31 maio, 2012

...a minha preocupação começou quando meu neto, que é vivo e esperto, deixou de se concentrar no Baby First e no Panda para dar atenção aos anúncios que passam na televisão...

Não é inocente usarem-se crianças para fazer passar
as mensagens que se pretendem convincentes. O video alicia...



...10, 12. 14 horas de trabalho... trabalhar como um cão...


A sociedade civil passou a fazer denúncias e a dar alertas...
... e começaram a aparecer coisas um pouco mais certas

 
... ainda que inócuas (?), as mensagens visam o consumo...



...e só, de quando em vez, cumprem (e bem) objectivos de educação...

29 maio, 2012

Porque as Freguesias são, onde não há já mais nada, o sinal de que ainda se poderá conter a desertificação e ter esperança num regresso ao espaço rural... Porque as Freguesias são, por serviços de proximidade, o amparo dos velhos e dos empobrecidos...


Exmª. Sr.ª Presidente da Assembleia da República 
Os cidadãos signatários, titulares do direito de petição pública, tendo em conta que a proposta de lei de reorganização administrativa (44/XII) prevê alterações nas estruturas do Poder Local Democrático, entre as quais a extinção de centenas de freguesias em todo o país. A elaboração desta proposta não incluiu a participação ativa de milhares de autarquias e autarcas, dos trabalhadores, dos utentes dos serviços públicos, do movimento associativo popular e da população, que têm vindo a pronunciar-se contra esta Reorganização Administrativa, que não assenta em pareceres ou estudos e que em nada contribuirá para melhorar os serviços públicos de proximidade prestados à população. Afirma um conjunto de princípios e implica o seu contrário, não se desviando do seu objetivo principal, o de extinguir freguesias e o de atacar a democracia no seu pilar essencial. Estando conscientes de que este plano de extinção das freguesias não resolve nenhum dos graves problemas que o nosso país enfrenta, as Juntas de Freguesia existentes utilizam cerca de 0,1% do Orçamento de Estado, e criará outros, com prejuízos claros para a população e poderá colocar em causa a coesão nacional. Os abaixo assinados, manifestam desta forma a sua mais veemente oposição às considerações, conclusões e propostas consagradas na reforma da administração local e reclamam e peticionam das forças político-partidárias com assento na Assembleia da República que promovam todas as iniciativas de âmbito legislativo, nos termos e para os efeitos do disposto na Constituição da República Portuguesa, por forma a garantir a revogação de toda a legislação que vise a extinção, fusão ou agregação de freguesias. 
28 de Maio de 2012

28 maio, 2012

Geração sentada, conversando na esplanada - 1 (apresentação)

"(...) António Gedeão não vê que a tal bola colorida possa pular e avançar nas mãos de uma outra criança que não seja um neto dos meus netos. Ele não espera grandes coisas destas próximas gerações. Os poetas vêem muito para além do seu poema... Lamento é que os culpados disso sejamos nós.
Escrevi isto sempre a pensar que a isto iria voltar. Voltei. Voltei com uma série de textos de reflexão sobre esse dito do meu poeta. Escolho a esplanada e cada conversa que lá vai ser escutada. Esta é a primeira, à laia de apresentação...

Imagem da net
Leio sempre o jornal no meu canto... mesmo não querendo,
as conversas delas vêm ter comigo, enquanto vou lendo.

Sentei-me. Ao lado estava o senhor engenheiro e o seu cão rafeiro. Tomava o pequeno almoço que partilhava com o animal, sempre atento ao dono e cada um seu movimento. Esperava pedaços do bolo-de-arroz. Ao lado, o pombo do costume vinha debicar as pequenas migalhas que sobravam e que o cão e o dono desprezavam.
A primeira a chegar foi a Teresa. Penso que esse chegar cedo lhe provinha do hábito de se levantar para ir trabalhar, coisa que lhe deixou de acontecer às uns tempos. Olhou-me sem me ver. Nada colocou em cima da mesa pois nada tinha para lá colocar e pendurou a sua pequena bolsa no braço da cadeira. Ficou-se por ali a olhar, sem ver, o cão, o dono e o pombo. Ora um ora outro e depois o melro negro, ao fundo,  sobre a relva. Com esta minha mania de rotular, rotulei-a de "geração à rasca" e não me enganara, pois o tinha confirmado num dia em que o seu telemóvel não tinha parado, com mensagens solidárias...
Chegou depois a que chamavam Gaby. Essa nem olhou para mim, nem para o cão, nem para o pombo, nem para o senhor engenheiro. Pousou em cima da mesa tudo o que trazia e cumprimentou a Teresa, "Olá princesa" (não sei a que reino pertencia, pois a todas cumprimentava com igual delicadeza). A Teresa respondeu ao cumprimento, com qualquer coisa sumida. Os "fones" manteve-os Gaby nos ouvidos, estava a dar a sua música predilecta e, enquanto a cantarolava, a mesa ia ficando repleta com o portátil, a pen, os três telemóveis. Essa tinha-a rotulado, no sábado, passado por "geração mobilidade". 
Passaram-se pouco mais de dez minutos e quase em simultâneo apareceram as outra duas, embora de lados desencontrados. Beijaram-se a dois passos da mesa onde as outras duas tinham até ali esperado. Uma delas pisou o cão e o pombo voou para esperar que aquela pequena confusão passasse e depois voltar para continuar a debicar. A que pisara o cão gargalhou. O cão não ladrou e a outra disse "coitado". A que pisou o cão era a Zita, era das quatro a mais bonita. Bonita, azougada e com ditos com uma certa piada. Vestia vestido muito curto, às ramagens e tinha, numa cara bem pintada um pircing bem colocado que não lhe deixara o rosto desfigurado. Rotulara-a de "geração dos morangos", dado que todas as outras lhe iam descobrindo nos ditos e tiques, todas as personagens de tal novela. Todas tinham crescido a vê-la, mas a Zita não perdia um episódio.
A outra, a quarta, a que não pisara o cão, vinha com o jornal na mão. É alta, esbelta e com um olhar muito vivo. Disse quase gritando, agitando o "Correio da Manhã" - "esta vossa amiga, vem aqui em grande plano" - E vinha. Abriu o jornal e procurou a página onde ela aparecia, junto ao palco principal. Fazia parte da enchente, daquele mar de gente que esteve no Rock in Rio. Chama-se Ana e se não fossem todas as quatro loucas entusiastas por (todos) festivais, rotulá-la-ia por "geração Rock in Rio". Assim, fica-se pelo label "geração Wikipedia", o que tem a ver com uma longa descrição de como organizava o seu trabalho de casa, estudava e resolvia, num instante, tudo que, nas aulas, lhe era permitido ir consultar no portátil...
As quatro falavam e parecia que tinham trazido cada qual sua agenda planeada para a conversa de esplanada. Excepção para a Teresa, que bem tentou trazer Marcelo Rebelo de Sousa para a tertúlia, mas lhe atalharam a conversa "Teresa, politica não". A Zita passou a dissertar sobre as habilidades vocais de um dos personagens que actuaram na noite passada, e entreabria as pernas, bem torneadas, que entretanto tinham sido cruzadas. O senhor engenheiro deitou para lá o olhar e deixo-o lá ficar. O rafeiro, do senhor engenheiro, olhava o dono e eu olhava distraidamente... o pombo. A Gaby, ia teclando  no computador e alimentava aquele diálogo de esplanada ao mesmo tempo que o fazia, com uma dezenas de outros "amigos", no facebook, sem largar os "fones". Até que veio à baila falarem da surpresa e da proeza - "uhau, mais de duas mil toneladas doadas, ao Banco Alimentar, ainda dizem que a nossa gente não é generosa..." 
Parei de olhar o pombo e desliguei da conversa, para sobrevoar os títulos de "O Público". Fixei a atenção no do canto inferior direito daquela publicação: "Falências do sector da construção disparam 50,8%". Fui ler a noticia, lá dentro.

27 maio, 2012

Homilias dominicais (citando Saramago) - 85


"O presente não é um dado imediato da consciência." escreve Bulimundo, citando Jorge Luís Borges, com um titulo (O Presente não Existe...MAS É NELE QUE VIVEMOS). Não aprofundo o tema discorrendo sobre o tempo e o significado desse atraso com que o presente chega ao nosso consciente, nem como concorrem as forças retrógradas para evitar que o presente nem chegue, sequer, às consciências. Voltando àquele texto, escreveu Borges, que por seu turno cita Goethe: "O presente contém sempre uma partícula de passado e uma partícula de futuro (...)" Complemento esse conceito de "tempo" introduzindo-lhe o de "espaço". Ao aviso do "não agora" de Borges,  somou o "aqui" de Saramago, certo de que os caminhos do mundo que não foi dispensado de percorrer, lhe deram, em cada momento, a consciência IMEDIATA do mundo em que viveu, por TODOS OS LADOS em que viveu. 
Em certo sentido, Goethe, Borges e Saramago completam-se... eles não deixariam (nem deixam) apagar a memória.
Por muito que se esconda que ontem desfilaram bandeiras e vozes, esse presente existiu, rejeita um passado recente e chegará às consciências. 

HOMILIA DE HOJE 
«(...)A visita de Saramago à Villa Grimaldi ajudou a alimentar a memória social. Por quê? Em que consistiu o papel de Saramago? Sua figura de escritor, de Nobel e de homem que se define frente às conjunturas e que é mundialmente conhecido, permitiu que atraísse a imprensa, que seus passos se noticiassem, que fosse entrevistado, que gravasse programas de televisão e, dessa maneira, colaborou a que fatos do passado regressem à atualidade, em outras palavras, ajudou a recordar. A realidade repressiva chilena, que durou dezessete anos, é aludida mais uma vez e a presença do escritor impede que se esfume. Possibilitou que a sociedade se enfrentasse novamente com episódios da ditadura militar – que em seu momento não se divulgavam – que arrasaram com os mínimos direitos das pessoas e que, atualmente, poderosas forças sociais ideológicas e econômicas tentam deixar nas sombras do esquecimento. Saramago insuflou uma nova força à rememoração.(...)»
 (retirado de "Assim falou Saramago! Memória e direitos humanos", por Sara Almarza)

26 maio, 2012

Um texto de Gonçalo M. Tavares públicado na imprensa Grega

.
Queixei-me de que os intelectuais se auto-demitiam de um espaço de intervenção.
Hoje publico o Gonçalo M. Tavares, e com prazer reconheço que vou perdendo razão.
  .

1. Sobre a Europa (Os anos Pavlov e outras considerações imaginárias)
Uma dor de cabeça faz com que dês atenção à parte de cima. Por exemplo, se a Europa tem dores de cabeça, então, ela própria olha para a parte de cima dessa anatomia. Se as dores são no pé, ela olha para baixo. As dores são portanto outra forma de iluminar. Uma iluminação materialmente mais espessa, uma iluminação fisiológica, que vem de dentro e não de fora. Vês melhor aquilo que dói. Olhamos mais, reparamos mais, naquilo que dói. No fundo: aquilo que dói existe mais. Outro exemplo, há um corpo que diz: dói-me a Europa. Como se a Europa fosse um órgão ou um novo sistema circulatório. O homem que tem uma dor na Europa. Eis um belo título.
Um homem que tem uma dor na Europa deve ser tratado, parece-me. Claro que há órgãos que podem ser extraídos, porém aqui talvez não. Será que podes extrair e deitar fora um órgão da Europa? Há algo que substitua as suas funções?

2. Diálogo sobre a Europa
- Posso fazer-lhe uma entrevista?
Ok.
-Falemos de Europa?
Sim.
- E de Pavlov.
Ok. Tudo bem.
Na experiência de Pavlov os cães salivavam, primeiro só com o prato mesmo vazio, depois bastava o som dos sapatos de quem trazia a comida, depois com apenas a campainha. Enfim, uma longa aprendizagem. Não havia comida, mas o organismo e a fisiologia do cão reagiam como se houvesse.
- Portanto, a questão é esta: se substituirmos um cão por um continente o que acontece?
Se os procedimentos forem proporcionalmente idênticos aos procedimentos levados a cabo por Pavlov e pela sua equipa, a Europa também salivará, mesmo sem alimento à sua frente. Salivará só com o som que anuncia a entrada do alimento.
E claro que podemos sempre substituir a saliva pelo medo. A Europa, quando escuta certas palavras que anunciam desgraças, começa logo a tremer, a ter medo, a assustar-se, a pôr-se debaixo da mesa da cozinha ou debaixo dos lençóis da mamã. Eis uma síntese.
- Estamos portanto diante de uma experiência de Pavlov, a grande escala?
Exacto. Não é necessária a desgraça em si, basta o seu anúncio. Tem os mesmos efeitos.
O importante não é um acontecimento, mas sim os seus efeitos
Compreendo.
Por exemplo, um tremor de terra. Mesmo que não exista um tremor de terra, se nós partirmos as casas ao meio, se abrirmos buracos na rua, etc., obteremos os mesmos efeitos.
Portanto, se virmos casas partidas ao meio, tectos caídos, buracos na rua, podemos concluir: houve um terramoto. Mesmo que não seja verdade.
Eu diria, em suma: os efeitos são a verdade.
- Os efeitos são a verdade.
- O cão saliva. A Europa assusta-se e põe-se debaixo da mesa.
Exacto.
Poderemos designar este período como Os Anos Pavlov da Europa.
É um belíssimo nome.
Ou talvez melhor A DÉCADA PAVLOV da EUROPA.
A questão é esta: em vez de colocares um único cão a salivar sem alimento à sua frente, só por causa do toque da campainha… condicionamento clássico…colocas milhões com medo também só com o toque da campainha.
- Mas pode um continente comportar-se como um cão?
- Pode.

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25 maio, 2012

Poema intemporal, até que o deixe de ser...

O Analfabeto Político

O pior analfabeto é o analfabeto político.
Ele não ouve, não fala, nem participa
dos acontecimentos políticos.
Ele não sabe que o custo de vida,
o preço do feijão, do peixe, da farinha,
da renda de casa, dos sapatos, dos remédios,
dependem das decisões políticas.
O analfabeto político é tão burro que se orgulha
e enche o peito de ar dizendo que odeia a política.
Não sabe, o idiota, que da sua ignorância política
nasce a prostituta, o menor abandonado,
e o pior de todos os bandidos que é o político vigarista,
aldrabão, o corrupto
e lacaio dos exploradores do povo.

(Bertold Brecht)

24 maio, 2012

Ainda o mesmo tema: a difícil unidade da esquerda

No meu post anterior, as perguntas feitas deixavam ao tempo a resposta que este lhes der. Podia ficar por aí, pois até dos comentários surgiram contributos para sublinhar, quer a complexidade do objectivo quer a oportunidade de interrogar. Mas houve outros comentários que me impeliram a regressar ao tema. É que ficou mais ou menos no ar que todos querem liderar uma esquerda consequente e esse é o problema presente. E não é. 

O problema é a existência de uma falsa esquerda e a forma em como ela se movimenta. Falando claro, falo do PS. Falo do PS por voz insuspeita, que afirma que aquilo não é um partido, é uma seita. Embora com palavras mais delicadas, isso está aqui dito ao décimo quinto minuto por quem vê a politica como um jogo de xadrez onde ao povo pouco mais resta que sancionar jogadas definidas com tempo. A imprensa faz o resto.

Mas há também comentários que deixam no ar, a insinuar, que o PCP se quererá apropriar da esquerda. Indo à história recente (para não falar do passado e na luta contra a ditadura fascista,  como relembrei num outro post) lembro a unidade da esquerda na gestão da Câmara Municipal de Lisboa, primeiro com Jorge Sampaio, depois com João Soares, e que só terminou por divisões cuja responsabilidade não pode ser imputada aos comunistas (o BE apresentou-se a competir com a aliança PS-PVP-Verdes, com as consequências conhecidas).   

Aparentemente fora deste contexto, venho trazer o discurso de Dilma, no 1º de Maio. Aproveito para lembrar que Dilma sucedeu a Lula da Silva e que, desde a primeira eleição deste, a base de sustentação desses sucessivos governos é uma ampla plataforma de esquerda, composta por 11 partidos entre os quais o Partido Comunista.


Se aparecer por aqui, algo parecido ao PT, logo se vê o comportamento do PC

22 maio, 2012

Unidade da esquerda (ou das esquerdas) as oportunidades reais e as fracturantes. Algumas reflexões - Parte II

"(...)É preciso juntar forças. Somar gentes que se oponham à política da troika e que sejam intransigentes nesse combate. Juntar partidos, movimentos e cidadãos que não se reconheçam no capitalismo. Construir uma esquerda com a ambição de vencer que esteja comprometida com a luta pela a igualdade. A crise é uma máquina de liquidação dos direitos sociais e políticos da maior parte da população.(...)" - Uma esquerda comprometida
"(...)Em Portugal e na Europa, a esquerda está dividida entre a moleza e a inconsequência. Esta esquerda, às vezes tão inflexível entre si, acaba por deixar aberto o caminho à ofensiva reacionária em que agora vivemos, e à qual resistimos como podemos. Resistir, contudo, não basta.(...)Uma esquerda corajosa deve apresentar alternativas concretas e decisivas para romper com a austeridade e sair da crise, debatidas de forma aberta e em plataformas inovadoras.(...)" - Manifesto para uma esquerda livre
Fecho o tema que abri (aqui), não com o relançar de polémica (e bem podia fazê-lo) mas com algumas perguntas, que bem podem ficar no ar. Respostas? O tempo se encarregará de as dar:

1ª Pergunta: Qual dos dois documentos, dos quais apenas retiro enxertos,  é o mais aberto, inclusivo e consequente para a desejada unidade das esquerdas?

2ª Pergunta: Tendo sido hoje anunciado, pelo líder parlamentar do PCP, Bernardino Soares, que o partido vai apresentar um novo projecto de resolução sobre a renegociação da dívida e requerer um debate potestativo no Parlamento sobre a matéria, é, esse facto, mobilizador ou não para outras forças e vontades lhe reforçarem a posição e desenvolverem um contexto de discussão, ou mesmo apoio? Não seria matéria para os subscritores do tal "manifesto" se pronunciarem?

3ª Pergunta: Porque o destino da Grécia parece estar em vias de estar traçado, porque hoje surgem notícias disso mesmo, e de que a Grécia nem perderá forçosamente com isso (ler aqui), e ainda porque o Relatório da OCDE trás notícias que a avaliação da troika não poderá deixar de considerar, estão ou não todas as forças que se opõem à politica das troikas disponíveis para um entendimento comum? 



Há exactamente um ano e dois dias, eram estas "as propostas concretas" de uma
esquerda que nem pode ser acusada nem de mole nem de inconsequente...

Alegoria


Foto da autoria de Pedro Tornaghi II - Eclipse Solar- Rio de Janeiro 21.Maio.2012

21 maio, 2012

Choram-lhe os olhos, por dentro

(Foto retirada daqui)


Choram-lhe os olhos, por dentro
(razões para um poema)
Choram-lhe os olhos, por dentro
sob um céu azul
que se reclama inocente
e inimputável
A magra nuvem
passa ausente
esquecida da função
O vento mal se sente
Um dia de meados de Maio
De um Maio ora vermelho, ora tímido,
Um dia em que as  lágrimas se diluíram
nas bátegas da ultima chuvada
que há pouco se suicidara
na beira da estrada

Choram-lhe os olhos, por dentro
Mágoa?
Desgosto?
Impotência?
Raiva?
Explosão?
Ou um sentimento misto
de tudo isso
pela omissão
de um povo ainda omisso
na sua aparente submissão?
Neste momento,
choram-lhe os olhos, por dentro
Por dentro,
pois ninguém o verá chorar
Terá a face firme e limpa
quando um outro dia chegar
Rogério Pereira

20 maio, 2012

Homilias dominicais (citando Saramago) - 84

Timor Leste, 10 anos de idade. Dia de comemorar e manter a memória das palavras. As interventivas e as agradecidas. Os povos não esquecem, e cumpre-nos ajudarmos a sua memória. É de registos que se faz a história. Registo as palavras de Saramago e as do povo timorense, reconhecido.

HOMILIA DE HOJE  
"Que importa ao mundo que eu me sinta humilhado e ofendido? Que importa ao mundo que eu tenha chorado lágrimas de indignação impotente perante as imagens infames de um crime infame? Se esta desgraçada humanidade, faltando uma vez mais ao respeito que deve a si mesma, não impôs à Indonésia, em nome da simples moral, o acatamento imediato e incondicional da vontade do povo de Timor Leste, que importa que um escritor acuda agora a protestar usando as palavras de toda a gente, que demasiados calam porque estão mais preocupados com os seus interesses no presente e no futuro do que com o sangue que corre e as vidas que se perdem? Quanto pesa o povo de Timor Leste nas balan- ças políticas da China e da Rússia? Qual é a cotização de um habitante de Dili na bolsa de Nova Iorque? A Indonésia tem mais de três mil ilhas e Timor Leste é apenas metade de uma delas. Valerá a pena, por tão pouco, levantar-se o mundo para reclamar responsabilidades aos culpados diretos e indiretos das atrocidades que diante dos nossos olhos se cometem, para exigir o castigo dos assassinos e dos seus mandantes? Quanto é preciso, então, para que nos levantemos? Um continente? Dois continentes? Levantar-se-á o mundo quando já estiver a ponto de perder-se o mundo? Que se passa com o ser humano? E a democracia, para que tem servido? Serviu de alguma coisa em Timor? Faz-se um referendo para logo o negar, antes mesmo que os votos estejam contados? Não será um crime contra a dignidade e a honra desprezar e violentar a vontade de independência de um povo? E que sentido têm hoje aquelas palavras? Há honra num ministro, há dignidade num general, se são o general e o ministro que armam o braço dos criminosos? Ou são eles próprios os criminosos? Quando se porá fim ao cinismo da mal denominada comunidade internacional? Quando acabará a hipocrisia dos que mandam? E a inércia dos que são mandados, quando acabará? Quando deixaremos de chorar sobre nós próprios? Quando deixaremos de dizer que não temos culpa? Não se salve Timor, e nós não teremos salvação." 
José Saramago in "Quando se Porá Fim ao Cinismo?" 1999

Homenagem a Saramago, Feira do Livro, em Dili - 2010

19 maio, 2012

Unidade da esquerda (ou das esquerdas) as oportunidades reais e as fracturantes. Algumas reflexões - Parte I


Carvalho da Silva (PCP), Henrique Neto (PS) e J. Ferreira do Amaral (Independente),
discutindo "Perspectivas e Caminhos para o Desenvolvimento", in Seara Nova nº 1714

Um espaço de diálogo, um património de unidade - Foi há poucos meses, descobri que a revista "Seara Nova" não tinha morrido. Vencida a dificuldade de a encontrar à venda, lá a encontrei e comprei para logo de seguida lhe fazer a assinatura. A linha editorial mantinha-se aberta a todas as tendências, o que não foi surpresa. Também não foi novidade perceber que não só esse espaço é aberto como é promotor do diálogo e como é diversificado o leque das personalidades que compõe a comissão de honra que preside ao seu aniversário. O primeiro número adquirido, além de oferecer o texto a que se refere a foto (que bem podiam ser as linhas orientadoras de um programa comum de esquerda) relembrou-me, através de uma "mesa redonda" com António Reis (PS) e Fernando Correia (PCP),  a própria história da revista, desse património de unidade entre as várias tendências e de como a revista desenvolveu um papel para além da mera edição, designadamente nas diversas fases da luta antifascista e nos combates eleitorais. Hoje é relevante o papel da revista e a discussão produzida, mas são difíceis as condições em que se desenvolvem. Num tempo em que a unidade inclusiva (de toda a esquerda) requer um espaço para se aprofundar fora do contexto da luta politico-partidária é expectável que se venha a dar maior dinâmica à "Seara Nova". Que tal se faça no âmbito da comemoração dos seus 90 anos e com o mutuo respeito e consideração pelas diferenças de opinião. Estas só são imutáveis se não nos soubermos escutar.


A homenagem prestada a José Tengarrinha, mostrou que há momentos para o respeito e para a admiração 
mutua entre aqueles que, não tendo as mesmas "ideias", estão disponíveis para se reencontrarem

Um momento de reencontros - Há muito que não aconteciam reencontros entre pessoas que por várias razões seguiram caminhos distintos e/ou filiações partidárias diferentes. Essas diferenças não impediram abraços, cumprimentos de respeito e conversas alongadas por onde certamente deambularam as memórias que ligavam o homenageado aos que ali apareceram. Muitos e diversos, havia certamente motivações de estar bem diferenciadas. Mas estavam ali muitos que se uniram em tempos tão difíceis como aqueles que estamos a atravessar. Diria, citando Saramago "se o mundo alguma vez conseguir ser melhor, só o terá sido por nós e connosco." e quem quiser que se exclua... Aconteceu, de seguida, o cruzar-se a memória desse momento com o lugar de diálogo que durante tanto tempo juntou gente diversa num combate comum. Memórias do próprio Tengarrinha... na "Seara Nova" 

Continua

Coro de Infantil Santo Amaro de Oeiras: Muitos ouviram, viram e votaram. Os miúdos ganharam e dão-nos a honra de nos representar no RIO+20

Há uns dias, editei um post e um apelo (também repetido no facebook)  para se votar no coro. Foi seguido e o coro venceu. Relembro as palavras com que abria aquele meu texto. Extraiam delas a mensagem que queiram extrair: "Talvez se seguirmos o exemplo das vozes juntas, em coro, sem dissonâncias nem dono, a terra se mantenha azul e as esperanças sejam, o que nos cantam as crianças..."

Há o mérito do empenhamento de quem votou. Julgo haverem (pelo menos) três razões de satisfação: 1º o reconhecimento ao trabalho e à qualidade do Coro Infantil de Santo Amaro; 2º a grata satisfação de ter ganho com uma canção de intervenção cívica que alerta para questões sobre as quais o mundo dos adultos não parece ter uma consciência clara e interveniente 3º a expectativa agora criada de, pelo facto do coro ir participar em tão importante fórum mundial (RIO+20), a imprensa poder dar a este uma projecção maior e colocar sobre a atenção nacional a posição de Portugal...
A conferência RIO + 20, organizada pelas Nações Unidas Sobre Desenvolvimento Sustentável, realiza-se em Junho, no Brasil, e vai discutir temas como a “economia verde” no contexto do desenvolvimento sustentável, a erradicação da pobreza e o Quadro Institucional para o Desenvolvimento Sustentável. (saiba mais)

18 maio, 2012

Manifesto para uma esquerda livre: "Uma esquerda corajosa deve apresentar alternativas concretas e decisivas para romper com a austeridade e sair da crise, debatidas de forma aberta e em plataformas inovadoras."

'Esto no es crisis, se llama capitalismo'

Vejamos se a generosidade dos propósitos não marginaliza, do debate que o "manifesto" reclama, o aprofundamento das causas da crise e as acções que contrariem o avanço deste modelo capitalista, na sua actual e mais desumana manifestação... 

17 maio, 2012

Analogia, em Dia de Espiga

Imagem da net
Há quem proclame e defenda que um ramo de Espiga, da verdadeira, 
dispensa a papoila, por ser flor vermelha

16 maio, 2012

Plagiando poetas, em horas incertas


SONHO À VISTA
(a caminho da terra da Utopia)
Os mostrengos são cada vez mais numerosos
E rodeiam a nau voando
Não três, mas mil vezes, e mais raivosos
Na ré, de pé,
O mesmo homem do leme
Que depois de ter tremido, já não treme
Gritando o grito que o poeta lhe colocou na voz 
No mastro real,
Também igual,
Está o mesmo gajeiro
No ponto mais alto do navio, será o primeiro
A dar noticias, quando as houver que dar 
Naquela travessia
Decidida
Que ousaram desafiar
Se empenhando com todo o seu ser e querer
As ondas são vagas de meter medo
Se houvesse medo de lhes ter
A fome roer-lhes-iam a entranhas
Se houvesse sentir entranhas a roer
A incerteza espalhar-se-iam com os ventos
Se houvesse que a sentir nesses momentos
Tudo o que de mau, escuro e duro
Lhes diziam ir acontecer, aconteceu
Mas nem um só esmoreceu
(embora muitos ficassem pelo caminho
por tão dorido e sofrido ele ser)

As sereias, desistentes,
Mergulharam em desafinado cantar
O céu, que fora de breu, clareou
O mar, que fora alteroso, se amainou
E por fim a noticia esperada
Do alto da nau gritada
Sonho à vista
Sonho à vista, foi o grito repetido,
Por quem sofrendo ali chegou
Rogério Pereira 

(A imagem foi roubada a um belo pássaro azul)

Uma esquerda comprometida

"É preciso juntar forças. Somar gentes que se oponham à política da troika e que sejam intransigentes nesse combate. Juntar partidos, movimentos e cidadãos que não se reconheçam no capitalismo. Construir uma esquerda com a ambição de vencer que esteja comprometida com a luta pela a igualdade. A crise é uma máquina de liquidação dos direitos sociais e políticos da maior parte da população. Vai ser difícil a mobilização das pessoas atormentadas pelo medo, separadas pelo receio de perderem o pouco que têm. A esquerda da igualdade tem de saber que o seu campo se edifica construindo novos sujeitos políticos que não se esgotam na política institucional. A afirmação de uma política de esquerda passa por dar poder às pessoas, fazê-las sujeitos e não espectadores da construção de uma alternativa. Não se trata de mudar a composição de um parlamento trata-se de inventar uma outra forma de fazer política. Afirmar que todos somos actores da nossa própria emancipação. O terreno desta luta está na conquista da rua e na afirmação da intervenção radical. A massificação da rua não pode impedir a multiplicação das tomadas de posição que procurem o choque. As acções concretas devem servir para demonstrar a irracionalidade das políticas neoliberais e de pôr à vista a violência de um Estado que reprime para as aplicar. Elas devem reivindicar o princípio do olho por olho e dente por dente. Vivemos num mundo global. Nenhuma luta é somente nacional, mas todas são feitas num local concreto. A crise ainda agora chegou, a multiplicação das redes de activistas, o reforço das suas ligações e o aumento do número de militantes combativos são uma das premissas fundamentais para transformar a crise, num determinado momento, em crise do capitalismo." 
(Nuno Ramos de Almeida in Cinco Dias, e também transcrito por Ana Paula Fitas in A Nossa Candeia)

15 maio, 2012

Esquerda livre? O quéqué isso?


O meu amigo Rodrigo (Folha Seca) é um homem desejoso de ver o que tarda em aparecer. Mal se acende uma luzinha, nem que seja, um "vaga-lume", pensa: é agora. Suponho que foi isso que mais uma vez lhe aconteceu ao ler um manifesto - Manifesto para uma esquerda livre - que de pronto subscreveu e me foi propor lá na minha página do facebook. Respondi logo ali, mesmo sem ler o tal manifesto, mas deixando-lhe a promessa de o ir fazer:
"Só o titulo me arrepia. Esquerda Livre? Livre da direita? Não me parece, pois é redundante com a própria identidade de esquerda. Livre de qualquer ideologia? Mas se é livre de qualquer ideologia, como combate a ideologia de direita? Denunciando-lhe a desumanidade? Mas isso é mera contestação sem avançar com os seus próprios valores... Livre de outra esquerda? Mas isso soa-me a divisão, que fazemos de uma esquerda livre que mete outra num gueto? Com todas estas interrogações, vou ler. Comentarei se for caso disso..."
Depois de ter lido, confirmo as apreensões. E nem comento. Limito-me a reproduzir o que outros já disseram e que subscrevo:
"(...) Fora de brincadeiras. Que vazio confrangedor. Tanta frase vã que, há anos, vejo escritas em diferentes colunas de opinião, emaranhadas numa coisa a que alguém resolveu chamar manifesto. Para todos os que, como eu, se irritam com o adiar da unidade de acção que PCP e BE têm de construir, estes manifestos fazem-nos perceber que tudo podia ser muito pior sem uns e outros. Não fosse a palavra “Esquerda” e “Direita”, todos os Camilos Lourenços deste planeta não teriam qualquer pudor em subscrever este manifesto." (Tiago Mota Saraiva, in 5 dias.net)

"Tiago, vi ontem o texto e a primeira ideia que me veio à cabeça foi exactamente esta: «Piscam o olho a todos os pedreiros-livres.» Não estou sozinha…" (Joana Lopes, num comentário lá deixado)

14 maio, 2012

Eduardo Galeano, Eu, Minha Alma e Meu Contrário...

Pré anunciei a sua entrevista e ei-la na integra, a desassossegar os nossos pensamentos e dando-nos os seus, suas reflexões e inquietações. Recomendo vivamente o visionamento integral, de onde retiro a citação:
"Creio que a contradição é o motor da História e que nisso, como noutras coisas, Marx não se enganou...".
Para os mais apressados deixo-vos este extracto:

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A parte da entrevista em que aprofunda o que somos...
Revejo-me nestas reflexões. Se reescrevesse hoje aquele meu livro de memórias de factos, afectos, angústias e medos, talvez aprofundasse um pouco mais os personagens, mas não mudaria, no essencial a trilogia do meu ser. Entre Eu, Meu Contrário e Minha Alma, nada nos separa e, como já disse, falando da morte: 
"MINHA ALMA é, por tudo isso, mortal. É até, será, julgo, a primeira a morrer. Na sequência da morte, seguir-se-á MEU CONTRÁRIO e só então EU, que acabarei por morrer com o desgosto de os ver desaparecer..." (publicado aqui)  
Nesse post, uma querida amiga deixou um comentário, que guardo:
"A unidade tripartida da personagem constitui, neste livro, um aspeto de indubitável relevo. São as vozes interiores que medem e ponderam, que analisam e procuram o equilíbrio e a coerência dos gestos. Corpo e alma, razão e coração, inteligência e desejo. Eis a "matéria" de que é feito o homem." (ver aqui)

13 maio, 2012

Homilias dominicais (citando Saramago) - 83


Eu, Meu Contrário e Minha Alma, perscrutam a multidão procurando Ricardo Reis, em vão. 

Questiono Meu Contrário para em seu juízo me explicar e esclarecer não a razão da fé mas sobre as motivações da adesão das massas ao fenómeno religioso, pois que em tempos afirmei que havia quem com isso beneficiava. A resposta foi curiosa e deixou-me intrigado: "As coisas da fé, afundam-se nos seus próprios mistérios. Depois de Marx ter falado das consequências de ser a fé o ópio do povo, pouco mais de interessante se poderá acrescentar". Insatisfeito com tal resposta, consultei a Minha Alma, com a mesma pergunta, ficando igualmente intrigado com a resposta vinda desse lado: "Há almas que se prestam a tudo, tanto mais quanto mais o corpo lhes sofre." Percebi que pouco adiantava prolongar aquele diálogo, e resolvemos, os três, procurar Ricardo Reis para saber a sua própria motivação para se misturar naquela multidão:

HOMILIA DE HOJE
Este é o lugar. A camioneta pára, o escape dá os últimos estoiros, ferve o radiador como um caldeirão no inferno, enquanto os passageiros descem vai o motorista desatarraxar a tampa, protegendo as mãos com desperdícios, sobem ao céu nuvens de vapor, incenso de mecânica, de fumadouro, com este sol violento não é para admirar que a cabeça nos tresvarie um pouco. Ricardo Reis junta-se ao fluxo dos peregrinos, põe-se a imaginar como será um tal espectáculo visto do céu, os formigueiros de gente avançando de todos os pontos cardeais e colaterais, como uma enorme estrela, este pensamento fê-lo levantar os olhos, ou fora o barulho de um motor que o levara a pensar em alturas e visões superiores. Lá em cima, traçando um vasto círculo, um avião lançava prospectos, seriam orações para entoar em coro, seriam recados de Deus Nosso Senhor, talvez desculpando-se por não poder vir hoje, mandara o seu Divino Filho a fazer as vezes, que até já cometera um milagre na curva da estrada, e dos bons, (...) 
Ricardo Reis vai a Fátima - Excerto de "O Ano da Morte de Ricardo Reis", de José Saramago (continuar a ler)

12 maio, 2012

Marx em Maio: "“(...) se o sistema de crédito é o propulsor principal da superprodução e da especulação excessiva, acelera o desenvolvimento material das forças produtivas e a formação do mercado mundial. (Ao mesmo tempo,) o crédito acelera as erupções violentas (as crises), levando a um sistema puro e gigantesco de especulação e jogo”, (citação de Sérgio Ribeiro)

Se necessário fosse fazer prova-de-vida da actualidade de Marx, ela aí está, no extenso título escolhido de entre as tantas propostas de reflexão que povoam a palestra de Sérgio Ribeiro, feita na manhã de sábado passado, no Congresso Marx em Maio, e que este edita no seu blogue, em seis posts [desde aqui, a introdução, a este último]

 Sérgio Ribeiro: uma palestra, esforçada, tornando clara a dissertação...
Antes de ir falar, encontrámos-no no bar, eu bebi um café ele um chá. A rouquidão abafava-lhe a voz. Estava por isso desolado. Disse-lhe coisas banais, em tom de recomendação: "Fala pausado e com o micro no tom mais alto e colocado", dizia sentencioso, tentando depois imprimir-lhe confiança como se ele dela necessitasse: "Vai tudo correr bem". E correu. Desde o principio, agarrou a assistência, com sua ironia bem colocada. Quando chega à passagem em que refere que Marx tinha a "perfeita consciência que o mundo é feito de mudança… como dizia o marxista Luís de Camões" a assistência sorria. Eu também... 
Hoje calhou falar disto e ir buscar o soneto do poeta citado. Redobra-se a admiração por tão poética definição do processo histórico e da sua dialéctica:
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.
Luís Vaz de Camões 

11 maio, 2012

O cu e as calças, a incapacidade de estabelecer conexões e retirar conclusões...

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O criador deste cartoon irá, talvez, levar a mal, mas tinha-o de roubar.

No prédio do Rogérito, a vizinha do 4º andar tem, agora, a despensa quase vazia. Mas tem andado com azia. Farta de comer enchidos e ovos mexidos, de andar quatro dias a comer atum e cavala, agora questiona a dona Esmeralda, quando é que o merceeiro dará outra balda, que lhe alivie a magra bolsa. Coitada. 

Entretanto, há pouca gente a fazer correlações entre as margens de lucro do merceeiro e outras dimensões. Quanto ao lucro: "O presidente do grupo Jerónimo Martins alegou que na campanha não houve prática de "dumping" (venda a preço inferior ao do custo), embora tenha admitido que possa ter havido "um ou outro preço errado" em 16.000 referências de produtos." (*) 

Quanto às correlações, que tal o campeão da distribuição ter passado a ser o segundo homem mais rico e os mais pobres terem ainda mais empobrecido? Que tal assinalar que o crescimento da cadeia acontece na proporção com que a terra cultivável desaparece, o trabalho agrícola é abandonado e o endividamento cresce? 

Será que o cu deixou de ter a ver com as calças?

(*) Como se perceberá o lucro do Pingo Doce não corresponderá à diferença entre o preço de compra e o da venda. Os seus próprios custos terão naturalmente que ser considerados. Mas isso é história que não vem a público...

Bernando Sasseti: Músico e Homem, perdem-se dois, enormes, numa só morte...




10 maio, 2012

Redacções do Rogérito - 9 (tema inspirado por José Machado Pais)

Tema da redacção: "Quando falo de autoridade, não falo de autoritarismo, mas de uma ordem capaz de ajudar a valorizar a liberdade como um bem essencial (...)" - José Machado Pais, no Público de hoje (não disponível on-line)
A minha mãezinha que é pessoa sabedora e muito carinhosa não me deixa pôr o pé em ramo verde mas faz tudo com muito jeitinho para eu aprender a ter juizinho e a fazer escolhas sozinho que não sejam escolhas tolas que é aquilo que mais acontece quando as mães deixam fazer tudo aquilo que a gente quer e no fim nem sabemos aprender a gostar nem a aproveitar coisas que não conhecemos e ficamos sempre a querer as mesmas e a ter birras grandes para as ter que até fazem os adultos tremer. 
Por exemplo - que é a exemplificar que é mais mais fácil explicar - quando minha mãe me punha comida no prato e eu torcia o nariz e dizia que aquilo não queria ela respondia "come o que te apetecer e o que não gostares pões à beira do prato" e isso acontecia com uma mão cheia de coisas que já não lembro bem mas há uma que eu ainda recordo e que é o pimento vermelho que agora até adoro. Sempre me servia pimento vermelho e sempre eu dizia não gostar e ela sempre respondia com a mesma resposta que a gente põe à beira do prato quando não gosta. Até que um dia no fim da refeição ela teve um desabafo sem nenhum ar de estar a desabafar quando disse como se estivesse a falar com outra pessoa que este rapaz que era eu era um niquento. Dias depois a mesma cena e eu lembrando que me tinha chamado niquento provei um pimento e me soube tão bem que até pedi mais à minha mãe que fez aquela carinha bonita e exclamou que o pimento não me iria furar a tripa. E não furou pois ainda aqui estou e com pena de ver todos os dias autoritariamente esconderem pimentos vermelhos e os portugueses a ficarem cada dia mais niquentos mas com falta - ignorada - de tais pimentos.
Rogérito, à memória de minha mãe

09 maio, 2012

Coro de Infantil Santo Amaro de Oeiras: Oiça, veja e vote....

Talvez se seguirmos o exemplo das vozes juntas, em coro,
sem dissonâncias nem dono,
a terra se mantenha azul e as esperanças
sejam, o que nos cantam as crianças...

O Coro Infantil de Santo Amaro de Oeiras , está a participar num concurso internacional de música - global-rockstar . Até há 3 dias estávamos em 1º lugar entre os muitos países que participam. Entretanto, fomos ultrapassados pela Áustria (país onde vai decorrer a gala). Já só faltam 12 dias para fecharem as votações. Precisamos de colocar o nosso Coro outra vez em 1º lugar!

Amanhã, dia 10, às 23:36, na RTP2. A não perder...

(post reeditado, o horário foi mudado)



Um estimulo à razão, um alento para a alma, um desafio que desassossega... Não perca 

08 maio, 2012

Jerónimo de Sousa, ontem, no Prós e Contras: "(...) Nós defendemos uma ruptura com este caminho para o desastre (...) não resolvemos o problema do deficit; não resolvemos o problema da dívida; não resolvemos o problema do desemprego; não resolvemos o problema da justiça. São factos (...) a renegociação da dívida permitiria dar-nos alguma folga para o desenvolvimento (...) "

Ontem aconteceram coisas raras e gratas. Primeiro, haver uns "Prós" verdadeiros prós e uns verdadeiros "Contra" o que, atendendo ao tema, é só por si evidência de que há outros caminhos, para além deste que está a ser imposto, vendido como único e inevitável. Segundo, aconteceu conhecer "novos" personagens, até ontem omitidos e silenciados por força do "pensamento único", que lhe tem retirado a voz, escondido o pensamento e o argumento. Por último, estes (pensamento e argumento) estão longe de serem irresponsáveis, incoerentes, pouco consistentes  ou ilógicos, o que por si só era merecedor de maior aprofundamento e discussão pública, para além do combate politico-partidário.

Jerónimo de Sousa, embora estreante nos P&C, não é figura completamente escondida e totalmente omitida. Passa até com frequência nos jornais televisivos para lhe captar palavras que logo a seguir são distorcidas e desvalorizadas. É que se é verdade que Jerónimo é por vezes mostrado o seu discurso tem sido afastado das páginas dos jornais, das antenas e telejornais. Aposto que quem visualize o programa não deixará de estranhar a sensação de quem o está ouvindo pela primeira vez. O que diz assenta numa lógica muito clara e forte: Suas palavras, que dão titulo ao post, surgem, não como consequência de coisas que passem pela mente dos comunistas num negativismo sistemático e ortodoxo, mas como corolário do próprio debate, confundindo-se com uma sua conclusão. O que lhe redobra a força.

António Avelãs Nunes, é um "ilustre" desconhecido do grande publico. Seu discurso descasca a realidade. Coloca-a a nu. Pergunte-se onde andaria tal homem metido, mas mais valerá a pena perguntar porque o querem calar.

Sobre os restantes figurantes, António Capucho e Rui Machete? Foram isso mesmo: figurantes. De inicio, ou mesmo em quase toda a 1ª parte, assumiram com arrogância as posições conhecidas da ideologia dominante. Na 2ª parte, passaram a excelentes entrevistadores barricados na trincheira da asneira. 


06 maio, 2012

Homilias dominicais (citando Saramago) - 81


"A crise. Será que vamos voltar à praça ou à universidade? À filosofia?"

Ninguém, ou quase ninguém, deixou de pelo menos aflorar a iniciativa de um dos homens mais ricos do país e da dimensão do desconto por ele dado. Muitos foram os que caíram em cima de quem correu a encher despensas,  gavetas e armários com todo o rol de coisas e artigos mesmo até os desnecessários... Não, não me interrogo sobre se os irão consumir ou usar, falo de necessidade de os vender, doa a quem doer (e a maior dor está em quem os produz)... Queira-se ou não saber como se estruturou o desconto, sobre quem pesou, sobre as razões e consequências de tão grande campanha, que, para os mais clarividentes, é mais que isso - registe-se que toda a nossa vida tende a limitar-se a este jogo do consumo. Dava para escrever um livro, se tal romance não estivesse já escrito. Um romance de critica severa ao regime de opressão, de barbárie... Sinto que vivemos onde a alegoria do escritor nos colocou:

HOMILIA DE HOJE
"Cipriano Algor tinha as mãos a tremer, olhava em redor, perplexo, a pedir ajuda, mas só leu desinteresse nas caras dos três condutores que haviam chegado depois dele. Apesar disso, tentou apelar à solidariedade de classe. Vejam esta situação, um homem traz aqui o produto do seu trabalho, cavou o barro, amassou-o, modelou a louça que o encomendaram, cozeu-a no forno, e agora dizem-lhe que só ficam com a metade do que fez e que lhe vão devolver o que está no armazém, quero saber se há justiça neste procedimento." 
José Saramago, in "A Caverna", pág. 22-23 
"A mentalidade antiga formou-se numa grande superfície que se chamava catedral; agora forma-se noutra grande superfície que se chama centro comercial. O centro comercial não é apenas a nova igreja, a nova catedral, é também a nova universidade. O centro comercial ocupa um espaço importante na formação da mentalidade humana. Acabou-se a praça, o jardim ou a rua como espaço público e de intercâmbio. O centro comercial é o único espaço seguro e o que cria a nova mentalidade. Uma nova mentalidade temerosa de ser excluída, temerosa da expulsão do paraíso do consumo e por extensão da catedral das compras. E agora, que temos? A crise. Será que vamos voltar à praça ou à universidade? À filosofia?" 
José Saramago, in "Outros Cadernos de Saramago" - Abril.2009

Não sei o que Hollande fará... nem se há muito a esperar... quero apenas registar que bem pode ter acontecido o que aconteceu no video


Não foi inocente ter escolhido a versão com legendas em grego.
Que aconteça, tarde ou cedo (se possível, muito cedo...)

04 maio, 2012

Marx em Maio (ideias que ficam): O desenvolvimento das ciências e das tecnologias não alteraram, no essencial, a natureza das relações das classes sociais.


Criou-se a ilusão de até os sectores mais desfavorecidos poderem almejar a outras formas de estar
As ideologias do neoliberalismo e do pensamento único, espalharam a confusão e criaram a ilusão: o grande objectivo do capitalismo é a criação de uma classe média forte. Enquanto isso, iam-se (vão-se) criando massas de assalariados cada vez mais dependentes, vulneráveis e precários, dada a proliferação de novas formas de apropriação do factor "trabalho" por parte dos detentores dos meios de produção.
Outra ilusão é que tudo se resolverá com o aumento de produtividade à custa de baixos salários. Hoje reforcei a conclusão a que já tinha chegado... 
A foto, à esquerda, foi aqui roubada, a da direita por mim montada 

03 maio, 2012

"Se o homem é um produto das circunstâncias, humanizemos as circunstâncias" (Karl Marx, hoje citado por José Barata Moura)


"Se o homem é um produto das circunstâncias, humanizemos as circunstâncias" 
 (Karl Marx, hoje citado por José Barata Moura)
A foto (de José Ferreira) é paradigmática: 
Entre a extrema pobreza e o luxo da ostentação (que está para lá do cartaz), passeia-se uma outra classe social (difusa, à procura da sua própria consciência?)
AVISO: por estes dias, farei textos reduzidos, poucas visitas e um ou outro comentário apressado. Desculpem, estou ocupado

Quando um poeta (Manuel António Pina) cita outro poeta (Sophia) e o faz na altura certa...

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Nestes últimos tempos 

Nestes últimos tempos
É certo que a esquerda fez erros
Caiu em desmandos confusões praticou injustiças

Mas que diremos da longa tenebrosa e perita
Degradação das coisas que a direita pratica?

Que diremos do lixo do seu luxo - de seu
Viscoso gozo da nata da vida - que diremos
De sua feroz ganância e fria possesão?

Que diremos de sua sábia e tácita injustiça
Que diremos de seus conluios e negócios
E do utilitário uso dos seus ócios?

Que diremos de suas máscaras álibis e pretextos
De suas fintas labirintos e contextos?

Nestes últimos tempos é certo que a esquerda muita vez
Desfigurou as linhas do seu rosto

Mas que diremos da meticulosa eficaz expedita
Degradação da vida que a direita pratica?

Sophia de Mello Breyner Andresen - Julho de 1976

02 maio, 2012

As "motivações" do Pingo Doce são todas elas muito amargas. Mas as pessoas não são parvas. Umas estão alheadas e as outras... As outra sairam à rua, onde a luta continua!


"...Para já temos o facto de estarmos perante a mais grave recessão 
desde o 25 de Abril de 1974 com dados apenas até 2011" (daqui)

Acordei hoje com uma interrogação insistente: o que as pessoas pensam ser o pensamento dominante? A (aparente) estupidez consumista ostentada, e repetida até à exaustão, pela imprensa escrita, rádio e televisão e prontamente apontada por todos os que não acreditam em nada? Os comportamentos confusos e oscilantes entre o alheamento, o desespero e o medo e a que poucos dão relevo? A disposição para a luta assente na esperança e em convicções, da qual os media fizeram um quase coro de omissões e os que em nada crêem recriminaram e minaram?   

A (aparente) estupidez consumista ostentada - Digo aparente, pois o quadro recessivo é expressivo. Muitos responderam por uma necessidade sentida. São muitos, mas querem fazer-nos querer que são mais do que realmente são... Mas olhemos as possíveis motivações do Pingo doce, quanto a mim válidas no seu conjunto:
  1. Escoar stocks - O dramático decréscimo do consumo, terá levado ao consequente decréscimo das vendas do grupo e, assim, à fraca rotação do stock. Havia que engendrar uma forma de os fazer escoar... 
  2. Uma operação de marketing de impacto assegurado - As coisas não estão fáceis para a grande distribuição (o pequeno comércio quase desapareceu) e a luta concorrencial afigura-se ir entrar num patamar de grande dificuldade senão mesmo de sobrevivência. Passar a mensagem solidária com os desfavorecidos foi uma manobra que terá resultado do ponto de vista da imagem...
  3. Uma forma de impor mais um horário, alargando a jornada de trabalho com o desaparecimento do feriado - Embora o grupo mantenha uma politica de "recursos humanos" cautelosa (mas autoritária), havia de prevenir reacções negativas à mudança resultante desta imposição. A "bondade" da campanha terá servido para resolver qualquer resistência interna...
  4. Apagar a memória - A JM não é um grupo qualquer. Compete-lhe defender a ideologia dominante, combater ou neutralizar tudo o que possa fortalecer os movimentos que defendam os interesses dos trabalhadores e a luta por um trabalho digno e com direitos. Apagar a memória do 1º de Maio não foi um objectivo secundário... 
Os comportamentos confusos e oscilantes entre o alheamento, o desespero e o medo - O alheamento é permito por uma vida isolada e que ainda se vai vivendo preenchida por pequenas diversões e alienações, que o salário (ainda garantido) vai assegurando. O desespero, esse, é inseparável do medo. Medo de tudo, medos vários. Do medo já se fala em muitos tons, mas um tom se destaca como ameaça aos que baseiam a governação na manutenção da incerteza, mãe de todos os medos: "Há quem tenha medo que o medo acabe"

Os que manifestam disposição para a luta assente na esperança e em convicções - Estive entre eles. Conheço-os. Uns lutam há muito e desde sempre. Outros chegaram à luta só com a esperança de quem luta sempre alcança. É diversa a esperança e são diferenciadas as convicções. Eu vejo, com optimismo, que há razões para acreditar na unidade. Falarei disso, mais tarde...



01 maio, 2012

"A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar" - Eduardo Galeano

Não era este o titulo e o texto inicialmente pensados para o dia de hoje. Quase até à hora de editar, mantive a duvida entre falar da esperança, de como ela se vai desgastando (e de dar alguns contributos para evitar que aconteça tal) ou escolher escrever sobre a minha própria descrença ao ver a loja, aberta, com uma procura fora da necessidade comum, com consumidores ávidos de serem, eles próprios, comprados por um elevado desconto e afirmar que o capital não é tonto. Desisti disso. Desisto também, em cima da hora, de reescrever todo o texto de Juan Somavia (presidente da Organização Internacional do Trabalho, no Público de hoje, com o titulo “Este não é um 1.º de Maio qualquer"). Lendo bem esse escrito, acabo por perceber que entre o seu discurso e o de Arménio Carlos vai apenas o temperamento das palavras, pois as usa mais buriladas e leves. Não reescrevendo tudo, cito passagens. Estas: 
"O modelo de crescimento actual considera o trabalho como um custo de produção, que deve manter-se o mais baixo possível, para aumentar a competitividade e o lucro. Os trabalhadores são vistos como consumidores de todo o tipo de empréstimos, em vez de terem uma participação legítima na riqueza, através dos salários, para cuja criação contribuem. […] Os governos gastaram milhares de milhões de dólares para garantirem a [recuperação dos bancos]. Os trabalhadores não receberam o mesmo tratamento. […] Enquanto os bancos são grandes de mais para abrir falência, [as pessoas] são pequenas de mais para serem tomadas em conta. […] Avançar para uma nova era de justiça social exige cooperação, diálogo e, acima de tudo, liderança. Uma liderança impulsionada por valores humanos – e principalmente, pelo valor chave: o respeito pela dignidade do trabalho e dos trabalhadores.” 
O que eu queria mesmo era falar de meu irmão Eduardo. De como se inebria com iniciativas novas, de gente nova. De como falou e fala sobre este mundo grávido, sobre a esperança. Não concordo com tudo o que diz e faz. Contudo, dou-lhe a tolerância que dou a todos os românticos.  Filhos do mesmo pai, temos dessa paternidade heranças não de todo iguais. Apesar de seus actos desalinhados, sei que ele sempre esteve e estará do meu lado. É da família. Familia onde a discordância nunca a tornará desavinda.... 



Galeano, inebriado... Eu vou para a Alameda e ele anda por qualquer lado.