviços de Saúde e aguardava a permissão da entrada das famílias dos oficiais e sargentos, no edifício central da estação marítima da Rocha Conde de Óbidos, cenário da despedida. Aos soldados, por razões logísticas, eram apenas permitido o acesso às mulheres, dos que fossem casados. Vi a Teresa e ela viu-me. Acenei e ela respondeu ao aceno, para confirmar a localização. Pouco tempo depois a Policia Militar franqueou o acesso. Teríamos corrido um para o outro se fosse o regresso, mas como nem sequer tínhamos partido a aproximação foi lenta, vagarosa. Nesses curtos instantes pensei que aquilo não podia acontecer assim. Uma vez juntos, falámos coisas que já tínhamos dito, até que eu, resoluto lhe disse, sem lhe procurar os seus olhos : “Espera um pouco, já venho”. Virei-lhe as costas e não regressei. Desci as escadas pelo outro lado e embarquei. Dentro do Vera Cruz ouvia os choros aumentar. Vozes de mulheres, mães gritando coisas saídas do ventre. A Minha Alma, essa, mantinha-se estranhamente calma mas sussurrou-me em ar de censura: “Rogério, a tua Teresa não merecia isto”. Mas, ao perceber o meu desespero, generalizou “Ninguém merecia isto…”. Pouco depois o Vera Cruz, com todos os militares embarcados, levantou ferro. Tudo se tinha passado em menos de hora e meio, dado que a experiência acumulada na organização destes embarques. No cais milhares de lenços esvoaçavam e, por ironia, pareciam pombas brancas, símbolo da paz que só o coração parecia requerer. Como resposta a esse aceno, do lado da embarcação, milhares de boinas militares eram agitadas no ar. Percebi que era isso que acontecia, pois não vi. Estava no meu camarote e aí permaneci até sair a barra do Tejo. Comigo o Meu Contrário, solidário e a Minha Alma, que permaneceu sempre em estranha calma...

3. Coisas que só as almas pensam - As primeiras horas de viagem foram passadas na amurada. E as seguintes também. Olhava o mar e o rasto deste meu navegar. A Minha Alma divagava: "...e se teu corpo em protesto caísse ao mar? E se esse acto provocasse reacção de revolta? E se todas estas tropas impusessem o regresso?". Nem eu, nem o azul do céu, nem mesmo o mar, lhe respondeu...
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4. A escala e a Rita – No terceiro dia, numa das minha deambulações pelo navio, que tinha na década de 50 sido um dos mais luxuosos paquetes europeus e seguramente o maior de Portugal, dei-me conta da austeridade da decoração e degradação causada pelo transporte de tropas. Foi num desses passeios que fui dar, sem querer, ao posto médico. À entrada, bem visível figurava a escala. Li e estremeci. Meu número e nome figurava em segundo lugar, significando que tinha estado de serviço no segundo dia de viagem e estava já no terceiro. Tinha-me passado completamente a obrigação de comparecer logo nas primeiras horas de viagem para ser informado dos meus turnos de enfermagem. Entrei no posto e procurei o alferes médico a quem lamentei a minha falta. O alferes não tugiu nem mugiu, limitando-se a dizer: “Faltaram todos até tu chegares. Mas ainda bem que apareceste. Veste a bata e ajuda aí a arrumar esta tralha”. Vesti a bata branca sem transferir a divisas para essa nova indumentaria, pois era sempre pouco cuidadoso nesses pormenores de atavio. Arrumei caixas de medicamentos durante um tempo e enquanto o fazia tomei a resolução de me deixar ficar por ali, independentemente de estar ou não na escala. Desse modo não só ocuparia o tempo como aprenderia a lidar com situações de emergência médica e a ganhar alguma prática e a necessária confiança. Dei uma olhadela ao registo de atendimento. Apenas sete nomes, registando: Feridas contusas e pensos, enjoos, alguns antiansioliticos e um único caso com diagnóstico mais reservado, embora o ponto de interrogação quisesse significar não definitivo. Ao lado, anotado, lia-se “volta amanhã”, o que deveria acontecer hoje. Preparava-me para fazer, não me lembro exactamente o quê, quando a porta, de batente, se abriu. "Olá doutor". Quem assim falou, olhou para mim e sorriu. Julgo que o médico respondeu. Mas eu fiquei sem ouvir mais nada. Minha Alma ficou com aquele olá a balancear-lhe nos meus ouvidos, com intensidade maior que o balancear do navio. "Olá" repetiu a voz na minha direcção e lançando-me um sorriso. O sorriso tinha luz e calor de enternecer. Ouvi-a então dizer, antes de desaparecer: "doutor se precisar de mim já sabe, mande um cabo chamar-me". "Está bem Rita, se for necessário chamo..." e virando-se para mim esclareceu "a Rita é uma enfermeira paraquedista que vai cumprir a sua 3ª comissão. No barco vão umas poucas. Não sei como mulheres bonitas aceitam esta vida de voluntárias na guerra...". Eu não comentei e a Minha Alma lá foi dizendo: "que lindo olhar...". O Meu Contrário, avisou: "Rogério, vê se tens juízo..."
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Nota: Em breve darei indicações sobre a forma de participar no meu texto.
Até lá, recorram à imaginação usando o espaço dos comentários

11 novembro, 2010

S. Martinho baralhou-se porque lhe baralhei a lenda...

Conta outra lenda
(que agora mesmo inventei)
que foi neste dia feita rica oferenda,
a Baco, Deus verdadeiro.
(como verdadeiros são todos os deuses)
A oferenda reunia um vinho divinal
e um cesto de bela , doce e quente fruta.
Tomou o gosto ao vinho
e procurou, procurou, procurou...
Não encontrou,
no meio de tanta fruta,
que desgraça tamanha,
nem um única castanha!
Ia morrendo de raiva, de ira, de susto!
E por ter tão fraco magusto
decretou que ninguem mais nesta data
bebesse vinho, nem bom nem mau,
nem sequer surrapa.
Seus súbditos e outros seguidores da fé
tementes a Baco, inventaram bebida estranha
que dá pelo nome: "Água-pé"


Imagem de Baco, tirada daqui
(Claro que tudo isto é treta,
depois da jeropiga já nem sei o que diga...)

10 novembro, 2010

A consciência do tempo

Nunca utilizo palavras minhas sempre que descubro alguém que dizendo o mesmo que eu quero dizer o faz bem melhor do que eu. Por isso transcrevo partes do que o BB escreveu hoje na sua coluna de opinião, no Diário de Noticias:

"Há semanas que temos vindo a ser submetidos a um processo de intimidação mental e de asfixia social, que largamente ultrapassa os limites do suportável. O fantasma é o FMI, intermitente como todos os fantasmas, a ameaçar-nos de medos maiores do que os medos habituais no viver português (...) O bispo defendeu o espírito de entreajuda (...) São paliativos que nada solucionam e apenas evocam um conceito de caridadezinha, amiúde execrável. A Igreja tem de ser compelida, e até arrastada, pelo movimento das ideias, a encorajar o protesto generalizado e a indignação colectiva. Não deve quedar-se, através de murmúrios compassivos, pela solidariedade inócua com o sofrimento. O essencial está em causa. A boa vontade não chega. É outra expressão do quietismo, a forma mais sórdida de cumplicidade, e outro modo de disciplina férrea, com que as classes dominantes impõem as suas leis e regras. Reformar quê? Quando, na realidade, estamos a falar do demoníaco, contido numa ideologia que introduziu, como modelo de sociedade, a resignação e o aviltamento progressivo da condição humana. O campo da nossa batalha não é a procura do eterno: é a consciência do nosso tempo."

09 novembro, 2010

Chico Buarque premiado, dando-me conselhos, lendo-me um bocado...

Dos quatro livros que Chico Buarque escreveu, dois recomendo eu. O último, o agora premiado, deu para ele conceder uma entrevista onde tenho coisas a aprender, como aprendiz de escritor com ambição. Acho até que nesta passagem ele me estaria a dar conselhos. Passo essa parte:

Escreveu este romance sequencialmente? Quando se sentou para escrever o livro começou do princípio ao fim?

Sim. Já tinha algumas coisas esboçadas aqui e ali. Pouca coisa. Quando eu julguei que tinha o livro, que tinha história boa, a história que me interessava à mão, comecei a escrever do princípio e fui até ao fim. Evidentemente, uma outra vez, mas pouco, retornei a trechos anteriores por causa de acontecimentos que sucediam ali adiante. Fui obrigado a retocar algumas coisas mas isso foi muito pouco. Na verdade, ele foi acontecendo de cabo a rabo. Geralmente o que acontecia antes é que provocava [risos], é que tinha consequências ali adiante. Uma ou outra vez confesso que não. Alguma coisa que me interessava que acontecesse ali adiante, precisava que eu alterasse uma coisinha ou outra que já estava escrita. Mas de modo geral foi escrito do começo ao fim, na ordem que está no livro.

Sempre que recomeçava a escrita deste romance, lia o que já tinha escrito para trás. Lia alto, lia só para si?

Não cheguei a ler alto, não. Mas era como se lesse alto. Eu só me satisfazia com a escrita quando ela soava bem. Mas para soar bem, não preciso falar alto. Me soa bem um pouco como uma música dentro da cabeça. Quando digo música, digo música de propósito porque tem a ver. Acho que é evidente. Quem sabe que sou músico, que trabalho com música, ou mesmo talvez para quem não soubesse, daria para se perceber que esse autor mexe com música. É um autor que tem um ouvido musical. Agora eu, para pensar numa música, não preciso necessariamente de cantá-la. Dentro da minha cabeça tenho a melodia. E a melodia de cada frase do livro tinha que soar bem dentro da minha cabeça. Não me aconteceu de falar alto para ver se soava bem, não foi necessário. Há uma cadência, um ritmo dentro de cada frase que obedece a um critério musical. Isso já disse em relação a outros livros meus e é facto.
Isabel Coutinho entrevista Chico Buarque sobre "Leite Derramado"

O próprio autor lendo "Leite Derramado", depois de publicado

08 novembro, 2010

Formas "superiores" de condicionar a liberdade de imprensa...

A propósito do meu post "Os desafios pessoais de Dilma", onde me interrogava se Dilma sobreviverá ao poder da imprensa brasileira, recebi vários comentários. Destaco, o de Salete Catae: "Espero sinceramente que a Dilma faça um bom governo e que fortaleça ainda mais a democracia do meu país. Deixem a imprensa fazer o papel dela! Há coisas ruins sim(...)mas não quero ver acontecer com meu país o que anda acontecendo na Venezuela, onde o governo fecha os meios de comunicação por medo de posições contrárias ao dele ...".
Em Portugal, a imprensa faz o seu papel. Tem aqui um exemplo. Contudo, este exemplo não explica as coisas.
Não explica que o papel da imprensa é cada vez mais o que os poderes económicos determinam que seja. A petição aí ao lado, é chover no molhado (mas, pelo sim pelo não, pode lá ir assinar "Petição Pelo Pluralismo de Opinião"). Não querendo comentar realidades que não conheço, trago aqui uma inquietação sobre a ameaça que paira sobre um dos jornais europeus de reconhecida isenção. Faço meras transcrições de noticias. A análise é vossa, se estiverem para aí virados:

"O grupo espanhol Prisa, proprietário do El País e também da portuguesa TVI, quer aumentar a sua influência no grupo editorial do jornal francês Le Monde, em que tem uma participação de 15%. De acordo com a edição de ontem do matutino Libération, a Prisa está a negociar um aumento da sua participação para obter direito de veto na designação da estrutura directiva da Redacção."
Ver noticia completa no DN

"A disputa pelo controlo do diário parisiense "Le Monde" assumiu um notório cunho político com a intromissão de Nicolas Sarkozy que, uma vez mais, revela a visão manipuladora e controleira que muitos políticos têm da imprensa."
Ver notícia completa no Jornal de Negócios

Em ambas as noticias o que está em causa é a continuidade da nomeação do presidente da empresa e do director do jornal que são actualmente prerrogativas dos trabalhadores que detêm a maioria do capital na holding Le Monde Partenaires et Associés, senhora de 60,40 % do capital da sociedade anónima Le Monde.

Outro prémio. Prémio em duplicado, compromisso redobrado...


Outro prémio. Prémio em duplicado, compromisso redobrado com a qualidade dos meus posts e dos comentários que vou deixando por aí. A minha querida amiga Ariel, do blogue cirandado, reforça assim a cadeia de afectos e reconhecimentos.
Agradeço-lhe e gostaria de voltar a premiar todos os que acompanho pois é incontestável que é a sua presença , os seus comentários , a sua participação, a seiva indispensável à manutenção deste espaço.
Assim, partilho mais este prémio convosco .