31 agosto, 2012

António Manuel Hespanha - Eu não me presto muito a insinuações, mas não me admiraria que na direcção da cooperativa esteja um punhado dos poucos que nos dominam. E eles não perdoam...


A blogosfera limita-se a repetir-lhe as palavras... 

Para clarificar eventuais mal entendidos, o professor Hespanha escreve hoje, na sua página do facebook: "a inicativa de não renovar o meu contrato foi decidida pela direcção da cooperativa que é proprietária da UAL". Assim, fica afastada qualquer hipótese de estar em causa pela Universidade a qualidade pedagógica ou cientifica do professor, de que goza, aliás, elevada reputação a nível internacional.

Não me presto muito a insinuações, mas não me admiraria que na direcção da cooperativa esteja um punhado dos poucos que nos dominam. E eles não perdoam...
"Portugal é dominado por cerca de 1500 a 2000 pessoas que funcionam em circuito fechado ― passam da oposição para a situação, depois para o Governo de onde saltam para empresas públicas, para bancos, para empresas privadas ligadas ao Estado, para conselhos de administração de televisões e empresas de média, para a direcção de jornais, voltam de novo ao Governo, etc. ― sempre as mesmas pessoas em animado carrossel, que falam entre si e para si, e tratam fundamentalmente dos seus interesses, enquanto o resto dos habitantes de Portugal são a Gleba a quem tudo é retirado e nada tem."
António Manuel Hespanha, in "Prós e Contras"

30 agosto, 2012

Liberdade de expressão? Lérias!... Inesperadamente e pela calada das férias...


O Professor tinha tudo preparado... 
mas não vai ser como esperava que fosse

"Para os meus alunos e colegas da Universidade Autónoma de Lisboa (UAL)
Deixei de ser professor da UA. Inesperadamente e pela calada das férias, a direção mandou-me dizer, por carta de entreposta pessoa, que punha fim à minha colaboração. As justificações apresentadas são fantasiosas e vazias, pelo que é seguro que há outras, porventura relacionadas com uma brevíssima crítica que formulei, num “Prós e contras” em que se comparava a qualidade dos setores público e privado. A propósito, referi a falta de uma política de investimento científico e académico do ensino superior privado em geral (nem sequer referi a UAL) e a consequente dependência em que isso o coloca perante o ensino público. Esta opinião é, de resto, favorável à real autonomia e a um desenvolvimento correto e sustentado das universidades privadas, como hoje está patente, pela positiva – veja-se o caso da Universidade Católica - e pela negativa. De há muito que legitimamente a tenho e
a exprimo. E, nos anos em que trabalhei na UAL (mais de dez), muitos esforços fiz: para trazer à Universidade pessoas que a prestigiassem; para dar ao meu ensino a melhor qualidade possível, para o inovar; para me ocupar pessoalmente (e não por intermédio de assistentes ou de colaboradores) das tarefas de ensino e de avaliação; para promover um contacto direto com os alunos, por meio de blogues ((http://amh-hespanhol.blogspot.pt/; para o ano que vem, já tinha on line, há mais de um mês, blogs relativos às novas disciplinas, com programas e calendários: http://ua-hi-2013.blogspot.pt/, http://ua-2013-te.blogspot.pt/). De modo a que nunca se pudesse dizer que fazia ali um ensino de segunda, em relação ao que fazia na Universidade pública. Colegas e alunos reconheceram isso e disso me deram testemunhos frequentes.
Enfim, nada disto contou, perante a vontade de quem – por razões que ignoro ou prefiro ignorar – não me queria na UAL. Sei que este desfecho foi promovido apenas por alguns, que conseguiram levar avante a sua decisão. Não envolvo, por isso, nele, nem toda a direção, nem os restantes órgãos da Universidade, nem os meus Colegas de Departamentos, nem os funcionários, nem os estudantes. Creio bem que muitos destes se sentirão muito incómodos por isto acontecer, ainda que – por razões que se compreenderão – se mantenham discretos. Em algumas instituições da nossa vida pública e privada, vai sendo muito penalizador dizer-se o que se pensa, mesmo em instituições em que a verdade e a liberdade deviam estar antes de tudo, como é o caso das Universidades.
Pode ser que nos encontremos em outros lugares e que possamos retomar diálogos proveitosos e de boa memória.
Abraços amigos.
António Manuel António Hespanha"

Eu apenas reajo... de pasmo


Não, não reajo de pasmo pelos insultos ao povo nem à hipocrisia que a imagem ilustra. Conheço esta gente e sei o que lhes vai na mente. O que me faz pasmar é que haja quem lhe dê tréguas e espere que caia um qualquer dia sem mexer uma palha para tal...



29 agosto, 2012

Redacções do Rogérito 11 - "A histeria"




O pior que podia acontecer era eu ter um "mau" nesta redacção pois ouvi  a vizinha do quarto andar a ralhar e a dizer para o neto dela estudar porque se ele tiver  "maus" vai ter muito que penar  e não vai poder ter outro destino a não ser o de canalizador que é  o que me pode acontecer a mim se tiver resultados escolares piores que aqueles que vão tendo os candidatos a jotas que a esses mesmo que tenham más notas não as vão ter porque os colégios bons não as darão e então esses serão todos doutores e engenheiros porque não teria jeito nenhum que o filho de um reputado ministro ou deputado fosse um enjeitado.  
Não sei como me safar se não sei o que é histeria que é uma palavra que o meu professor ainda não deu nem sequer ainda explicou ou exemplificou mas que eu acho que o apanhei a exemplificar no dia em que lhe vieram comunicar que ia ficar sem a minha turma ou até sem turma nenhuma mas fico também a pensar se histeria não será o desaforo que a minha vizinha do quarto andar  estar-se sempre a lamentar de que o Tó quer emigrar que o genro não tem onde trabalhar que a nora para trabalhar não tem hora e que ela queria ensinar ao neto o que era histeria mas porque até ela própria não sabia acho que acabou por ficar histérica e hoje ter ficado a ver o canal dois durante o dia todo que foi até de me por doido.
Acho que o senhor primeiro ministro é que é o culpado disto pois usa uma palavra cara e a minha vizinha não sabe como paga-la em acumulado com tudo e mais a conta da água...

Rogérito

28 agosto, 2012

"O desemprego na construção atingiu um máximo histórico em 2012 e o setor perde atualmente 90 postos de trabalho por hora". (Expresso)


Agora, nem as "boas práticas" de Chaplin nos valem...

Para além deste atrevimento de avinagrar coisas sérias, não deixo de  sublinhar que no meu anterior escrito (Maio de 2010) estava isto dito:
A política de crédito da banca contribuiu para o atraso e estagnação do país e consequente nível de desemprego (+/- 700 mil desempregados):
- apenas 7,3% do crédito foi concedido à agricultura, pesca e indústria
- 78,1% foi para a construção, habitação, imobiliário e consumo
Agora é um dos sectores que foi mais beneficiado que cai a pique. Resultado? Nem agricultura, nem pesca, nem indústria, nem (por consequência) consumo interno. Vai ser... um inferno!

AVANTE! (2)


Não, não se confirma que Patxi Andion volte, 
mas Ana Moura encerra a Festa, no Auditório 1º de Maio.
No palco principal, a Festa  encerra com surpresas nunca tidas
A escolha não vai ser fácil...

27 agosto, 2012

Geração sentada, conversando na esplanada - 10 (os cães são como os fazem os donos)

(Ler conversa anterior
"Sendo o homem um animal doméstico, quem melhor do que um cão para o educar?"- in "bons tempos hein?"
"Lentos, trôpegos, com os pés a tracejarem caminhos de sempre, todos os dias aquelas almas percorriam memórias. O cão mais velho que o dono - era o guia, a sua bengala de cego." - in "Mar Arável"

O rafeiro olhava-me com o mesmo olhar do senhor engenheiro...

Tinha decidido meter conversa com o senhor engenheiro. Inspirou-me o rafeiro. Iria começar por por aquele seu olhar quase humano.
- É manso?, perguntei e quando já aquela pergunta idiota ia no ar é que reparei quanto ela era escusada...
- Quem, eu?
- Não, o seu cão! 
- Não, o meu cão não é de fiar... 
- Parece...
- Nem tudo o que parece, é. Os cães são como as pessoas. As pessoas parecem uma coisa e, no fundo, são outra...
- Assim é!, disse, um pouco decepcionado pelo inesperado rumo da conversa. O rafeiro parecia um molengão... mas o senhor engenheiro continuava com a aquele ar de quem faz uma confissão que lhe oprime o coração:
- Sabe lá as cenas que esse cão me faz... Todos os dias, antes de sairmos, não me sai da porta. Arranha-a a toda, como que a dizer-me que estou atrasado e que está na hora. Se venho devagar, acelera. Se venho acelerado, obriga-me a parar. Chega aqui e põe-se assim, com aquele olhar de carneiro mal morto a exigir-me o pedaço de bolo. Esse cão dá cabo de mim...
Estava cada vez mais admirado. Sempre pensei que quem tivesse um cão assim, se aproveitaria para lhe gabar a inteligência, a capacidade de fazer guarda e companhia e que aproveitaria para louvar tal animal. Enquanto eu assim discorria, na mesa ao lado, a Teresa explicava à Rita que o feito do falecido astronauta Armstrog só podia ter acontecido depois do que uma cadela fizera, argumentando contra aquela, que dizia que há cães assassinos, lembrando aquele que matara uma mulher, filando-lhe a garganta. O engenheiro, que também acompanhou a conversa, explicou tudo numa pequena frase.
- Os cães, meu caro, são para o que são educados e treinados". Não contive a interrogação:
- Mas então o seu?...
- Faz exactamente o que lhe mandava a dona, que morreu... 
Olhei o rafeiro, que abanava a cauda, lampeiro, parecendo confirmar o que o dono acabara de afirmar. Despedi-me, com um até amanhã. No caminho ia pensando na falta que fazia ao velho engenheiro, a verdadeira dona do seu rafeiro...

26 agosto, 2012

Homilias dominicais (citando Saramago) - 96


A Lua_anda... exclamou Minha Alma com ironia... nesse dia!

Ando a reescrever e a citar palavras de mortos, pouco atraído pelas dos vivos. Lembro palavras ditas, há 40 anos atrás, por um morto, recente. Disse Armstrong que o Homem dera um pequeno passo mas que este seria um salto gigantesco para a humanidade. Vieram depois colocar em questão se o homem foi à Lua, ou não. Eu coloco outra, pois sou menos céptico, é a de saber se o salto a ser gigantesco o foi para a humanidade ou se para uma pequena parte dela. Sairia dessa  dúvida se acaso, por um  qualquer meio terreno, o meu amigo "Meia-Cuca" mo viesse afirmar a pés juntos, de lá donde o conheci, nas cercanias do Huambo...

Tenho por certo que desde então os pequenos passos dados por certa gente lhes serve para dar gigantescos passos para aumentar as desigualdades e dividir o mundo em várias humanidades ou, se quiserem, em diversas desumanidades. Razão, razão, tinha outro morto, no que dizia: "Triste época! É mais fácil desintegrar um átomo do que um preconceito." Nesta linha de descrença, confrontando o avanço da tecnologia com o atraso moral no usufruto dos seu benefícios, podia resumir a minha homilia aos dizeres de Saramago: "Chega-se mais facilmente a Marte neste tempo do que ao nosso próprio semelhante", não o farei. Hoje, a minha homilia, não se refere ao que Saramago dizia, mas ao que eu próprio escrevi. Excepção, então, ao me dar a palavra, a mim, um vivo. 

HOMILIA DE HOJE
«...Dia 20 de Julho (de 1969) seria um dia histórico para a humanidade, mas também para a desumanidade. Eu e o Meu Contrário não conseguimos lembrar-nos de todos os pormenores desse dia. Mas a Minha Alma, que tem memória selectiva, recorda todos os momentos sensíveis da aproximação a Luanda, capital da dita Província Ultramarina de Angola. A manhã estava particularmente agradável e ia aquecendo intensamente com o passar das horas. Fora convidado para jantar na messe dos oficiais tripulantes.
(...) O jantar foi animado e todos seguíamos as notícias da rádio, que começou a reportar a alunagem seriam 8 horas da noite até que o feito era assinalado horas depois e já cerca das 3 horas da manhã com palavras: «Este é um pequeno passo para o Homem, mas um grande salto para a Humanidade.»
Irónica, a Minha Alma dizia-me ao ouvido:
«Mais logo a humanidade dará mais um passo atrás!»
Irónico, Eu, também pensava:
«Se a Lua_anda, se calhar Luanda não estará lá para eu alunar…»
Poucas horas depois pisava terras de Luanda, que não se arredara. Chegara, não ao fim mas ao início de outro caminhar, sem pensar se teria ou não regresso, embora não fosse o risco de morte o que me ocupava a mente…»

Rogério Pereira, in "Almas que não foram fardadas", pág. 26

25 agosto, 2012

AVANTE!


Hoje, foi onde estive. depois de antes ter lá estado...
Para erguer qualquer cidade
são necessários vários níveis e estádios
de engenharia, arte e vontade
Na Festa, a tal que "não há outra como esta",
estão lá todas: engenharia, arte, vontade
As minhas, tidas por inferiores, terão servido ao que foi devido
Fui abastecedor de pregos, controlador de martelos,
escolhedor de madeira, aferidor de nível, varredor de serradura...

Vá la lá, usufrua, enquanto dura...
Não havia, em tempos de ditadura
Rogério Pereira

Globalizar afectos, juntar vontades de múltiplos lugares e cantares... 3

Não queremos problemas, nem armas, nem guerras...
Cantam-me de todos os lados
Em todas as falas
Com todos os instrumentos
Cantos, gritos, prantos
Não, não são lamentos
São cantos, gritos e prantos
Não queremos problemas
nem armas, nem guerras

Cantam-me de todos os lados
Cantos ainda silenciados
Contudo, cantam 
Rogério Pereira


Este e os anteriores vídeos desta série foram extraídos daqui



24 agosto, 2012

Globalizar afectos, juntar vontades de múltiplos lugares e cantares... 2


Há uma outra globalização a construir...
Num corpo só, o meu
Coabitam  
Uma alma Celta, que se inquieta
Um coração Luso, que pulsa
Um sangue Mouro,  que desperta
o coração Luso, a Alma Celta
para uma unidade que quero perfeita

Que faça o Mundo, 
como esse meu querer.
Eu ajudo, no que puder 
Rogério Pereira

23 agosto, 2012

Globalizar afectos, juntar vontades de múltiplos lugares e cantares... 1



Há outra globalização a descobrir...
(...) 
Não me limito à geografia de estar
Não sou estas fronteiras
Europa? Não sou de um só lugar
e para viver que se procure outras maneiras

Somos de todos os ignorados lados
Somos de mares antes navegados

Rogério Pereira, in Águia

As estrelas dormem de dia!


Jussara "descobriu"(*) que estas ilustrações, de Álvaro Cunhal,
ilustram um livro que me marcou... Nunca lhe disse que se enganou

O semanário Expresso editou, num fim de semana que já passou, "50 livros que toda a gente deve ler". A lista não é extensa, tem exactamente cinquenta títulos recomendáveis. Encontro, do muito aí promovido, muito do que li. Mas dos livros queridos, daqueles que marcam por terem sido os primeiros que me foram dados a ler... nem um. Podem crer. 
Vai dai, procurei em toda esta minha escrita, referências as esses meus primeiros amores. E descubro que Jussara editou um texto meu que nunca editei aqui. Nesse texto falo de livros que me marcaram. Daqueles que o Expresso "esqueceu" e que os lembro eu... 
_________________________

Dois livros marcantes

Há livros que não só nos marcam como passam a fazer parte da estrutura do nosso sentir (se é que o sentimento é coisa estruturada) e dos valores que lhe dão expressão. Livros que nos (re)iniciam na leitura. Refiro dois, lidos com pouco intervalo e quando era ainda entrara na adolescência: "Esteiros" de autor português Soeiro Pereira Gomes e "Capitães da Areia" do brasileiro Jorge Amado. Apetecia-me escrever sobre os dois, o que têm de comum e o que os diferencia, como me marcaram e emoções que me despertaram, mas não o farei. Por falta de tempo, pelo espaço que ocuparia abusando da cortesia da Jussara e também porque a memória iria atraiçoar-me, pois é bem distante o tempo em que os li. Falarei do livro, para vós brasileiros certamente menos conhecido: Esteiros o livro que foi dedicado, pelo autor “aos filhos dos homens que nunca foram meninos”:

A rua Morais Soares é uma rua singular de Lisboa por razões que um dia ainda hei-de escrever e porque grande parte do seu inicio é confinada por um muro alto, que rodeia o cemitério do Alto de São João. Em frente ao portão, não usado para as cerimônias fúnebres, do outro lado da rua havia uma loja, também singular por ter dois balcões. Cada balcão dedicado a negócio diferente: de um lado, livros para uso dos vivos; do outro, flores para honrar a memória dos mortos. Eu frequentava a loja, na parte dedicada à gente viva. Comecei a fazê-lo ainda usava calções. Ia lá alugar livros, pois era esse o negócio do Sr. Cunha (sua mulher vendia flores e construía com elas palmas, coroas e ramos belos). Durante anos a fio li tudo de que o Sr. Cunha dispunha: livros do Zé Fagulha, todos os da colecção de “Os cinco” e depois livros de “cobaiada” (aventuras de cowboys), policiais e até novelas de amor e dramas de “faca e alguidar”. Era literatura fraca, de enredo enredado e fácil de ler. Esgotei todos os títulos. Tudo eu li e o Sr. Cunha não renovava o stock com a mesma velocidade com que eu lia. Sem novidades, desabituei-me de entrar na loja e os anos foram passando, limitando o meu contacto com o Sr. Cunha e sua esposa e um cordial cumprimento, até como recompensa por ter perdido um freguês tão assíduo. Tinha para aí dezesseis anos e a escola não tinha conseguido mais do que continuar a cultivar-me os hábitos de leitura, sem contudo a orientar. Um dia o Sr. Cunha disse-me ter livros novos e convidou-me a entrar. Tinha, tinha muitos. Temendo ele minha escusa antecipou-se a uma eventual desculpa para me negar e mostro-me um livro dizendo tratar-se de aventuras de meninos da minha idade, mas serem aventuras sérias, coisas da vida real e segredou-me: “Há coisas que precisas de conhecer”. A capa não era sugestiva, mas as ilustrações eram. Ele leu-me uma página, descrevendo coisas que afinal eu até conhecia e acabou por me convencer a levar e a ler. Não era conhecimento novo era uma linguagem nova. Nova e bela, e ainda não tinha até aí lido uma como ela:
“(…) Sagui quase que não pregou olho toda a noite. Pelo colmo do palheiro que fora do guarda das vinhas via ele as estrelas a tremer com sono ou frio. Sono, decerto, porque, segundo a sua teoria mal o sol anunciava o dia, elas fechavam os olhos.
- Gineto: descobri que as estrelas dormem de dia.
- És parvo.
Se bem que escarnecido, Sagui manteve a afirmação. Tinha muita admiração pelo Gineto, que tudo resolvia; mas aquilo de estrelas, ele não percebia mesmo nada.
- Atão porque é que elas nâ se veem agora?
Ninguém explicou. O Coca, que tinha pena de não saber ler, ainda disse:
- Se eu andasse na escola, sabia.
Dias depois, Sagui fez a mesma pergunta a um aluno da 4ª classe, e, como o menino se calou também, ficou desde então convencido que as estrelas dormiam de dia. Gostava delas o Sagui. Chegava a entristecer-se quando alguma riscava o céu e desaparecia para sempre, num rasto de luz.”
Li todo o livro, mas retive-o até ter dinheiro para alugar outro. Na semana seguinte, o Sr. Cunha alugou-me o Capitães da Areia. Voltei a ser seu cliente e passei a ler os seus livros novos até lhe esgotar novamente o stock.

(*) Jussara se enganou, as ilustrações de Esteiros foram estes outros desenhos, também de Álvaro Cunhal

21 agosto, 2012

Mesa Redonda (4) - Tema: Martirizada terra.


Eu, Meu Contrário e Minha Alma, reunidos. Pensativos. 

Eu (dissertando sobre o foto) - Se ninguém faz nada, isto vai ficar... (e falou, falou, sem se calar)
Meu Contrário (com voz horrorizada) - Mas isso é.... a Terra martirizada... nem sei porque procuram Marte... se aqui a desertificação se espalha por toda a parte!
Minha Alma (com um humor deslocado) - Julguei que era a foto de um pormenor da pele de um elefante gigante...  
Eu (irritado) - Um deixa-se abalar, a outra goza. O pessimismo é um pensamento reaccionário. Fazer humor é  pior que olhar para o lado... Baixar os braços é fazer o jogo contrário...
Minha Alma (atrapalhada por ser repreendida) - Tens razão, não nos deixemos abalar. Mas que fazer?, a solução só pode ser... fazer chover. O Homem pode fazer chover?
Meu Contrário (pensativo) - O Homem pode é criar condições para reduzir a seca, mas faz exactamente o contrário.
Minha Alma (pensativa) - Florestando?  Evitando incêndios?... 
Meu Contrário (completando) - ...Controlando o abate criminoso de árvores... utilizando racionalmente a água e fazendo-a chegar onde for necessário regar...
Minha Alma (sem humor, mas com ironia) - O relvado de um campo de golfe bem regado, certamente que não chega... devia ser pecado e punir-se o pecador.

E os três continuaram a falar, sobre o tema, sobre o desaproveitamento do Alqueva, sobre para que serve uma maior consciência ecológica se os povos permanecem amorfos... e sobre a incerteza de a fome os despertar.

20 agosto, 2012

Foi há 46 anos...


...e não foi bem assim! Foi diferente...
Conto?
Não, não contes
Nem aos amigos se conta tudo...
Uns iriam achar fantástico, fenomenal
Outros, um disparate, um absurdo...
Tá bem, não conto
De acordo
Ambos acabámos de  acordar
Que eu não devia contar...

19 agosto, 2012

Homilias dominicais (citando Saramago) - 95

"Dentro de nós há uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que somos."

Sou taxativo e corro riscos por isso. Nem Saramago foi tão definitivo, pois nunca (que eu lhe conheça) colocou em dúvida que devam ser imputados à natureza humana, os erros, as maldades, as atrocidades, de que o ser humano foi capaz. Ele interrogava e interroga-nos. Eu faço afirmações. Afirmei a pés juntos que a tal natureza humana era uma tanga, uma mentira orquestrada pela cultura dominante. Saramago, aparentemente, foi mais contido, sem deixar de escrever páginas e páginas sobre a nossa humanidade e a falta dela. Contudo, sem formalmente o afirmar, não faltam textos que ilustram que Saramago não dá, à desumanidade do homem, o carácter definitivo que se, alguma vez usasse a expressão "natureza humana", lhe daria. Se o fizesse, eu não seria saramaguiano. Nem seria seu apóstolo.

HOMILIA DE HOJE
«Falo de uma mudança que levasse as pessoas a pensar que isto não é bastante para viver como ser humano. Não pode ser. Se nós nos convertemos em pessoas que só se interessam pelos seus próprios interesses, vamos converter-nos em feras contra feras. E aliás é isto o que está a acontecer.» - “A literatura não muda o mundo”, O Globo, Rio de Janeiro, 14 de Agosto de 1999

«Talvez a história do homem seja um enorme movimento que nos leve à humanização. Talvez não sejamos mais que uma hipótese de humanidade e talvez se possa chegar a um dia, e esta é a utopia máxima, em que o ser humano respeite o ser humano. Para chegar a isso se escreveu o Ensaio sobre a Cegueira, para perguntar a mim mesmo e aos leitores se podemos continuar a viver como estamos vivendo e se não há uma forma mais humana de viver que não seja a da crueldade, da tortura e da humilhação, que são o pão desgraçado de cada dia.» - “Escribí para saber si hay una forma más humana de vivir que no sea la crueldad”, La Voz de Lanzarote, Lanzarote, 25 de Junho de 1996
Acho, que se questionasse Saramago sobre as imagens que editei ontem, ele me diria ser mais difícil desenhar as lutas do povo contra tais excessos e que esse seria o desenho mais rigoroso...  

Qual natureza humana, qual tanga? - 4


A sequência de imagens não engana. Querem fazer crer que a evolução de humanidade é um emaranhado continuado de depravações e violência e que, assim, eis-nos chegados aqui sem emenda. Dar-nos essa imagem (ou permitir que a tenhamos) não é tarefa inocente. Nem é tarefa distraída de objectivos da classe dominante. Querem-nos fazer crer que não temos nada a esperar, que nos deixemos ficar sossegados no nosso lugar... Ficamos?

17 agosto, 2012

Drummond de Andrade: Mensagem aos vivos, 25 anos depois da sua morte

Qual natureza humana, qual tanga? - 3

Ana Paula Fitas, do "A Nossa Candeia", veio lembrar-me um video que já editara, uma parte, a propósito de afirmar haver em nós (cá dentro) um Eu, que decide as desavenças entre um Outro Eu  e a Nossa Alma. Achei, na altura, esse video um assombro mas demasiado longo para ilustrar essa questão: a de sermos seres complexos e tripolares, por isso mostrei apenas as afirmações onde Galeano me reforçava a tese...
Trata-se agora de explicar matéria ainda mais complexa, a de "a natureza humana ser uma tanga", e Galeano faz isso como ninguém, oiçam bem:


E que bela forma de sintetizar meus textos anteriores sobre o desenvolvimento humano...

A Dª Esmeralda e a vizinha do 4º andar, a conversar - (11)


A dona Esmeralda desfaz-se em elogios aos islandeses...

Vizinha do 4º andar - Mas porque raio, por cinismo, o Passos também devia apontar o destino? E que destino é esse, pode saber-se?
Dona Esmeralda - Esse coiso manda a juventude para fora, que a mande para a Islândia, já agora....
Vizinha do 4º andar - Para a Islândia? Aquela ilha pequenina, que não respeitou compromissos, nem pagou o que devia e que se esperava que desse o estoiro? O meu Tó ir para lá? Longe vá o agoiro!
Dona Esmeralda - Sua alma vai ficar parva. A ilha está salva. Salva e a respirar saúde. Não pagou a dívida? Mas se a dívida era só falcatrua, dinheiro mal ganho... sabia que há ex-governantes a responder em tribunais? E sabe quem salvou aquele país? O povo! Primeiro, vieram para a rua e fizeram tal estardalhaço a reclamarem ser ouvidos, a pedir um referendo e essas coisas que nem eu própria entendo. Depois votaram em pagar só o que era legitimo e realmente devido... Foi bonito de ver: o país a crescer e os credores a arder...
Vizinha do 4º andar - Verdade?
Dona Esmeralda - É como lhe digo...
Vizinha do 4º andar - Então... eles lá, fizeram o que os comunas dizem para se fazer cá
Dona Esmeralda - Ao que parece...
Rogérito (interrompendo, naquele preciso momento) - Vão dizer que não é nada disso. Que cada caso é um caso. Que a Islândia é diferente. Que não é como o que se passa com a gente... Os jornais vão ficar calados e o país vai-se partindo em bocados!

NOTA: Ao que parece, apenas o Público publicou. O Rogérito quase acertou.

16 agosto, 2012

Depois de uma morte anunciada em 2008, a Islândia ressuscitou e parece estar bem de saúde. Sem abrir mão dos apoios sociais, a Islândia reduziu a taxa de desemprego para menos de 5 por cento e, para 2012, está previsto um crescimento económico na ordem dos 2,4 por cento. Um caso único...


O povo se envolveu, se mobilizou e os governantes locais ouviram...  

Qual natureza humana, qual tanga? - 2

Quando há dias atrás escrevi, a propósito de corruptos e do poder: "Sou darwinista e quando me falam em natureza humana é como que a dizer: "deixa-os andar, não há nada a fazer, está no ADN do ser", estava longe de vir hoje a ler o que li. Parecia escrito dirigido como resposta ao que escrevi. Dizia uma senhora, doutora e, com prosa demolidora: "A Esquerda persiste na recusa ideológica em operar com o conceito de "natureza humana". O artigo referido, vem no Público de hoje e torna ainda mais claro o que eu dizia no outro dia: 
"Garantidos os pilares essenciais do Estado Social, Educação e Saúde, as pessoas votam em quem lhes prometer maior acesso a plasmas, casas, automóveis, iPad’s e viagens por paragens tropicais; por quem lhes garanta a posse de um maior número de bens, materiais ou simbólicos. Está na natureza dos homens, que a Esquerda encara erradamente como um produto transitório de um sistema social defeituoso. Quando em 1884 Engels presenteia a Humanidade com A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado, remete-nos para um mundo angélico, com criaturas a viverem felizes numa sociedade livre da praga do individualismo, em que tudo era comunitário (...)"
Claro que o texto diz muito mais que isto. Diz o costume, por parte de quem aceita a inevitabilidade do actual estado da arte, afirmando ainda que os comunistas nunca chegarão ao poder, embora admita, a finalizar, que tal possa acontecer por uma "circunstância absolutamente extraordinária e totalmente imprevisível." Que novidade, ou não fosse a marcha da história um caminho recheado de imprevisibilidades...

Imagem da net
Quem vê a mulher feita a partir de uma nossa costela, 
está-se nas tintas para entender que a evolução da humanidade está ligada ao 
papel da mulher e que ela já deteve o poder, antes do homem o ter.
Por isso insisto: a natureza humana é uma grande tanga. 

15 agosto, 2012

Qual natureza humana, qual tanga?. - 1

Ontem, afirmei-me darwinista e não aceitar que o comportamento humano tenha a ver com a sua natureza... Ninguém comentou essa parte. Talvez por delicadeza, para não entrar em conflito comigo, para não entrar em contradição ou, quem sabe, por não ter opinião. Mas outros lá foram dizendo, que de facto não há nada a fazer e usaram expressões populares do género "está-nos na massa do sangue". Claro que não concordo e tenho cá uma fezada que a nossa espécie não é nada daquilo que parece...

O Homem tem tido uma evolução tendencialmente mais humana.
Quando está quase a consegui humanizar-se, pimba, desumaniza-se  
A questão não está, como parece, na ancestralidade,
embora reconheça que os macacões, que andam por aí,
tenham grandes responsabilidades na regressão  civilizacional.
O que se passa é que andam distraídos com "entretengas"...

14 agosto, 2012

Eu me penitencio e retrato: "eles" não são iguais, só por que não sei quais são mais...


Por detrás deste sorriso, há um ar desolado mal dissimulado...

Eu me penitencio e retrato. Não podemos meter tudo no mesmo saco. Um exemplo desse não dever misturar tudo é o facto, mais que evidente, que os submarinos andam debaixo de água e os helicópteros andam lá no ar, que nuns casos se descobrem documentos e noutros não há forma de os encontrar... Me penitencio do acto de ter misturado casos não miscíveis e disso ter tornado publico, num comentário...
O que eu devia era mesmo falar, não do(s) caso(s) mas da ocasião, pois é sabido que é esta que faz o ladrão. Isso mesmo, em vez de falar deste e daquele e do outro e mais do padrinho e do enteado dele, devia era falar do sistema. Sim, do sistema. Qual natureza humana, qual tanga? Sou darwinista e quando me falam em natureza humana é como que a dizer: "deixa-os andar, não há nada a fazer, está no ADN do ser".
E o que é isso do sistema? Ah, quando surgem assim perguntas, respondo com respostas já dadas (para que se não diga que acordei agora) ou remeto para coisas a que poucos dão atenção:

13 agosto, 2012

O Diogo faz 3 anos....Hoje não há a agendada "conversa na esplanada"



O Diogo parece um miúdo calminho e bonito...

... mas o que ele é, é um autentico "mafarrico"...

...e o que ele queria para festinha?
Nem sei se diga...
"Gafanhoto frito,
com molho de joaninha"

12 agosto, 2012

Homilias dominicais (citando Saramago) - 94


Tivesse eu a grata satisfação de presenciar a cena 
e dispensaria até saber o que fora dito...

É verdade, tivesse eu tal oportunidade e dispensaria entrar na intimidade daquele diálogo. A curiosidade levar-me-ia a interrogar sobre o que diriam, mas manter-me-ia a reservada distancia... Basta que os conheça pelo que escreveram. De Jorge Amado, li livros seus entre os 20 e os 30 anos. De José Saramago, já muito depois dos 50. Um despertou-me para a utopia, o outro manteve-me desperto para ela.  Ambos me alimentaram o sonho e, pensando nisso, imagino o que naquela conversa terão dito...

HOMILIA (lembrando o centenário de Jorge Amado)
«Há esperanças que é loucura ter. Pois eu digo-te que se não fossem essas já eu teria desistido da vida.» - José Saramago, in "Ensaio sobre a cegueira"
«Não possuímos direito mais inalienável do que o direito ao sonho. O único que nenhum ditador pode reduzir ou exterminar.» - Jorge Amado, tirado daqui

11 agosto, 2012

Lição de economia - 3


Optimismo reina entre os viajantes, e tudo voa como antes...


Se a economia não cair, a industria aeronáutica irá rever todos os seus planos...
Para que raio servirá fabricar aviões com tantas propulsões? 

Lição de economia - 2


O buraco é uma coisa... ninguém ao certo sabe... 
mas mete tanto medo... que o melhor é adiá-lo
Há quem venha a seguir ? Deixá-lo... 
Um dos pressupostos para adiar o buraco 
será reduzir o salário e aumentar o trabalho precário
mas isso é mania
Podia explicar melhor, mas precisaria mais quadro...

09 agosto, 2012

Alqueva? Não há azar, irá ser uma grande e excelente ETAR...


Desde menino que sonhava que o sonho se realizaria...

No baú dos meus escritos, com etiqueta de "Reforma Agrária", estão mais de uma dezena de textos falando de Alqueva. Desde uma cronologia onde escrevia que sonhava com dizeres do meu herói, um quase ignorado engenheiro com um nome que o liga ao filho (que também admiro), até um poema que fala de desertificação, há lá que ler até mais não. 
Hoje as noticias dão a última machadada no sonho. Haverão acusações, argumentos e mais argumentos. Esquecer-se-ão, acusadores e acusados, que cada um tem seu quinhão, pois as valências do sonho foram a pouco e pouco, ao longo da citada (e nessa altura incompleta) cronologia, destruídas por todos os governos, desde a famigerada lei Barreto. Da valência agrícola à da aquacultura, desta à da energia e, por fim. a valência salvadora, a do turismo de luxo, todos os governos foram matando, cada um à sua maneira, o sonho que desde menino tenho sonhado.

Diz-me uma pedra, das que constituem o meu petrificado povo,  condoída com a minha expressão sofrida: "Não há azar, Alqueva irá ser uma grande e excelente ETAR"
 - Que grande merda, ter de dar razão a uma pedra.  

NOTA: Este post vai ter a mesma etiqueta. Talvez um dia a Reforma Agrária saia da gaveta

08 agosto, 2012

Gonçalo M. Tavares: "Eu grito para um animal, ele foge. Eu grito para uma planta, ela não foge, mas talvez sinta algo, deixe-me exprimir assim. E eu grito para uma pedra e nada: nem foge nem sente coisa alguma."


As pedras andam tristes, mas pouco se mexem
Não é verdade
Não é verdade, que na hierarquia dos elementos
não haja momentos
em que a pirâmide não se inverta
e se movimente
aquilo que aparentemente
não se movimenta
e não sinta
o que qualquer outro ser sente

As citadas pedras, são o caso
Conheço as que se vão deixando estar
deixando estar, sem mudar de lugar
mas vão mudando
mudando lentamente
mudando seu estado
de pedra bruta a "calhau rolado"
e rolam, rolam, rolam
ao sabor das ondas e de cada maré
e falam, parecem dizer, "É triste, não é?"
As pedras estão convencidas que é seu destino

Só numa coisa o Gonçalo tem razão
"tudo o que é divertido...
... tem dois lados sérios"
e
"tudo que é sério...
... tem dois lados divertidos"
Precisamos de dizer isso às pedras
Rogério Pereira
AVISO AOS INCAUTOS: Este arremedo de poema nada tem a ver com o texto que o Gonçalo M. Tavares escreveu 

Depois da sua entrada (Julho passado) no Mercosul, a Venezuela vê seu presidente sair com imagem reforçada e deitadas por terra todas as campanhas que o pretendiam descredibilizar, ridicularizando-o e omitindo-lhe a obra...


... depois disso, Hugo Chaves recebe apoio explícito e presencial
do grande actor norte-americano Sean Penn
Eu aplaudo, bem como tudo que é aqui dito, e repito:
"...já me mete algum nojo, são os milhares de artistas que andam por aí, borrados de medo, tentando agradar a todos, fazendo tudo o que é humanamente possível para que não se perceba que têm qualquer preferência partidária, ou, sequer, uma ideologia... insistindo na tecla já esfarrapada de que a arte não tem nada que ver com política... argumento tão manhoso e falso hoje, como no tempo das gravuras rupestres"
Samuel/Cantigueiro

07 agosto, 2012

Curiosity: "Chega-se mais facilmente a Marte neste tempo do que ao nosso próprio semelhante" (Saramago)


Testemunham textos anteriormente escritos que sempre tive preocupação de caminhar entre duas culturas, mesmo quando escrevia sobre futilidades e dissertava sobre os efeitos da electrodinâmica nas relações amorosas. Por isso fui sensível à proeza da ciência e da tecnologia e quase me levantei aos pulos e aos berros vitoriando o feito, como se dele tirasse eu proveito. Se tivesse um Mars em casa também assim festejava. Depois cai em mim, e a cultura humanística me beliscou relembrando outras palavras de Saramago:"O único progresso verdadeiro é o progresso moral."

Foi com a certeza de que este sucesso nos afasta, mais do que nos aproxima, da resolução dos grandes problemas da humanidade, que esfriei o entusiasmo. A chegada a Marte é espantosa, mas em nada contribui para a mudança do paradigma actual em que o desenvolvimento se faz sem se ter como objectivo a felicidade humana. Deu-me mais esperança o discurso de Pepe Mujica do que o sucesso deste passo dado para a exploração planetária.

Agradeço à Helena Pato este video que me disponibilizou no facebook

06 agosto, 2012

Geração sentada, conversando na esplanada - 9 (o rafeiro, um ser pensante)

(Ler conversa anterior)
"Pode-se admitir que nenhum animal é auto-consciente, se com esse termo estiver implicado que ele reflete em pontos tais como de onde vem e para onde vai, ou o que é a vida ou a morte, e assim por diante. Mas como podemos ter certeza que um velho cão com uma excelente memória e algum poder de imaginação, conforme demonstrado por seus sonhos, nunca reflete sobre os prazeres e dores passado vividos nas caçadas? E isso seria uma forma de autoconsciência." - Charles Darwin (aqui)
"Não pode ser fidalgo quem não ama um cão" - (provérbio inglês do séc XVIII).

Ele sustentou-me o olhar, como que a dizer-me "Eh pá, vai passear..."

Lutava comigo próprio à procura de concentração igual à do cão, mas sem sucesso. Na mesa ao lado, em conversa animada, elas falavam sobre tudo e sobre nada: ora era sobre o desgosto pelos programas televisivos acabados e sobre a falta de qualidade do último "Ídolos", ou sobre a Marylin que falecera há 50 anos, para depois ir buscar a Bárbie, tecendo comparações. O mais importante que fiquei a saber, foi que a Zita tivera em menos de um ano uma dúzia de bonecas às quais chegou a invejar o guarda-roupa, pela quantidade e por estar mais centrada na moda do que as vestes dela própria. 
O cão conseguia estar concentrado no esvoaçar do pássaro, eu não conseguira chegar ao fim do primeiro ponto final do meu primeiro artigo escolhido, no jornal. Quando a cabeça não se concentra numa tarefa o melhor é procurar outra e dei comigo a pensar na evolução natural e o que valia a capacidade de pensar do ser humano em comparação com a de um animal. E nessa altura aconteceu algo de simultâneo, os meus olhos cruzaram-se com os do rafeiro sem que fosse perceptível quem olhou primeiro. Olhei-o dentro dos olhos e ele pagou-me com o mesmo preço. "Não retiro os meus", acho que pensámos os dois, pois ele não retirou os seus e sustentou o meu olhar, até que pensei como se quisesse entrar em diálogo. "Teríamos coisas mais interessantes para conversar, caso pudesses falar". Claro que o rafeiro não falou, mas abanou a cauda como se estivesse de acordo. Até que pressenti que o rafeiro me lançou um olhar derradeiro, antes de mudar de lugar. Parecia querer-me dizer: "Eh pá, vai passear". Gostei daquele comportamento e pensei que minha próxima conversa seria com o senhor engenheiro, o dono do rafeiro, que certamente era, em parte, responsável pelo temperamento afável e pachorrento do animal.
Quando regressei à leitura, já o fiz mais concentrado. 

05 agosto, 2012

Homilias dominicais (citando Saramago) - 93


E a esperança também dorme, um sono enorme
Dos lábios ainda brotam sorrisos antigos
e no rosto sereno
desenha-se uma vontade oculta de voltar
O corpo, outrora apenas deitado,
jaz agora sob o musgo, de verde esperança atapetado...
Deixou-se, com o passar do tempo, soterrar.
Acordará com um só susto ou gesto irado e brusco?
Se acordar, será que se solta?
Ou terá que esperar que tudo se desmorone à sua volta? 
Rogério Pereira (uma outra versão desta edição)
HOMILIA DE HOJE
"A Terra rebentará, podemos tê-lo por seguro, mas não será para amanhã. Do que estamos a necessitar é de um bom susto. Talvez despertássemos para a acção salvadora."
José Saramago, in "Outros Cadernos..."

04 agosto, 2012

Os anos passam...


É (está,ainda,sendo) o dia dela, da minha sereia...


Ela cerca a natureza, e a natureza se deixa cercar por ela...

METAMORFOSE, uma história impossível, vai ser o inicio de um livro...

Apresentei, há uns dia atrás, a sinopse de uma história que vai ser integrada numa colectânea de histórias, de outros autores, umas horríveis outras impossíveis. Sobre a colectânea pouco sei dizer mais do que apresentar-lhes a capa e dizer-vos que é mais uma (excelente) iniciativa da Pastelaria Estúdios Editora
Não faltando situações horríveis a darem bons temas de arrepiar, eu optei por escolher um tema impossível e não posso (nem devo) adiantar mais do que adiantei já. Acontece que desde que escrevi, senti que o meu escrito bem podia ter seguimento. Até porque termina num nascimento, num contexto de grandes mudanças que, para a história ser mesmo impossível, são inimagináveis. Andava eu nestas dúvidas de avançar ou não, quando um post (da Fada do Bosque) me dá o derradeiro empurrão, ao editar este video. E mais não digo:


Quanto ao  video, esta história real é, simultaneamente, uma história horrível.

03 agosto, 2012

Falar da Síria... à séria

Num outro Agosto,faz agora um ano, eu fazia um link a um artigo intitulado: "Uma "guerra humanitária" à Síria? Escalada militar. Rumo a uma guerra mais vasta no Médio Oriente-Ásia Central?" da autoria de Michel Chossudovsky. O artigo começava com uma confidência de um general e vinha, até, com o nome do senhor, um tal Wesley Clark, que segredava mais pelo vicio de falar em segredos que pela vontade de os guardar:
"Quando retornei ao Pentágono em Novembro de 2001, um dos oficiais militares superiores teve tempo para uma conversa. Sim, ainda estamos em vias de ir contra o Iraque, disse ele. Mas havia mais. Isto estava a ser discutido como parte de um plano de campanha de cinco anos, disse ele, e havia um total de sete países, a principiar pelo Iraque e então a Síria, Líbano, Líbia, Irão, Somália e Sudão".
E não é que, depois de eu confirmar que tudo como ele disse se estava a passar o Michel Chossudosky faz outro artigo e reconfirma tudo. Reconfirma com mais nomes e factos. Este novo artigo deixou-me aterrado, desde logo pelo titulo agora dado: "A guerra dos EUA-NATO contra a Síria: Forças navais do ocidente frente às da Rússia ao largo da Síria", e trás fotografias, designadamente esta:


...e este navio atracado tem outros, EUA-NATO, espalhados por todo o lado,
o que me dá uma dor de cabeça do diabo...

A quem não dói a cabeça é ao Pureza, que no seu falar "independente moderado", ignora este facto. Este e outros. Ignora até mesmo coisas que o Paulo Dentinho aflorou e que eu, sabendo ler nas entrelinhas, lá vou magicando sobre o que se passou e vai passado. Quer também saber? Basta ver. Ver e ouvir com disposição de  escutar. O quê? Isto, isto e isto. Ou me engano muito ou o Dentinho, pelo mínimo, vai levar um puxão de orelhas por não dizer as coisas direitas e deixar que se entenda nas tais entrelinhas... 

Quem a partir de hoje dormir descansado eu acho que está embalsamado. Ou então é... um zumbi.

NOTA: Nos três links referentes ao "serviço" de Paulo Dentinho, o que vale a pena ouvir são os directos... O resto, se tiver tempo...

02 agosto, 2012

Ministros, cadáveres vivos, gente sem alma... entrámos na era dos zumbis

Não, não se trata de nenhuma das portas das traseiras de nenhum Ministério
Nestes, os cadáveres políticos, movimentam-se pela porta da frente e parecem gente
(roubo feito a "O Sitio dos Desenhos")

01 agosto, 2012

Ser feliz? A outra interpretação (a que faltou, por parte de quem comentou)


Se  ninguém se deu conta da foto a sépia, falemos então do seu negativo...

Saramago (não esqueçam que sendo saramaguiano, o cito de vez em quando) escreveu "Tentei não fazer nada na vida que envergonhasse a criança que fui". Terá morrido na tranquilidade de pensar ter conseguido o resultado desse desiderato. E, se assim foi, diria que partiu feliz. Evito, na minha escrita, seguir-lhe formulas e estilo, mas dou comigo (tantas vezes) a copiar-lhe o pensamento, coisa que, como sabemos, é mais fácil de defender de eventual acusação de plágio. Quando escrevi que ser feliz "é saber olhar para trás e saborear a memória" estava tentando dizer isso mesmo. Queria dizer, ou deixar passar esse mensagem subliminar e de orgulho mal escondido, de não ter feito nada que nem me envergonhasse a mim, nem a criança que fui. 
Nesse anterior escrito, havia outra referência  a essa felicidade sentida, mas que me é servida nos seus serviços mínimos: o ter alguém (ah, este maldito sentido de posse) a quem não gosto de fazer esperar. É que em troca ela me conforta e dá alento. Alento para em cada dia poder encarar, com a força necessária, este mundo. E qual mundo? Este, que você vê (vê mesmo?) e eu vejo. Vejo sem olhar para o lado, nem que seja por um bocado...


Video "roubado" a Manuela Araújo, do "Sustentabilidade é acção"

OMNI (objecto marinho não identificado) - 2



Além daquele outro
mais este ser marinho
Golfinho?
Tubarão?
Neto?
Quem dá o palpite certo?