31 outubro, 2012

Dois anos (praticamente) passados e um novo Prémio Dardos

«O Prémio Dardos é o reconhecimento dos ideais que cada blogueiro emprega ao transmitir valores culturais, éticos, literários, pessoais, etc... que em suma, demonstram sua criatividade através do pensamento vivo que está e permanece intacto entre suas letras, e suas palavras. Esses selos foram criados com a intenção de promover a confraternização entre os blogueiros, uma forma de demonstrar o carinho e reconhecimento por um trabalho que agregue valor à Web».
JP, "Ao Correr da Pena", lá deixou o meu nome agraciando-me com tal troféu. Fico, mais uma vez, desarmado de palavras restando-me apenas as suficientes para lhe agradecer.
O Prémio Dardos tem as seguintes regras: Exibir a imagem do Selo no blogue; Revelar o link do blogue que me atribuiu o Prémio; Escolher 15 blogues para premiar.
Estando as duas primeiras já cumpridas, não respeito inteiramente (mais uma vez) a terceira, pois são numerosos os blogues merecedores: se falho algum dos que habitualmente visito, as minhas desculpas antecipadas; se coloco aqui blogues que estão inactivos, faço-o como incentivo a que voltem; se coloco aqui amigos que deixaram de me comentar, faço-o porque não os excluo do mérito que lhes reconheço. Ena, tantos:
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http://asintimidadesdacuriosa.blogspot.com/ ; http://lostinjapan.portalnippon.com/
http://abeica.blogspot.com/ ; http://anapaulafitas.blogspot.com/ ; http://manuelacolaco.blogspot.com/ ; http://abbsinto.blogspot.com/ ; http://avesemasas.blogspot.com/ ; http://acasadamariazita.blogspot.com/
http://lolipop-banzai.blogspot.com/ ; http://okayempatins.blogspot.com/
http://chocolatecompimentagtt.blogspot.com/ ; http://cirandando-ariel.blogspot.com/
http://damageamor.blogspot.com/ ; http://lasefoiatagarela.blogspot.com/
http://diariodebordo-diaadia.blogspot.com/ ; http://doce-ou-travessura.blogspot.com/
http://donatien52.blogspot.com/ ; http://ematejoca-ematejoca.blogspot.com/
http://adeliaasousa.blogspot.com/ ; http://forumlc.blogspot.com/
http://lesadosemgeral.blogspot.com/ ; http://luisrcoelhohotmailcom.blogspot.com/
http://madeinportugal560.blogspot.com/ ; http://mararavel.blogspot.com/
http://pralemdafachada.blogspot.com/ ; http://wanderleyelian.blogspot.com/
http://ocantinhodomestre.blogspot.com/ ; http://opuma.blogspot.com/
http://ob-servandoeab-sorvendo.blogspot.com/ ; http://www.palavrasvagabundas.com.br/
http://pequenosbarulhosinternos.blogspot.com/ ; http://pimpmyportugal.b ; logspot.com/
http://planicies-da-memoria.blogspot.com/; http://inconscienciapura.blogspot.com/
http://reflexoeseoutrasdivagacoes.blogspot.com/ ; http://relogiodependulo.blogspot.com/
http://rubraacacia.blogspot.com/ ; http://searasdeversos.blogspot.com/
http://semargens.blogspot.com/ ; http://sucosuquinhosucodinho.blogspot.com/
http://sustentabilidadenaoepalavraeaccao.blogspot.com/ ; http://saobanza.blogspot.com/
http://sotepeco5minutos.blogspot.com/ ; http://terrear.blogspot.com/
http://taobomseravo.blogspot.com/ ; http://tomilhomentaehipericao.blogspot.com/
http://uivodaloba.blogspot.com/ ; http://voxnostra.blogspot.com/
http://sandra-sentidos.blogspot.pt/ ; http://africaempoesia.blogspot.com/
http://picosderoseirabrava.blogspot.pt/ ; http://cronicasdorochedo.blogspot.com/ ;
http://naquintadorau.blogspot.com/ ; http://siicetsiimpliiciiter.blogspot.com/
http://antreus.blogspot.com/http://rendarroios.blogspot.com/
http://bioterra.blogspot.com/http://bixudipe.blogspot.com/
http://burgos4patas.blogspot.com/http://caixadospregos.blogspot.com/
http://historias-com-mar-ao-fundo.blogspot.com/http://iurisetanto.blogspot.com/
http://lerescrevereviver.blogspot.com/http://joaobel2011.blogspot.com/
http://ac-wwwinterioridade.blogspot.com/http://bonstemposhein-jrd.blogspot.com/
http://quem-es-que-fazes-aqui.blogspot.com/http://ositiodosdesenhos.blogspot.com/
http://francis-janita.blogspot.com/http://mitosonhorealidade.blogspot.com/
http://carlotapiresdacosta.blogspot.com/http://os7degraus.blogspot.com/
http://raraavisinterris.blogspot.com/http://redangelmyotherside.blogspot.com/
http://reflexosnexos.blogspot.com/ ;  http://ventaniasrosadas.blogspot.com/
http://roseira-branca.blogspot.com/ ; http://pekenasutopias.blogspot.com/
http://marecinza.blogspot.pt/ ; http://viniciuseduardocarvalho.blogspot.com/
http://octopedia.blogspot.pt/ ; http://dispersamente.blogspot.pt/
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Quando passei a pente fino a lista, dei-me conta que quem me ofereceu o primeiro "Dardos" não figurava nela. E o prémio também para ele vai:  http://conversasdaquiedali.blogspot.com/

30 outubro, 2012

"Nem é preciso haver censura para hoje se condicionar a forma de fazer jornalismo", foi mais ou menos isto o que foi dito...

Os jornais concorrem entre si, mas têm agendas comuns... Fragilizar a Lusa, só ajuda!

"O jornalismo e o futuro" foi o tema do "Prós e Contras" de ontem. Tinha de lhe pegar...

"No jornalismo vive-se um clima não diferente do que acontece na maioria das empresas. É um clima de medo: o trabalhador não contraria a direcção, por medo de ser despedido; a direcção não contraria o patrão, com medo de ser substituído; o patrão não contraria o Governo com medo de lhe perder os favores..." 

Regresso à leitura de um jornal, para perceber os efeitos disto. Peguei no Expresso e fui às colunas de opinião dos directores. Um diz que sim, outro quase igual... Dissipei todas as dúvidas: (o que foi dito no programa bate certo) e as consequências estão à vista:
vamos ser formatados para aceitar o Bloco Central... e esse vai ser o tema da agenda comum dos jornais. Nem mais...

29 outubro, 2012

António José Seguro e a estratégia labirintica de Pedro Passos Coelho

[reedição de um post editado faz hoje (precisamente) dois anos ]

Em finais de Julho escrevia eu (aqui): "Quando se define, como Pedro Passos Coelho fez, uma estratégia labirintica muitos se apressam a dizer que ela não leva a lado nenhum. Cuidado, PPC tem todo o percurso na mão, conhece os atalhos sem saída e, como foi ele que a desenhou, sabe que a única saída é a que conduz a uma consolidação dos interesses da classe que defende, dos ricos e dos poderosos (...) Não precisa ter um discurso eleitoralista, pois não é suposto haver outras eleições que não sejam as "presidenciais". Mas há sondagens e PPC resolve submeter o seu projecto ao "escrutínio" das sondagens.
O PS subestimou essa estratégia de radicalização, mas entrou nela... Era inevitável, pois ao PS ficou pouca margem para inflectir nas politicas seguidas e sem condições para reagir às pressões internacionais.-
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[[reedição (parcial) do texto a que se refere o link acima e que parece ter sido escrito ontem]

«... Ana Paula Fitas, na "A nossa candeia", faz juízo depreciativo, escrevendo: "Passos Coelho começou por passear na avenida, distraiu-se numa rotunda, avançou em alta velocidade por uma auto-estrada sem portagens e foi parar a um descampado sem saída?". A imagem é interessante, mas infelizmente não corresponde à verdade. Passos Coelho definiu as regras do jogo e, depois das presidenciais, prestar-se-á a guiar o PS no caminho de saída do SEU labirinto e irá ter a uma nova Constituíção, naturalmente sob a batuta de um presidente... conveniente:
«Objectivamente, Portugal está num limiar da insustentabilidade e parece-me importante que o Presidente possa chamar a atenção de todos os intervenientes políticos para encontrar um caminho alternativo àquele que tem vindo a ser seguido» 
Palavras de PPC, Julho de 2010, aqui

O "caminho alternativo" há muito PPC o definiu. Seguro pede esclarecimentos sobre o que está farto de saber. Finge ignorar que o seu "adversário" colocou mais uma lebre a correr. A outra chamava-se TSU, esta dá pelo nome de REFUNDAÇÂO... Esta, como a outra, sairá a meio  da prova... mas, se o deixarmos, nem um singelo cravo sobrará... 

NÃO PASSARÃO!!

28 outubro, 2012

Geração sentada, conversando na esplanada - 16 (mudança da hora)

(Ler conversa anterior)
"O martelo demonstra a sua amizade em relação ao prego batendo-lhe com força na cabeça. A amizade é tornar a outra coisa útil, pois só assim essa coisa se reproduzirá. Uma fábrica que produza coisas inúteis não abre ao segundo dia. Se não existissem martelos os pregos já seriam objectos em perigo de extinção. É, pois, com alegria que o prego vê o martelo a bater-lhe com força na cabeça." - Gonçalo M. Tavares 
"Nada é tão constante como a mudança" - Heráclito de Efeso

Ao chegar o coração deu-me um baque. Ele olhou-me com aquele ar parado a que me tinha habituado, mas o abanar agitado do rabo era sinal de que tinha tanto contentamento de me ver quando de eu ver a ele. Se estava ali o rafeiro, não andaria longe, nem demoraria, o  velho engenheiro. Antes de ele chegar vieram elas. A esplanada compunha-se. Pela conversa percebi que a maior parte delas eram professoras. Quem podia supor que o eram se nunca as conversas enveredaram por assuntos que o denunciasse. Enquanto pensava que aos domingos tinha recuperado aquelas amizades inconfessadas, elas iam falando desencontradas nos temas. Ora queixando-se das turmas, ora dos horários, até que a Teresa mudou de assunto: 
- Passei a comprar o DN só para ler este gajo!
- Quem?
- Este!, e expunha a página que queria mostrar.
- Não gosto de gajos com barbas...
Teresa leu toda a página como quem declamava. 
- Que tal?
- Mas esse texto, no final é muito ambíguo...
- Tens é pregos na cabeça, abana lá! - atalhou a Teresa mal aceitando o reparo.. Todas riram. A Rita pegou no jornal e leu, colocando a voz como se falasse num púlpito  "O capital tem medo da luta organizada, não de protestos", para de seguida rematar - eu gosto é do Jerónimo. Todas a olharam espantadas, e eu também olhei com o mesmo espanto. Depois fiquei a pensar se muda a hora porque é que uma pessoa não poderá mudar. É certo que é mais difícil, mas .. "nada é tão constante como a mudança".

AVISO: Pelas razões explicadas, as Conversas serão editadas aos domingos 

Numa família grande, (quase) todos os dias são dias de festa... hoje é esta!



Não, não é assim tão sofisticada. É criativa e... "mais nada"
Parabéns, miúda!

27 outubro, 2012

Não consegui ir...

Tinha-me comprometido. Depois de ter ficado encantado por figurar na colectânea, logo publiquei a sinopse de meu conto , divulguei o projecto e agendei a minha presença na sessão da sua apresentação. Faltei... e sinto-me penalizado... As minhas desculpas à Teresa Queiroz e aos meus parceiros-autores dos "Ocultos Buracos". A todos desejo o merecido sucesso!

Qual o custo mais elevado? O do ensino público ou o do privado?

Estes meninos dificilmente entrariam num colégio privado... (Street Art by By Codex Inferno)

Em discussão com o meu genro acho que fui vencido, ou ele ter saído com a convicção de que ele é  tinha razão. O tribunal de Contas vai merecendo crédito e, em relatório seu, dizia que o custo de um miúdo era mais elevado (500€) no ensino público. Tivesse lido isto aqui ou o que depois fui ler neste outro lado e o meu genro teria saído mais esclarecido e sem tanta certeza de me ter vencido. (francamente o que acho é que ele me pica para me medir a genica...)

26 outubro, 2012

Classes sociais e outras coisas mais...


Um estupendo desenho numa metáfora porreira.. vou descodificá-la (à minha maneira)

Com o socialismo metido na gaveta, não foi preciso muito tempo para lá ir também parar um conceito perigoso: o de classe social. Isso, e tantas outras coisas (que não vêm agora a propósito) deram terreno a que se avançasse com a injecção de dinheiro, que compensasse  o que foi para o galheiro... E que foi para o galheiro a troco da entrada de dinheiro? O que foi para o galheiro, foi a produção industrial (com o emagrecimento violento da classe operária, reduzida a pouco mais que nada). O que foi para o galheiro, foi a produção agrícola  (com a numerosa redução de assalariados agrícolas e camponeses, convertidos em imigrantes e malteses). O que foi para o galheiro, foi quase tudo o que era pesqueiro (com a dramática diminuição de pescadores-marinheiros). O que foi para o galheiro, foi a frota mercante (com a quase prática extinção desses operários do mar). 
Em troca acontecem dois factos relevantes:
  • os sectores da construção civil, do comércio e serviços crescem como o caraças; 
  • passámos todos a ser classe média... 
E agora?  Voltamos a ter operários, camponeses, assalariados rurais, pescadores, marinheiros e outras coisas mais? E com consciência de classe?... 

Ah!, e se conhecerem alguém dessa outra classe emergente, que faz da vida uma caridosa missão de ajudar toda a gente, avisem. É que o gajo de lá de cima precisa de mudar a cuequinha e de calçar uns chanatos... podem ser dos mais baratos!

25 outubro, 2012

A arte de bem voar, precavendo grandes quedas e em guarda contra as aves de rapina...


Instruções, para a arte de bem voar
Quando as asas atingem ampla envergadura
Quando o corpo atinge a apropriada altura 
Quando a mente começa à beira de se ansiar
Há que seguir o guia da arte de bem voar

A primeira regra é fácil de dizer, difícil de fazer
É treinar o olhar, para saber (sempre) onde poisar
É estar aberto à observação e ao aprender 
É educar a atenção, a inteligência e o pensar

A segunda regra, requer treino e ausência de medos
É perceber que pequenas quedas fazem parte da viagem
É não se deixar enredar em fáceis e distraídos enredos
E é  iniciar o treino, com persistência e coragem 

A terceira regra é já de laborioso exercício  de treino 
É escolher um ramo que não seja ameno poleiro
É escolher o que fique a distância curta para não falhar
E que as asas sirvam quase apenas para poisar

As regras seguintes, quase iguais, aumentadas de dificuldade 
Ramos cada vez mais distantes, cada vez mais em subida
No sentido em que se encaminha a vida...
E à medida que as asas ganham idade 
Quando se chega ao alto é que tudo começa
E a última regra de bem voar, é voar em bando
Distinguir a selva da floresta
E saber parar, de vez em quando 
Podes começar!
Para ti Miguel, deste teu velho pássaro 

24 outubro, 2012

Amor de Perdição: paixões intensas, emoções exacerbadas e, no fim, mortes às carradas...

Cinco contos de alunos do 4º ano, inspirados no "Amor de Perdição"? ... Meu Deus...

Certamente Camilo, e esta sua obra, não merecem título tão agressivo... e eu, que pouco sei do que escreveu, escrevo a partir de um resumo da obra (que é coisa se só lembra aos cábulas). Mas, me parece, que amores perseguidos, mortes, suicídios, misturados numa teia de relações num contexto passado é fardo demasiado pesado para quem ainda deve (devia) estar ocupado a entender (e a discernir, entre) o bem e o mal. Não estranho o ar convencido de quem mostra o resultado publicado. O que estranho é que cinco escolas tenham embarcado nessa pedagogia precoce de levar tão adulto autor a tão imberbes crianças...  E isso passou na televisão, frente às ventas do ministro da educação...

(o video é o mesmo, do postado ontem, e dá pano para mangas...)

23 outubro, 2012

As touradas, os erros de casting e o ministro Nuno Crato


Para valorizar a educação, pode uma aluna ter uma ideia mais certa que o seu ministro?

Vejo o "Prós e Contras" com frequência, coisa que não acontece com touradas, dado que considero um espectáculo de gosto, no mínimo, duvidoso e pouco recomendável. No programa de Fátima Campos Ferreira, quando conheço previamente os intervenientes, dou comigo muitas vezes a pensar o que penso nas pegas taurinas, com algum sadismo, esperando na altura exacta o touro derrote o forcado. Isto é, estou sempre à espera que alguém, fora do controlo, desate a partir a madureza  do tema ou da "mesa", que ponha tudo em alvoroço. É mesmo assim, reconheço que gozo com a irreverência dos convidados que pisam o risco. Gosto dos erros de casting da dona Fátima...

Ia o programa correndo com a tranquilidade sonolenta que os convidados lhe davam (com honrosa excepção para as intervenções de Daniel Sampaio) e eu a sentir-me culpado por nunca ter ligado a Camilo, quando, já depois de ficar aliviado desse sentimento de culpa ao ouvir Vasco Graça Moura dizer que Camilo era reaccionário, então, os erros de casting da dona Fátima entraram em acção... Querem saber mais? Não percam. Não percam a 2ª parte! Ouvirão o ministro noticiar em primeira mão: É PRECISO FLEXIBILIZAR A ESCOLA!

Medina Carreira, de comentador encartado a palhaço-sério...


De comentador encartado a palhaço-sério...

Ouvi atentamente Medina Carreira com um colega seu, a seu lado (tipo eco), a malhar forte e feio naquela coisa que se prepara para ser obrada. E porque não cortar na despesa, assim? E porque não cortar na despesa, assado? Porque este governo, assim. Porque este governo, assado. E assim foi durante não sei quantos minutos a fio e de onde se conclui que o homem, o que advoga, é que não há dinheiro para macacos viciados e que isto é um circo cheio de vícios incutidos por uma constituição que está datada e que hoje já não vale nada. Diz o comentador encartado (agora palhaço-sério), mais ou menos isto: este governo vai gastar demais na saúde, no ensino e no Estado social. Ponto Final. Ponto final, pois. Porque o  este palhaço sério, que já vive há muito do circo, omite como se sai do vicioso circulo... (ver resumo)

Claro que o homem falava sem contraditório. Não parecia nada mal colocar alguém que tirasse o palhaço do sério e lhe espetasse pelos olhos dentro a realidade da despesa monstruosa que cresceu à custa do circo e que, não por acaso, o Medi(ci)na omitiu: 
"O debate sobre a despesa pública está há muito inquinado por dois grandes erros de percepção. O primeiro corresponde à imagem da administração pública como um conjunto de repartições onde nada se faz de útil, quando maioritariamente é constituído pelo conjunto de pessoas e estruturas (como escolas e centros de saúde) que asseguram muitas das funções que permitem que vivamos numa sociedade minimamente decente. O segundo erro de percepção diz respeito à distinção entre a qualidade e o volume da despesa. A melhoria da qualidade da despesa deve ser uma preocupação de todos, sobretudo a partir de uma verdadeira posição de esquerda, tendo em conta a forma como a despesa pública tem crescentemente vindo a ser determinada pela promiscuidade entre os poderes político, económico e financeiro (como ilustrado pelos casos mais flagrantes das PPP, do BPN ou da privatização de monopólios naturais). Porém, a preocupação com a qualidade da despesa não deve levar à conclusão errada segundo a qual o volume total da mesma - e sobretudo o défice - devem ser cortados de qualquer forma e em qualquer momento. 
O Orçamento de Estado para 2013 consegue o pior em todas estas frentes: é profundamente pro-cíclico (tendo em conta a carga fiscal brutal e o saldo primário visado, no contexto de uma gravíssima crise económica e social) e afecta a qualidade da despesa da pior forma (sacrificando ben públicos essenciais para o desenvolvimento e bem-estar). Onde cortar, então? Naturalmente, no mais inútil dos ministérios: o ministério do serviço da dívida. Tem um orçamento superior à Saúde e à Educação, corresponde à sangria de recursos do país numa altura crítica (aprofundando por isso a recessão) e tem como única função adiar uma reestruturação que todos sabemos já ser inevitável, dada a relação entre o volume da dívida, os juros reais e o (de)crescimento a que estamos condenados por esta via. Teria consequências? Sim. Será inevitável mais cedo ou mais tarde? Sim. Seria preferível fazê-lo já? Certamente." 
ALEXANDRE ABREU, in "Ladrões de Bicicletas"

22 outubro, 2012

Geração sentada, conversando na esplanada - 15 (lengalengando)

(Ler conversa anterior)
"Infelizmente, lutar por outro tipo de políticas e ficar no euro começa a ser uma possibilidade bastante remota. Já passámos o ponto em que o conjunto de políticas excepcionais dentro da zona euro – margem para um apoio mais selectivo aos sectores transaccionáveis, exportadores – possam, nesta fase, fazer alguma diferença. Essas políticas já não serão suficientes para inverter o curso dos acontecimentos." - Prof. João Ferreira do Amaral, em entrevista  
 "PCP e BE estão unidos quanto à necessidade de renegociar juros e prazos previamente acordados com os credores, mas insistindo na necessidade de pagar a dívida, cumprindo o estipulado. Além disso, ambos os partidos insistem na lógica do crescimento económico, em moldes capitalistas, como fundamental para a resolução dos nossos problemas económicos." - Grupo de reflexão e acção sobre a divida pública portuguesa
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Uma esplanada tão vazia como a mente... que se esvaiu, de repente...
.
.A esplanada hoje está sem ninguém. Nem a geração que me distrai o olhar e o escutar. Nem o senhor engenheiro e o seu cão rafeiro. Nem o melro. Nem o pombo. As cadeiras permanecem alinhadas numa ambicionada espera. Minha mente também, jaz vazia, esperando alguém. Pouso o olhar no jornal à procura de um pensamento. A página ajuda ao me mostrar, em gráficos coloridos, a falta de cor do pensar dos inquiridos. Não me espanto... Ocorre-me uma lengalenga, um tumba-la-lão que sempre uso para empurrar um baloiço. Boa ocorrência. Nunca me tinha chegado tal imagem: meu povo ser representado por um miúdo crescido, empurrado por forças de ar paternal que o fazem sair do tumba para o la-lão, e do la-lão para o tumba, num único sentido de ir e regressar sem sair do lugar, apenas se alterando a amplitude do movimento. Voa agora o pensamento do tumba-la-lão para a cabeça do cão. Cão é de facto o melhor amigo do homem, e o pensamento dispersa-se ligeiro, lembrando-me do cão do senhor engenheiro. Que pena não estar aquele velho engenheiro, com seu ar respeitável e olhar profundo e só. Se estivesse, talvez lhe perguntasse pelas orelhas de gato que entram no tumba-la-lão, porque é que a lengalenga foi buscar um gato se já lá tinha o cão? Ou o porquê das meninas bonitas não terem coração... ou porquê desta lengalenga que nem adianta nem atrasa. 
Um dia o menino há-de querer sair do baloiço reconhecendo ser adulto... Então o tumba-la-lão será apenas a recordação de uma esplanada vazia...

(dedico este post à Manuela Baptista, a quem prometi lengalengar) 

21 outubro, 2012

Homilias dominicais (citando Saramago) - 104 [ FIM]


Com Saramago de frente para o mar, e depois de dois anos a escrever esta página, dou por findo o meu apostolado. Não por ter esgotado as palavras, ou por ter optado por outros caminhos ou por ter preferido dar voz a outras homilias e a outros nomes. Diz-se, tantas vezes, para fazer perdurar as coisas, que é preciso que algo mude para que tudo fique na mesma. É isso, Saramago abandona este espaço dominical, mas permanecerá sempre, na minha escrita, nos meus temas. 
Quem lê Saramago fica com a sua escrita na alma, quem escreve sobre ele fica-lhe na pele... Aconteceu-me

Como última homilia poderia ter escolhido mil outros assuntos, inquietações, desassossegando com coisas do amor ou da morte, mas a escolha recai sobre a Europa, sem que sejam necessárias grandes justificações para a escolha, pois ela nos pesa. Talvez este espaço venha a ser ocupado com o tema Europa e esta homilia final seja a introdução desse outro tema e do retomar do desafio que fiz um dia. Vou pensar. Vou pensar em virar-me definitivamente para o mar...

HOMILIA FINAL
(...) A verdade é que a Comunidade Económica, como a que nasceu na cabeça de Robert Schumann, não é mais do que a ideia de racionalizar as economias dos diferentes países da Europa. A questão central foi sempre a da economia. Ou seja: quem é o senhor, quem é o patrão da Europa. Todos os conflitos, todas as situações complexas que a Europa viveu, até mesmo as chamadas guerras religiosas, tiveram por motivo definir uma economia para cem anos, ou um milénio, como desejou Hitler. 
(...) O mais importante – e eu diria, o mais trágico – é que se tira dos povos o direito de decidirem sobre o seu destino. Claro que nada no mundo é definitivo, e os povos sempre encontram as soluções melhores para os seus problemas. Mas o problema da hegemonia, que parecia resolvido com a Comunidade, não está. O que está ocorrendo agora é o surgimento da potência europeia do futuro, que será outra vez a Alemanha. A Europa será o que Alemanha decidir. 
______________

Já depois de editar esta post, tomei conhecimento e assinei esta petição

20 outubro, 2012

Sábado... foi assim a semana que hoje finda (11)

Minha Alma está de parabéns. É o ponto alto da semana. Quer pelas imagens escolhidas a baterem certas com a espuma dos dias e com os ventos que nos assolam, quer pelo poema que editou. A lembrar "A nossa presença na Europa não se discute, como um dia / A nossa presença em África não se discutia / Negociar com os credores, soa a fuga à honra / Negociar com os os movimentos de libertação / Soava a rendição..." Bem esgalhado!

Meu Contrário errou quando julgou que a razão é suficiente para merecer interesse. Quem anda pela blogosfera passa a correr e seu texto denso quase fazia perigar a  mensagem que queria passar. Valeu o tema escolhido. Escrever sobre a Islândia é, não só necessário, mas urgente. Safou-se, à tangente...

Eu, foi um desastre. Assuntos sérios deviam ser entregues a gente mais competente do que a destemperadas vizinhas do prédio do Rogérito. É certo que vale a pena salientar o facto de, agora, já todos falarem em renegociar a dívida, mas escolher o Cadilhe para o ilustrar, foi escolha que não lembra ao diabo. Terá que voltar ao tema. Vale a pena... com gente que valha a pena...

19 outubro, 2012

Sexta às 9, foi mais do que esperava...

Só para juros, em 2013, eu pagarei  mais do que vou ter de pagar para o Serviço Nacional de Saúde!

O "Sexta às 9" não foi um, não foram dois, não foram três, foram para aí uma dúzia de murros na consciência dos que insistem em ir, para o buraco, resignados por não haver mais que a alternativa de obedecer aos ditames da troika. Mesmo aqueles que agora (e só agora) assumem as dores e se atreverem a cometer o sacrilégio de falar em renegociar a dívida (arredondando-lhe a formulação e ignorando propostas que contam já mais de um ano) terão que pensar no "caso Islândia". O mais certo é virem falar das quatrocentas e setenta e seis (à volta disso) diferenças que nos afastam dos islandeses.
Calarão uma: a firme disposição do povo islandês  para afrontar a injustiça, derrotar o governo e as politicas que estavam a ser seguidas. ver aqui, os primeiros 35 minutos.

Manuel António Pina - In memoriam (1943 - 2012)

Um trabalho admirado pelo próprio poeta (junto o comprovante)

A Poesia Vai Acabar
A poesia vai acabar, os poetas
vão ser colocados em lugares mais úteis.
Por exemplo, observadores de pássaros
(enquanto os pássaros não
acabarem). Esta certeza tive-a hoje ao
entrar numa repartição pública.
Um senhor míope atendia devagar
ao balcão; eu perguntei: «Que fez algum
poeta por este senhor?» E a pergunta
afligiu-me tanto por dentro e por
fora da cabeça que tive que voltar a ler
toda a poesia desde o princípio do mundo.
Uma pergunta numa cabeça.
— Como uma coroa de espinhos:
estão todos a ver onde o autor quer chegar?
Manuel António Pina, in "Ainda não é o Fim nem o Princípio do Mundo. Calma é Apenas um Pouco Tarde"

A Dª Esmeralda e a vizinha do 4º andar, a conversar - (13)


 "renegociação... em prazo quase de perpetuidade" diz Cadilhe
Dª Esmeralda (verdadeiramente interessada) - Mas diga lá, vizinha, o que disse o Cadilhe?
Vizinha do 4º andar (em tom de cochichar) - Sabe?, ele diz o mesmo do partido do seu marido. Diz que que devemos honrar o país renegociando a dívida, os juros e até reclama prazos infinitos... sim, porque nós não somos ricos... e disse outra, minguem paga se estiver na bancarrota...
Dª Esmeralda (admirada) - O Cadilhe falou em renegociar a dívida? os montantes e tudo?
Vizinha do 4º andar (com a cabeça a abanar) - Não, lá isso não falou!...
Dª Esmeralda (já sem estar admirada) - O Cadilhe falou o que ia fazer com o dinheiro a receber?
Vizinha do 4º andar (voltando a cabeça a abanar) - Não, lá isso não falou!... O que falou é renegociar em segredo e reduzir o Estado, que ele acha que está muito inchado...
Dª Esmeralda (com a voz um pouco irritada) - E o partido do meu marido alguma vez disse isso? Com a divida aliviada e a nação privatizada, era uma boa solução para os que agora não sabem bem o que fazer... está a ver?
Rogérito (interrompendo, nesse preciso momento) - Vizinhas logo às 9, na RTP1, e nada de novelas

Bailarina sozinha só a da caixinha...



Parece um mero interregno, mas não é...
(me dedicaram isto, e eu não resisto)
A minha Maria gostará ... um dia...

18 outubro, 2012

Islândia, um pequeno país...

You´re never too young to dream BIG - STREET ART UTOPIA

Curiosamente é das ruas que me chegam os incentivos à esperança e os convites à reflexão. Calha hoje falar da dimensão, para dizer que o sonho, a vontade, a utopia não têm a prostrada posição de serem medidos a palmo. A cidadania também não. Dizem que um país pequeno não tem nem força nem peso para impor o quer que seja. Ignoram que os valores, não tendo dimensão terão, como peso, o peso da razão.
"Em 2009, quando o governo pretendeu aplicar as medidas de austeridade exigidas pelo FMI em troca de uma ajuda financeira de 2,1 mil milhões de euros, uma forte mobilização popular o obrigou a renunciar. Nas eleições antecipadas, a esquerda ganhou a maioria absoluta no Parlamento" - "A Islândia mostrou o caminho: recusar a austeridade" in Resistir
 "As ideologias da velha escola da política, dos media, sistemas monetários, empresas e todas as estruturas conhecidas estão em um estado de transformação. Eles estão desmoronando-se. Agora é a hora de uma mudança fundamental a todos os níveis: temos que aproveitar este momento. Porque este é O momento." - "Mensagem da ativista islandesa Birgitta Jónsdóttir" in Sustentabilidade é acção
AVISO IMPORTANTE: Amanhã, após o telejornal da RTP1, no programa "Sexta às 9" o caso Islândia 

17 outubro, 2012

Salazarentos destinos, com o Povo ao fundo...

"Rosa dos Ventos" - Sagres (imagem da net)
Os tempos
Apagaram as Rosas dos Ventos
Destruíram mapas dos mares
Sextantes antigos, modernos radares
E outros apetrechos mareantes
Hoje, e esse hoje tem muitos ontens,
Diz-se haver um só caminho
E que fora dele o desastre é certo
Como se não fosse certo o desastre dentro dele

Com a mesma certeza com que se dizia haver
Um só caminho (a defesa do Império) a percorrer
A nossa  presença na Europa não se discute, como um dia
A nossa presença em África não se discutia
Negociar com os credores, soa a fuga à honra
Negociar com os os movimentos de libertação
Soava a rendição...

Na história
Há afinidades sem glória

O estranho é que seja a Rosa dos Ventos
A interrogar se outras direcções são possíveis
Talvez esquecida, como os demais
Dos seus própríos pontos cardeais
Rogério Pereira

Nota: Este post é resposta a uma pergunta que me foi posta, pela Rosa dos Ventos

Dies Irae ("Dias da Ira")

Imagem "Street Art"
"Quanto terror é futuro,
quando o Juiz vier,
para julgar a todos irrestritamente!"
Desculpem lá, pela imagem horrível, pela linguagem cifrada, mas daqui não levam mais nada. Eu sei que ainda há gajos que espreitam, mal querendo crer no que estão a ver... eu sei que há gajos e gajas a conversar sobre o acontecido em muitas esplanadas... 

Mas não resisto, deixo a explicação ao Jorge Castro. Ele é que sabe disto... 

16 outubro, 2012

14 outubro, 2012

Homilias dominicais (citando Saramago) - 103

REMBRANDT - "A expulsão dos vendilhões do Templo" 

Das palavras ditas por D. José Policarpo não trago aqui nem uma, pois habituei-me a neste espaço só trazer palavras dignas. Talvez lhe deva um perdoar cristão  ou talvez não. Mas tenho que admitir que Policarpo anda todo trocado. Do texto bíblico à Constituição. É o texto bíblico que dá a Jesus a iniciativa violenta de expulsar os vendilhões do templo. Contudo, cumprir a Constituição não é remeter os cidadãos a mero rebanho como o alto dignitário da Igreja reclama em nome da Democracia.
E actos violentos são constitucionais? Sim, (lembra um amigo) como legitima defesa, como forma de resistência contra actos ofensivos de direitos, liberdades e garantias. Perdeu D. Policarpo boa oportunidade de defender a Bíblia e a Constituição se tivesse, aos fieis ontem reunidos no Santuário, explicado que Jesus resistia quando no templo atacava... Se explicasse a legitimidade de Jesus, certamente retiraria a Saramago tão severa generalização, a propósito da Bíblia e, ainda, se tinha colocado do lado do povo que ainda espera alguma coisa de terrena, desta Igreja.

HOMILIA DE HOJE
“a Bíblia é um manual de maus costumes, um catálogo de crueldade e do pior da natureza humana”

José Saramago, in lançamento do livro Caim

13 outubro, 2012

E foi assim neste Sábado, um tanto por todo o lado...

Durante horas a fio, um helicóptero sobrevoou  a cidade. A cidade é bela e com tanta gente dentro dela certamente será de arrepiar ver (e documentar) o que aconteceu, um tanto por toda a parte. Espero para ver, mas julgo que minha espera será frustrada... 

Imagem magra para tão longo e zig-zagueante rio, que atravessou toda a baixa da cidade...
A arte e seus operários tiveram milhares de rostos solidários. A mensagem foi a da unidade...

Quando as farmácias se reclamam de enlutadas, que dizer dos que delas dependem?

Orçamento... repito o ontem dito...

... ..uns dirão: reduza-se a intensidade a limite mais consentâneo com a capacidade do ser humano.... 

Há quem escolha outras analogias dizendo que a vitima (a República) é um doente e o tratamento que lhe é ministrado é em quantidade tão elevada que pode matar a coitada. Escolhi outra analogia, ontem. Dizia sobre a imagem da tortura da inquisição coisa que, por não ver comentada, julgo não ter sido lida ou, se o foi, foi de maneira apressada. Repito:
Sobre a tortura do empobrecimento, alguns dizem à vítima para negociar com o verdugo tortura menos intensa e mais prolongada. É uma outra forma de aceitar tal tortura.
(...)
Insólito é saber-se que a vitima pode sair voluntariamente da situação. Assim disso tome consciência...
O que queria (e quero) dizer é que há alternativas: as minhas e ainda outras...

12 outubro, 2012

Um Nobel e um Orçamento, na mesma "paz dos cemitérios" (com a bênção de D. Policarpo?)

Porque hoje a tortura é menos aparente, uns dirão ser menos odiosa ou até mesmo inexistente...

Faz tempo que o odioso imperava com a anuência de quem se calava. Hoje os tempos na Europa são outros, e o que vai acontecendo não aparenta que aconteça. A União, (des)solidária vai-se exterminado a si própria sem que (ainda) expluda com outros ruídos que não sejam os abafados gritos, dos povos a sul. Sobrevive "a paz dos cemitérios" e é essa a paz nobelizada...

Sobre a tortura do empobrecimento, alguns dizem à vítima para negociar com o verdugo tortura menos intensa e mais prolongada. É uma outra forma de aceitar tal tortura.

Alto dignitário, que trata das coisas da alma, assevera que há que esperar que os actos administrativos da democracia funcionem e que não é na rua que se trata de quem nos maltrata...  

Insólito é saber-se que a vitima pode sair voluntariamente da situação. Assim disso tome consciência... 

Mudai o rumo ao vento / Para um novo alvorecer


11 outubro, 2012

O "mensalão", imprensa e Lula da Silva, ainda...



O editorial do Público de hoje é uma relíquia, que o jornal on-line não quis guardar. Talvez seja um critério, talvez seja mero apagão, por só depois da saída do jornal se ter dado por tão clara contradição. Apetece perguntar: é caso de maturidade uma sociedade condenar sem provas?

Sobre o "Mensalão" Lula da Silva diz ser uma farsa... e outros o acham, também.

Preocupado com o que se passa do outro lado (o caso "Mensalão", a "segunda volta" nas eleições do Estado de São Paulo, Dilma, a economia, etc) consultei meu "blogosférico pai", e fiquei mais tranquilo. Nada como navegar para acalmar. E desse navegar trouxe mensagem a dar coragem. Foi de Lula da Silva, ainda... (embora houvesse mais):


Tá bem, pá... a mensagem também é válida para cá!

A "foz dos rios"... e a "marcha"

"No dia em que a planície entre estes dois rios for inundada e as águas se juntarem numa mesma foz, a rua tornará ingovernável o país. É raro, vem pouco nos manuais, apenas nos melhores, mas está cada vez mais perto de acontecer."
José Pacheco Pereira, um texto (obrigatoriamente) a ser lido

muito rios em marcha e uma foz à nossa espera. E esta politica não presta! Não, não é só o governo...

10 outubro, 2012

Tanta gente à sua volta

Desembaraça-se das pedras
Das janelas abertas para o nada
E cresce
.
Solta-se
O olhar
Nem vencido
Nem triste
Nem parado
É firme
.
Marcha
A voz
Nem se embarga
Nem se cala
Canta
.
A determinação
A si próprio espanta
Só então repara, nota
Tanta gente à sua volta

Rogério Pereira

09 outubro, 2012

Olho o "chavismo" e... cismo

Se me não engano a maior riqueza da Venezuela é o povo venezuelano

Por vezes um rochedo é um bom local para cismar. Depois de o fazer venho escrever e não tenho qualquer trabalho, outros o fizeram por mim. No facebook, um amigo diz assim:
«Um dado interessante sobre o período "chavista" na Venezuela: a participação eleitoral passou de 60% em 1993 para 63,45% em 1998 (eleição de Chavez), 74,7% em 2006 e 80,9% em 2012. Há uma crescente politização da sociedade venezuelana e a subida dos votantes deve-se fundamentalmente à esperança que os mais pobres depositam no Pólo Patriótico. Só mais um dado: em 1998 Chávez foi eleito com 3.673.685 votos; em 2006 com 7.309.080; em 2012 com 7.444.062.»

08 outubro, 2012

Ao inacabado conto, acrescentei-lhe um ponto...



O desafio partiu do Vitor e a história já vai longa, escrita a vários teclados, como bem se nota. As regras são as seguintes: 
1 - O texto, constituído por vinte parágrafos, terá início no blogue "O Sabor da Palavra" (http://osabordapalavra.blogspot.com), segundo o seu autor Gonçalo Cardoso. 
2 - Cada bloguista terá direito a um parágrafo do texto com o máximo de cinco linhas. Não é taxativo, tanto pode ser mais ou menos, mas sem exageros. 
3 - Após a realização do parágrafo respectivo, cada bloguista terá que selecionar outro bloguista que cumpra a continuidade do texto, segundo as regras mencionadas. 
4 - Cada bloguista terá o limite máximo de três dias para realização do parágrafo, estando sujeito a desclassificação da rubrica e seleção de novo bloguista por parte do seu autor. 
5 - Cada bloguista assinará o seu nome e respectivo blogue na lista dos participantes.
6 - O último participante ou autor do vigésimo parágrafo, finalizará o texto e partilhará com o autor do blogue "O Sabor da Palavra" para a sua divulgação no blogue inicial.
7 - Sejam criativos. Lista de Participantes: 

1 - Gonçalo Cardoso (O Sabor da Palavra)
2 - Buxexinhas (Pedacinhos de mim...) 
3 - Karochinha (O Meu Eu) 
4 - A Minha Essência (Roupa Prática) 
5 - Olívia Palito (Olívia Palito no País das Maravilhas) 
6 - L'Enfant Terrible (L'Enfant Terrible Lx) 
7 - Utena (Os meus idealismos)
8 - Alexandra Martinho (Ouso Escrever) 
9 - AC ( nadadecoisanenhuma) 
10 - Poppy (Apontamentos de Luz) 
11 - Briseis (do meu pedestal) 
12 - Teté (Quiproquó) 
13 - Vitor (PreDatado)
14 - Rogério Pereira (Conversa Avinagrada)
15 - 
16 - 
17 - 
18 - 
19 - 
20 - 

E começa assim: 

 "Já tinha dobrado as duas da manhã. Estava a sair da emissão de rádio, incomodado com um ouvinte que alegava a minha falta de isenção jornalística. Segundo ele, apenas dava voz aos ouvintes do sexo feminino e os temas escolhidos revelavam uma tremenda homofobia. Estapafúrdio, dizia para mim! Mas para o exterior resolvi o problema com a introdução de uma música de intervenção social. E assim fechei o programa. Peguei na mala, desci as escadas em direcção ao parque subterrâneo e ao chegar junto do carro encontrei um segredo envenenado..." 

 “No seu vestido vermelho delineado na pele, ela olhava-me intensamente recostada no capô do meu carro, como um lince que espera a sua presa. Por momentos o meu coração parou de bater. ‘Voltou…’, pensei angustiantemente. Fantasmas do passado e segredos escondidos no recanto mais negro do meu ser… Renascidos da minha cinza. Em passos lentos, dirigi-me a ela. As palavras silenciosas do seu olhar disseram-me para onde ela me levaria. Entrámos no carro seguindo para o local temido…”

 "...por ambos. Aquela falésia onde, alguns anos antes, a tragédia se abatera sobre as suas vidas alterou os seus futuros para sempre. E todos os anos, no mesmo dia, encontravam-se antes do amanhecer, naquela pedaço de rocha que se erguia sobre o mar, numa esperança vã de expiarem os seus pecados mais profundos. Chegados ao local, saíram do carro e mais uma vez, as suas mãos encontraram-se e uniram-se, os seus corpos aproximaram-se e ela disse-lhe:"

 "... Com a voz tremida, sussurrada, gélida, com a postura hirta e consciente do momento, Amanda começa a debitar desenfreadamente como tudo aconteceu, naquela fatídica noite... ... "Não tive culpa! Não tive! Acredita em mim, por favor! Foi um acidente. Foi ele que escorregou da falésia, ele!" - Sedutora mas ao mesmo tempo frágil, ela sabia exactamente como emaranhar um homem na sua teia. Sabia exactamente a palavra certa a ser usada, o gesto proveniente, o olhar mais assertivo para a ocasião. Manhosa, laça-o num envolvente abraço onde o choro compulsivo é o senhor do momento. Entre soluços mas, com uma voz doce, repete incessantemente, "não fui eu! Não fui eu!" - Com o rosto apoiado no peito de Edmundo, via-se claramente o sorriso dissimulado que fazia. Ele, estava completamente rendido à fragilidade dela mas, ao contrário do que ela pensava, que o tinha nas suas mãos, Edmundo, também tinha algo a dizer..."

 "... acerca daquela fatídica noite. Edmundo fixou o olhar na falésia e ficou em silêncio por alguns segundos, enquanto os braços de Amanda o envolviam. De repente, ficou tudo absolutamente claro na cabeça de Edmundo, as peças do puzzle mental começavam a encaixar-se na perfeição. Lembrou-se da conversa off record que tivera com o inspector da polícia acerca do relatório da autópsia de Fred. Segundo o mesmo relatório, Fred havia ingerido uma dose substancial de whisky, confirmando assim o álibi de Amanda, de que Fred se desequilibrara e caíra daquela falésia. Porém, fez-se luz e um pormenor fulcral escapara a ambos: ao inspector da polícia e a Amanda, mas não a Edmundo..."

 "...isto porque Fred não bebia whisky, sofria de doença celíaca, de modo que tudo o que contivesse glúten, o que incluía bebidas feitas de malte, não lhe passavam pela garganta. Por outro lado a revelação Fred fizera a Edmundo um dia antes da tragédia era de todo desconcertante, tanto mais que de dizia respeito aos três, sendo que conteúdo da mesma tivera desde então um profundo impacto em Edmundo, ao ponto de o mesmo perder parte da sua imparcialidade jornalística. Ainda assim, envolto no choro soluçado de Amanda, Edmundo era incapaz de proferir uma palavra, de partilhar com ela o que pensava porque havia mais um elemento em jogo, uma dúvida perene que o levava a sentir-se tal como o mar revolto e sem definição que vislumbrava no horizonte..."

 “Não querendo mas ao mesmo tempo sem conseguir parar a maré das lembranças chegou-lhe à memória aquela noite que hoje lhe dava o conhecimento do facto de Fred não beber whisky. Fred confessou-lhe num ousado momento de coragem que se sentia atraído por Edmundo e que isso o deixava sem saber como agir pois nunca tinha sentido isso por homem nenhum já que sempre fora um mulherengo por natureza! A convivência dos dois, muito por culpa de Amanda, o lamber das feridas causadas por esta mulher de escrúpulos nulos tinha feito com que os sentimentos florescessem em dois homens que mesmo nada indicando que assim fosse os levou a sentir o que para ambos deveria ser tabu. Edmundo voltou a realidade com um soluço mais audível de Amanda e quando à olhava no profundo dos seus olhos verdes deu-se conta…”

 "...deu-se conta do quanto aquela mulher já havia sofrido. Fred horas antes de falecer havia contado a Edmundo que Amanda aos 20 anos se havia submetido a uma cirurgia de retribuição sexual. Sim, Amanda fora um menino em outros tempos, mas hoje era aquilo a que Fred e Edmundo chamavam de tentação. Edmundo olhava-a e um misto de sentimentos lhe assolavam a mente, perdera alguém que lhe era muito próximo, um amigo, mas também, um silencioso admirador. E ali, diante de seus olhos estava a mulher indefesa e esbelta que soluçava e por quem ele era estupidamente apaixonado, mas que carregava tão pesado segredo. Segredo esse que toda a sociedade condenava e condena. Edmundo perturbado necessita voltar, ir ao encontro do seu pedaço de chão para meditar e montar todo aquele puzzle confuso. Suplicou-lhe - "Amanda, necessito ir, vamos?". Amanda para ele olhou, com olhar fugaz, e disse..."

 "...És um homem cruel senão me aceitas como sou. E se assim for sem dúvida que não me mereces.Sou especial, sou única e estou disponível para te amar, com tudo o que tenho para te oferecer, mas jamais partilharia a minha vida ou o meu corpo, com quem olhasse para mim com desprezo ou nojo. Sendo assim cuida-te, olha para ti, observa-te com atenção e vais reparar em todos os teus defeitos... por agora vou apenas embrulhar-me no teu casaco sentir o teu cheiro e o teu calor que são presença nele e esperar que tu abras os olhos e possas ver para além do físico, do estereotipo e do preconceito a mulher que hoje eu sou...estou aqui, estarei sempre aqui para ti... de braços abertos...anda, decide-te não tenho o tempo todo..."

 "... Mas na cabeça de Edmundo cada vez mais as dúvidas e as desconfianças se instalaram. Havia demasiadas incongruências em torno daquela noite e um relatório conivente com o que Amanda lhe dizia mas contrário ao que conhecia de Fred, este jamais poderia ter bebido Whisky naquela noite. Não estavam em causa os desejos que nutria por aquela mulher, não se colocava em questão as mudanças de sexo, o que lhe assolapava as ideias era tão somente o que teria sido capaz de fazer aquela mulher de escrúpulos nulos, de vermelho vestida se soubesse do que acontecera entre eles, não foi capaz de lhe dizer mais nada. Levou-a a casa e naquele momento só uma coisa lhe ocorria, tinha de estar com o inspector responsável pela investigação..."

 "O encontro perturbador, aliado ao adiantado da hora, tinha um efeito nefasto sobre a sua lucidez. Conduzia como um autómato, a cabeça longe, muito longe da estrada por onde os olhos passavam. Era de noite, ainda. Para não enlouquecer durante as longas horas que antecediam a manhã e a sua oportunidade de falar com o inspector, foi para casa, tomou um banho tão quente quanto conseguiu tolerar e, ainda com o cabelo a pingar água e a pele a fumegar vapor, sentou-se a escrever a sua versão dos factos, a sua memória dos acontecimentos, caso algo lhe acontecesse... Escreveu tudo, longamente, e concluiu com a revelação do facto mais bem guardado:"

 "Fred confessara-lhe o ciúme que sentia de Amanda! Sem nunca lhe ter revelado, adivinhara a paixão e o desejo que transpareciam nos seus olhos quando ela aparecia em cena, naquele misto de sedução e de fragilidade que tanto o cativavam. Parou de escrever. E se...? Não, não era possível, que o amigo chegasse tão longe... Ele andava perturbado - os credores avolumavam-se à sua porta! - mas suicidar-se?!? Deixando no ar a suspeita de Amanda ser a culpada pela sua morte?!? Mas porquê aquelas revelações súbitas e inesperadas, poucas horas antes daquela fatídica noite? Era um plano macabro demais para ser verdade..."

 "Levantou-se, abriu as janelas de par em par e, debruçado sobre o parapeito, olhou as estrelas. Voltou para dentro apenas o tempo suficiente para apagar a luz. Não havia luar e assim o céu ficava mais bonito. Acendeu um cigarro, deu-lhe duas baforadas e voltou a contemplar as estrelas. Com Amanda e Fred na cabeça, ia falando consigo próprio. Aos poucos foi-se descontraindo no fumo do cigarro, na tentativa de ainda se lembrar do nome das constelações. Aquela é a Ursa Menor, aquela a Cassiopeia, aquela o Cão Maior. Raios! Porque não se lembrou antes disso? Fez um telefonema para Irina. Ela costumava ficar com o cão de Fred quando este se ausentava."

"A visita a casa de Irina foi demorada e difícil para ambos. A conversa  parecia não ter nexo, com Irina a tentar explicar o inexplicável de aquela carta de Fred só passados três anos aparecer. Irina estendera-lha com mãos nervosas e foi com mãos nervosas que Armando a recebera. Despediram-se com o luto nos olhos e sem uma palavra. Na rua e, depois, pelo caminho leu e releu o texto do sobrescrito cuja letra lhe era familiar. Em casa, levou um tempo tremendo até vencer o medo e  abrir a carta que lhe era dirigida: Meu querido amigo, quando leres estas linhas já terei partido. Não vos julgo nem culpo. E a haver culpados culpo a indignidade que me foi dada por uma vida que já não merece ser vivida. Não há uma só situação a explicar este meu acto, que muitos considerarão tresloucado. Foi tudo. Foi a minha incapacidade de vos amar. Foi a minha confusa sexualidade. Foram as dívidas acumuladas. Foi o desemprego e a incapacidade de encontrar alternativas. Foi a minha marginalização no partido. Foi tudo isso e ainda..."

PS. Passo agora a bola à minha amiga Lídia Borges (Seara de Versos). Tenho a certeza que se desenrascará com boa prosa.