31 janeiro, 2013

Dizia-se em 1909, portanto... dezenas de anos depois desta data que hoje é comemorada e um ano antes de outra data assinalada


A fonte está aqui, e foi-me sugerido pelo "meu" umbigo

Hoje há quem fale de ondas, dizendo coisas certas e, outros, coisas tontas. Falam de ondas e eu de quadras. Quadras amargas mais altas que essas altas vagas. Dirão que, pelas datas, e pelo que aquilo que hoje se ouve dizer, que é assim e que não há nada a fazer. É um determinismo resignado, que só o tempo largo em que as coisas evoluem parece querer dar razão. Mas não, tais vozes estão despidas de razão e o determinismo é determinado pela própria humanidade...
Entre a crucificação de Cristo e a primeira conversão à doutrina da igualdade, passaram mais de trezentos anos... entre essa conversão e o fim, formal, da escravatura passaram mais de mil e quinhentos anos... entre a desconhecida data em que o primeiro servo da gleba deitava sementes à terra e o fim do feudalismo, vai um tempo enorme... entre a revolução industrial e a prática dos direitos a que todos temos direito, vão os tempos ainda em curso... ah!, e a utopia apenas foi adiada... Hoje ainda existem escravos? Não ruiu o último feudo? O operariado já não veste o mesmo facto? Existem outros "ismos" tão medonhos como os antigos? Deixemos essa ilusão para os que ficam parados, olhando os trinta metros da onda. O que faz sentido é perceber o sentido. O que faz sentido é compreender o caminho, a tendência, dar dimensão à vaga e como diz (uma outra) quadra:
Negro espectro que te esmaga
Olha bem de frente agora
... Queima essa putrida chaga
À luz nascente da aurora!

30 janeiro, 2013

Mesa Redonda (6) - Tema: "... o que não muda..."


Eu (abrindo a sessão) - Hoje o tema é a "mudança". Vamos falar como mudar...
Meu Contrário (contrariado) - Preferia falar sobre o que não muda
Minha Alma (admirada) - E não é a mesma coisa?
Meu Contrário (sentencioso, entre o sério e o gozo) - Não, não é! Se percebermos bem o que não muda, estamos mais habilitados a perceber o que é necessário mudar...
Minha Alma (interessada) - Não percebo!, podes exemplificar?
Meu Contrário (persuasivo) - Se tens seguido o alarido em torno do que se passa naquele partido... percebes que nada gira em torno do que há a fazer mas sim à volta de quem é melhor para o fazer?...
Minha Alma (completando a ideia) - ... e todos esquecem discutir o que deve ser feito...
Meu Contrário (afirmativo) - Isso mesmo. Tal como tem vindo sempre a acontecer... os militantes são confrontados com pessoas... porque são as pessoas que operam as mudanças, mas não discutem o que é necessário mudar... 
Eu (que até aqui tinha ficado calado) - A melhor maneira de não mudar coisa nenhuma é ir mudando... pessoas. O resto vai ficando igual... mudará só o estilo e a intensidade desse fazer ...
Minha Alma (desanimada) - ...não poderemos esperar resultados diferentes... Então, só podemos esperar pessoas diferentes para fazerem coisas... iguais!
Eu e Meu Contrário (em coro) - Nem mais!

29 janeiro, 2013

Agora não se trata de fábulas ou metáforas, são mesmo as abelhas que correm perigo...


É isso que vos digo, as abelhas estão mesmo em perigo. 
(ver em Sustentabilidade é Acção, se tenho ou não razão)

Destes três obscuros "Reis magos", um é escurinho e dois são claros...


A troika são três e nem preciso explicar porque os trato por obscuros. Sou, normalmente, claro quando trato de coisas cinzentas, de negociatas, de dívidas disparatadas que ninguém explica... Como é que esta troika obscura diz (diz, não insinua) que dezenas de milhar de professores terão de ir para a rua? Estou a tratá-los de modo indevido? Mas... se este escurinho e os dois claros vêm tratar de sacar, como eu que eu os havia de tratar?
Alguém conhecido disse qualquer coisa parecido com isto que eu agora digo. A mim, se me acusarem de racista eu chamo o "Meia-Cuca" para testemunha ou apresento um livro antigo. Para o Arménio, o caso é mais sério... por isso, trago aqui, quem diga assim:
"...o que está em causa é, para quem tiver os instrumentos de análise e para quem os quiser usar sem buscar o efeito fácil de destruição pública da imagem da CGTP, o que está em causa é a deslegitimação do secretário-geral da CGTP e a menorização da luta (no meio do barulho, onde já vai a manifestação dos professores?)." - li num comentário acertado a um post ordinário 
"Alguma coisa me está a escapar na polémica alvoroçada sobre o Rei Mago escurinho a que se referiu Arménio Carlos. Havia ou não havia um Rei Mago escurinho? A "foto" parece desfazer todas as dúvidas... pelo que não percebo a razão de o líder da CGTP se ter sentido obrigado a dizer que as suas palavras foram descontextualizadas. Se há alguém descontextualizado nesta história é o Selassié, que deve pensar que os padrões de vida em Portugal devem ser iguais aos da Etiópia, seu país natal que certamente abandonou por ter um nível de vida demasiado elevado.
- Adenda: Já agora, agradecia que os indignados me explicassem se Arménio Carlos foi racista por dizer que o etíope careca é escurinho, ou por afirmar que um dos reis magos é escurinho..."
- li nas "Crónicas do Rochedo"

28 janeiro, 2013

Poemas de versos-asa que me entram em casa... e confirmam este meu ineluctável caminho

"Itinerário ineluctável" pintura de Helena Vieira da Silva, com poema de Sophia
I
De um poema de Sophia, sobre Helena
Guardo bem guardado
O significado
De um itinerário
Que redescubro nos poemas quase completos
Um, tem quase tudo
O outro, tem outro quase tudo
E, também, o quase nada que ao outro faltava 
II
 "Aqui, as aves falam de cumplicidade,
do divino e do terrestre,
da aliança entre deuses e homens
numa linguagem inteligível por reis e plebeus.
Falam dos grãos de pão meticulosamente
repartidos, do vinho e da sua alegria contagiante,
da seiva acesa que alimenta sonhos, intentos e utopias."
III
Habita-nos no entanto esta miragem
De exceder as circunstâncias
E em cada gesto pressentir o ressumar
Das colheitas no vermelho das espigas
Em maduros Maios do futuro...
... do que me deu o Herético
IV
Ando a aprender
A coleccionar irmãos
Que me armam de verdes paisagens
E me oferecem poemas 
Fazem-me sentir
Que não ando sozinho
Por este ineluctável caminho

27 janeiro, 2013

AUCHSWITZ-BIRKENAU

imagem roubada à "A Nossa Candeia"
Em 27 de Janeiro de 1945, o Exército Vermelho tomou o complexo de campos de extermínio humano Auschwitz-Birkenau - constituído por três espaços. Actualmente, o mais pequeno desapareceu completamente. Restam Auschwitz , aproveitamento pelos alemães de instalações militares polacas, e Birkenau , construído pelos próprios prisioneiros e cujas câmaras de gás e crematórios foram destruídos pelos nazis. A São fala disto e esteve lá.
Eu lembro um filme, que ainda não sei se acaba bem... 

Até Eu, Pessoa e Jesus Cristo, não percebendo nada de finanças, entendemos isto!

...bem pode ser a imagem do país
"... Na frente orçamental e económica tudo é bastante mais frágil e negativo. O défice orçamental em 2012 ficou em 5% do PIB, mas em contabilidade pública (e não em contabilidade nacional, que é o que conta para Bruxelas)... 
... a austeridade será brutal... Gaspar, que conseguiu um enorme sucesso, está a recuperar a nossa soberania financeira sobre a devastação da economia. A vitória de Pirro também foi assim..." 
Nicolau Santos, no Expresso 

Pirro foi um grande guerreiro. Rei de Épiro e da Macedônia, viveu de 318 a 272 a.C.. Conhecido por se opor à Roma, imortalizou-se, após vencer uma batalha em que perdera todos os seus mais bravos soldados, ao pronunciar a seguinte frase: ‘Outra vitória igual a essa e estaremos derrotados!’.


Paradigmaticamente, a crónica de Nicolau Santos tem por titulo
"Pra não dizer que não falei de flores" 

26 janeiro, 2013

Caros professores, minhas senhoras e meus senhores, não venho falar de porcos, mas...de porcarias e das suas muito prováveis consequências... delas....

Garanto que falaria da manifestação se outros o não fizessem melhor que eu.
Nem venho falar de porcos... escolho falar de porcarias...


... e das (mais que prováveis) consequências....O que aqui se apresenta tem muito que se diga (e é coisa antiga) mas como sempre faço, ligo causa e consequência. Aqui está, com sua licença:


25 janeiro, 2013

Albert Einstein mandou-me um recado. Dizia: "estou do teu lado"



"É reduzido o número daqueles que vêem com os seus próprios olhos e sentem com o próprio coração. Mas da sua força dependerá que os homens tendam ou não a cair no estado amorfo para onde parece caminhar hoje uma multidão cega.
Quem dera que os povos vissem a tempo, quanto terão de sacrificar da sua liberdade para escapar à luta de todos contra todos! A força da consciência e do espírito internacional demonstrou ser demasiado fraca. Apresenta-se agora superficialmente enfraquecida para consentir a formação de pactos com os mais perigosos inimigos da civilização. Existe, assim, uma espécie de compromisso, criminoso para a Humanidade, embora o considerem como sabedoria política.
Não podemos desesperar dos homens, pois nós próprios somos homens."
Albert Einstein
O texto veio do Bulimunda 

24 janeiro, 2013

Temos algo em comum: nem Eu, Pessoa ou Jesus Cristo percebemos patavina disto....


Mercados financeiros e seus berreiros? Algazarra, algazarra só conheço a da feira da ladra. Não sei o que é ir e ter sucesso nos mercados, mas pela cara dos banqueiros, que os vejo encantados, a coisa correu bem, o que pode significar que para mim a coisa pode continuar a correr mal. Ah, e se os números que agradaram aos mercados estiverem errados? e se o Tribunal Constitucional não se sentir entalado?...
"A Standard & Poor’s manteve o rating de Portugal (...) como "lixo", citando riscos da decisão do Tribunal Constitucional para o défice público e as baixas perspectivas de crescimento da economia." ontem, no Público
Quer-se dizer, mesmo sendo ignorante, caso o deficit seja maior que o agora divulgado  e/ou o Tribunal faça o que tem a fazer, sempre quero ver o que vai acontecer... e mesmo que não aconteça nada, acho que a malta está (de qualquer forma) tramada:
"...importa também lembrar que o BCE só apoiará o regresso aos mercados mediante condições. O que isto quer dizer é que a receita da troika continuará a ser implementada em Portugal, mesmo depois de ela se ter ido embora. Olhemos para Espanha. Tem-se financiado nos mercados, não tem a troika fisicamente presente, mas está igualmente afundada numa austeridade imposta de fora. O país pode regressar aos mercados e a troika ir-se embora, mas isso não significar nada no que ao fim da austeridade e da espiral recessiva diz respeito" in Ladrões de Bicicletas

Ai a água, a água... quer fazer alguma coisa por ela? Fale com a Manela...

Os mercados
Tão "engraçados"
Fazem os "ninhos"
Com mil cuidados
...

Ai a água, a água!... Quer fazer alguma coisa por ela?
Fale com a Manuela

23 janeiro, 2013

No "O barbas", ao ritmo das revoltas águas...


Foi fácil chegar ao Barbas, bastou estacionar e subir as escadas. 
Não comentámos o cartaz (acho que, se lá estava, nenhum de nós deu por ele) e pouco se falou do SLB pois, dos quatro que ali se encontraram, eu não sou "ferrenho" e havia um "portista"... Respeitaram-se as motivações e as diferenças. Do resto, falou-se de tudo, imitando o comportamento das revoltas ondas. As palavras iam saindo umas por cima das outras, mas indo (quase) sempre dar à mesma praia. Une-nos a visão comum que temos do mundo. Somos irmãos (de ocasião) e por isso empolamos uma ou outra diferença e crença. Falaríamos da espuma dos dias se os dias fossem calmos. Assim, falámos dos dias revoltos... e brincamos seriamente com aquilo que incomoda a nossa gente, falámos de outras coisas sérias brincando, falámos de coisas sem importância em tom sério (sobretudo sobre as nossas escritas, versos, poemas e prosas). Falámos de outros amigos, de como os comentamos e somos comentados...
Foi bom ter estado e ter constatado: estes amigos são na realidade como os imaginava que seriam, enquanto os desconhecendo os ia lendo. Há sinceridade entre a sua escrita e a palavra dita. São ambas de corpo inteiro.
Despedimo-nos deixando no ar um projecto colectivo: um blog do grupo. Ficaram os pormenores por acertar, um dia destes, num próximo almoço... ou talvez jantar.

22 janeiro, 2013

Ferreira Fernandes pegou na minha metáfora mas nada escreveu sobre "abelhespas"......

- Ferreira Fernandes, internacionalizou-te a metáfora depois de te ler. Escreveu que para a Europa não há vespas más...
- Não acredito que ele o tenha escrito...
- Escreveu, escreveu, e acho que até espreitou o teu video, e falou na voracidade consentida... e com a mordacidade que lhe é conhecida, titulou a sua crónica assim "Não há vespas más"...
- E não disse mais nada? Não falou nos enganos dos eleitores que votam nas vespas que se fazem passar por abelhas?
- Não, disso ele não falou! O que ele descreveu foi a técnica dos japões em defender as colmeias do ataque das vespas... e da displicência dos cientistas franceses...
- Tens a certeza que o Ferreira Fernandes não escreveu mesmo nada?, nem sequer coisa insinuada?
- Nada, internacionalizou-te a metáfora e com algum sentido! Acho até que lhe devias estar agradecido...
- Agradecido?, se ao menos ele denunciasse a metamorfose que por aí tem andado e que agora requer ainda maior cuidado... 
- Metamorfose? Estás a falar de quê?
- Das "abelhespas", abelhas que deixaram de o ser sem que sejam vespas. Falam como se fossem abelhas mas procedem como as vespas!
- E são vorazes?
- Sim, também, mas disfarçam bem... 
- Ah!

A REFORMA DO ESTADO, Prós e Prós com os Contras à procura de pontas....



Foi no Domingo... a dada altura, há uma criatura presente que lança a imprecisão de um tal jornal alemão (Der Spiegal) ter escrito, há mais de um ano, mas sem precisar quando, que a economia tinha que ir para o galheiro. Falou-se em reduzir, não precisava o quê, 20 ou 30%, o que é obra. Boa!, pensei, agora alguém pega nisto para desmascarar a tramóia. Talvez o Canotilho. Talvez o Póvoa... Qual história, passaram que nem gatos sobre brasas sobre essas tremendas "previsões" e enveredaram por elucubrações, cada qual com a sua opinião, mas batendo (quase) todos na tecla da "desatualizada" Constituição... Eis senão quando, o parvo "de plantão" (sem querer) lança a claridade: 
"se o produto interno bruto não fosse os actuais 150 mil milhões e fosse 200 mil, os 10% de despesas de saúde eram mais que suficientes" para cuidarem das nossas gentes, em condições decentes"
Pois é exactamente essa a discussão necessária e urgente. O resto é frete à troika e fingir que se anda à procura do consenso... para coisa que já está alinhavada e há muito planeada...

PS: Nota positiva (à tangente) para Sampaio da Nóvoa e Gomes Canotilho, mas que não chega para salvarem "aquilo"...

21 janeiro, 2013

"Boa malha", alguém gritava. Era o chinquilho, e eu ficava tempos sem fim a olhar aquilo...


Era do outro lado da estrada, à porta da tasca, num terreiro onde parava a rara camioneta de carreira que ligava o Montijo ao Barreiro. Da quintinha até lá eram cem passos apressados e mal contados. Era ali que aos domingos se juntavam os homens. Miúdos não havia, era só eu. Minha avó deixava-me ir, contrafeita "não te quero ali,  aquela gente não tem tino na língua e só sabem dizer destarelos". Mas eu insistia e ia. Ia e ficava por lá até que a última rodada fosse paga por quem não tivesse ouvido uma única vez o grito de "boa malha". Tino na língua, não tinham. Quanto a dizerem "destarelos", não sabia se os diziam, mas não parecia que os dissessem. Falavam das duras condições de trabalho lá na fábrica dos adubos do Barreiro, em confronto com as condições que havia na Mundet, a corticeira ali perto. Falavam do salário magro.  Falavam do pão que fazia parte da semanada. Falavam de coisas do Estado e da volta que se esperava que este levasse. Falavam de Nehru e da muito provável invasão de Goa. E entre um assunto e outro, se ia ouvindo "boa malha". Acho que aqueles homens não reuniam ali para jogar. Nem para beber. Acho que eles ficavam por ali para se sentirem irmanados naquilo que os irmanava. 

O jogo era mero pretexto e de cada vez que lhes ouvia coisa acertada, gritava para dentro de mim mesmo, sem que ouvissem nada: "boa malha!"


20 janeiro, 2013

Geração sentada, conversando na esplanada - 24 ( tábua de salvação)

(Ler conversa anterior) 
Procurei desesperadamente o texto de Gonçalo M Tavares (Noticias Magazine), não o tendo encontrado dei-me ao trabalho de o introduzir eu próprio: 
- No fundo, viver é isto: segunda tédio, terça tédio, quarta tédio, quinta tédio, sexta tédio, sábado tédio, domingo tédio, outra segunda tédio, terça tédio, quarta prazer das cinco horas às seis, depois de novo tédio e tédio e sexta tédio e sábado tédio e domingo tédio e se tiveres muita, muita sorte terás até ao fim dos teus dias dias, a este ritmo, tédio após tédio e, de vez em quando, umas horas de prazer.
- Uf, se tiveres sorte, portanto, serás um mortal entediado.
- Ser um mortal entediado significa que conseguiste contornar o acidente. É isso, entende Excelência? 
Gonçalo M. Tavares 
Foto amavelmente cedida por Fernando Santos (chana) 

Esperei, esperei, esperei e não apareceu ninguém na esplanada. "É o mau tempo, pensei", como a dar explicação à ausência. Levantei-me e fui andando, andando, andando até me perder por caminhos por onde nunca tinha andado, fora da vista de quem passa e do alcance de qualquer janela. Estava só, só eu. Por detrás de uma vereda dei com o que não suspeitava ver: um monte de lixo. Uma lixeira a céu aberto com um sem número de coisas usadas, estragadas ou destruídas. Entre elas encontrei uma tábua. Olhei-a, tinha na textura o desenho da alma da árvore a que pertencera a tábua. Era a minha tábua de salvação... Peguei nela decidido a enfrentar qualquer acidente (ou susto). 

Conclusão: num qualquer dia que julgue perdido saia do tédio, perca-se por caminhos não andados e em sítios inesperados poderá encontrar a sua tábua de salvação. É um conselho, não é uma opinião.
___________________________________

PS (colocado depois de editado e de ter registado alguns comentários) - Escreve o Gonçalo:
"...acidente é aquilo que introduz a dor no que se previa ser prazer ou pelo menos tédio - Sentimos saudades do tédio nos momentos de acidente"

19 janeiro, 2013

Álvaro Cunhal, "Porque nenhum de nós anda sozinho / E até mortos vão a nosso lado.” - 8


A imagem acima dá conta de que foi criado um espaço para fazer o mesmo que eu faço. Não faz sentido fazer coisas repetidas e, quem está lá, deu provas de saber fazer melhor do que eu faria o que eu me propus fazer. Ainda para mais, é um trabalho colectivo. Contudo, não abandonarei a ideia de ir, aqui, dando conta do que ache por bem escrever ou reproduzir. Fá-lo-ei em sintonia com o outro lado, postando coisas que julgo merecerem a atenção, ou me emocionem, ou ache dever sublinhar. Não quero desfazer-me desse dever. Não quero perder esse prazer...

É por tudo isso que este outro sitio é de visita obrigatória!



O video refere-se a um ponto alto, dos muitos ocorridos na tarde de hoje
(tarde que aparece bem reportada, onde eu não esperava nada...)

Ricardo Salgado, é o cérebro analisado...


O cérebro não é, o cérebro vai sendo. Certas figuras encaixam lindamente em determinadas tipologias e é esse o caso deste Salgado. Vejamos por pequenas (mas expressivas) afirmações como tais cérebros terão operado para chegarem ao lugar chegado:
"Não gostaria de referir políticos de destaque, não me cabe a mim fazer a história deste período  mas não poderemos deixar de referir Sá Carneiro, Mário Soares e Cavaco Silva. Mas os heróis estão no sector privado, os empresários portugueses, que criam riqueza." 
Ricardo Salgado, hoje no Expresso
Como numa frase tão curta se pode dizer tanto?

18 janeiro, 2013

Construindo a visão... (3)


Os Zzzz´s próprios dos vespeiros eram inteiros e os olhares dos vespas se perdiam pela ornamentação dourada da bela sala, olhando as abóbadas do tecto, como que a inquirir a resposta: 
"e como fazer, sem que as abelhas acordem e se revoltem?"

Do lado direito, da fila primeira, logo da primeira cadeira, se levantou um vespa. Levava na mão uma pen que inseriu e mostrou um video que toda a assistência viu. Elevando a voz para que fosse ouvido de modo entendido, disse antes das imagens passarem: 
"Evitemos esta imagem voraz. Evitemos mostrar o que não deve ser mostrado, como hoje soubemos não deixar escutar o que foi dito. Alimentemo-nos das abelhas de forma menos evasiva, mais...persuasiva. Não esqueçam que temos a vantagem de sermos confundidos e tomados por salvadores e amigos... de estar a cumprir um desígnio...  de este sacrifício ser um imperativo e desse imperativo ter um único sentido: o do extermínio!"
 (findo o vídeo, o orador foi muito aplaudido e depois disso os vespas foram saindo)


Sabe-se que o que vai acontecer não será bem isto... o vídeo é a metáfora que faltava

17 janeiro, 2013

Construindo a visão... (2)


- Olhe ela voltou!, mas pousou neste outro lado... vai esperar que ela vá embora e voltar a trabalhar no arame?
- Trabalhar no arame naquele momento foi uma decisão errada. Uma metáfora para resultar tem que ser bem trabalhada e usar-se nela o material adequado...
- Escolher o arame foi uma opção errada?
- Não!, errado foi ter metido lá o martelo... em vez de se ter entendido que ele era usado para desfazer os círculos viciosos, todos leram que o que era preciso era desatar à martelada...
-  Os sinais dos tempos sobrepõem-se às intenções edificantes... então e agora?... noto que está a olhar para o belo insecto com o mesmo olhar fixo...
- Estou a tentar discernir se o insecto é abelha ou vespa... Há uma grande confusão à vista desarmada... o que mais se parece com uma vespa é uma abelha, o que mais se parece com uma abelha é uma vespa...
- Tem razão, eu próprio as confundo. Dizem das abelhas que são trabalhadoras e calmas e que as vespas são carnívoras e bravas...
- As abelhas têm uma organização social invejável mas vulnerável... as vespas atacam as abelhas, invadem-lhes os favos e devoram-lhes as larvas. As vespas maiores, mais vorazes, até as comem... 
- Não sabia... agora reconheço a importância de ficar aqui a olhar... mas... como vamos perceber a diferença?
- Primeiro olhamos para reter a imagem, a forma das patas, o abdómen, o tórax... Depois aproximamo-nos. Se nos atacarem, são vespas..
- Aproximemo-nos então!... Olhe, voou e pousou naquela flor...
- Era abelha!
- Era abelha! Podemos recapitular o observado ainda agora?
- Não consigo, tenho um problema de memória...
- E eu de observação... estamos então condenados à confusão... a só perceber quando nos vierem morder...
- Nem mais! O nosso drama é continuarmos sem memória!
- E de observação! Há um vespeiro reunido e muitos ainda julgam tratar-se de uma colmeia!!!

16 janeiro, 2013

A dona Esmeralda e a vizinha do 4º andar, a conversar - (14)


As vizinhas comentam desagravos de pequenos empresários...

Vizinha do 4º andar (em tom deprimido) - Dona Esmeralda, estou desolada. Depois de ter percebido que o salário até tinha crescido… pimba, foi despedido
Dona Esmeralda (estupefacta) - Mas… Crescido?... Despedido? Explique lá isso!
Vizinha do 4º andar (em jeito de explicar) - A senhora sabe da subida do IRS... sabe da tal taxa... e sabe das simulações... com as tais antecipações... e que até dava dinheiro a mais...
Dona Esmeralda (nada admirada) - Claro que sei... ontem cá em casa andámos a fazer contas...
Vizinha do 4º andar (quase a gritar) - Pois o busílis está aí... o patrão não tem um tostão furado, quanto mais para antecipar esse salário...
Dona Esmeralda (a tranquilizá-la) - Então recebe lá mais para o verão... o seu marido é quem tem o poder de decisão...
Vizinha do 4º andar (quase a chorar) - Ele sabia disso e levantou a voz porque nos dava jeito agora,  porque não se sabe o dia de amanhã, patati, patatã e pimba... depois de pedir muita desculpa, pô-lo na rua!... 
Rogérito (interrompendo, nesse preciso momento) - Vizinha deixe lá, o seu marido está ali excitadíssimo com a arbitragem do último domingo

15 janeiro, 2013

Construindo a visão...


- Que está a pensar com esse olhar tão fixo?
- Espero que a abelha saia dali e me liberte o material para eu poder pensar no que está a acontecer...
- Não percebo!, diga-me isso de outra maneira para que eu possa perceber!
- Estou à espera de poder usar o arame e reconstruir este momento que estamos vivendo...
- Com o arame constrói o pensamento para poder ter a visão do momento?... Olhe, a abelha já voou... Não se importa de eu ficar a ver como constrói a realidade trabalhando o arame?
- Fique. Veja só: pega-se assim, firmemente. Depois vai-se fazendo um pequeno arco, lentamente... mas com força. Repete-se o procedimento e surge aqui à frente outro arco quase igual. Repete-se, e assim sucessivamente, vamos desenvolvendo ciclos e ciclos com o arame...
- Faz muita força de dedos nessa manipulação?
- Neste ponto, já não... e é isso mesmo o que queria perceber... ao principio, para fazer cada ciclo, foi preciso, agora o próprio arame vai-se pondo a jeito... parece estar viciado e isso favorece a forma que lhe vou dando...
- Percebo! A partir de um dado momento os ciclos desenvolvem-se com o vício da forma inicial que foi dando...
- Isso mesmo! O arame, depois de bem manipulado, quase que automaticamente assume a forma pretendida... é uma espiral... parece uma mola, só que não impulsiona nada. Fica como a vê aqui, parada.
- Olhe, está-se a acabar o arame!...
- Vou passar a fazer círculos de diâmetro mais reduzido. Acho que chegámos ao ponto em que estamos agora...
- Mas... está a voltar atrás?
- Passámos os ciclos viciosos e, à falta de arame... digamos que temos que voltar atrás e reduzir os ciclos que tinham sido maiores. Passo a fazer ciclos recessivos... e, à frente, a fazer ciclos mais reduzidos...
- ...que vão parar?
- Quando não houver mais arame!
- O fim está à vista... foi excelente este exercício! Mas como é que saímos disto?
- Neste momento vamos a tempo... É sair destes ciclos e endireitar o arame... mas com o vício...
- Com o vício?... 
- Só à martelada!
- Acho que é uma boa solução. Procuremos o martelo, então.

(saíram os dois, procurando o martelo)

Poesia (uma por dia) - 30

ARRUMAÇÃO

Colocar tudo nos seus devidos lugares ‒
as certezas e as interrogações

Este fogo que arde devagar
colocá-lo no altar das coisas perdidas

ao abrigo do medo de deixar alguns lugares
vazios

Nota: A imagem (da net) foi escolhida por mim. Não sei se com ela concorda o poeta. 
Apenas lhe interpreto o "medo de deixar alguns lugares vazios" 

14 janeiro, 2013

O mail


Não me julgo diferente e penso que a todos acontece deixar de ter presente coisas que nos preencheram por termos preenchido momentos de outros. É bom beliscar a memória, dos outros e a própria. Passou tempo e já não me lembrava até que um mail mo veio lembrar. Dizia assim:
Olá Rogério, boa noite! 
Faz tempo que ando para te escrever, mas, umas vezes a minha alma , outras o meu contrário, não se têm entendido de modo a espicaçar o meu "eu" para que este se decidisse, finalmente, a dizer-te de quanto apreciei o teu livro, que li há aproximadamente um mês... 
Sabes?, conseguiste "mobilizar-me", i. é, deste-me uma visão inesperada da guerra que não vi nem vivi (mas senti na pele dos outros), mas onde perdi quatro Amigos.
O acaso -que te hei-de explicar- decidiu poupar-me e fez de mim, um "corpo" que não foi fardado (salvo os primeiros seis meses), não obstante me ter obrigado a ser um "não civil" durante três anos, três meses treze dias e meia-hora.
Gostei, aliás gosto, da tua escrita escorreita e da forma clara e objectiva como descreves um quotidiano doloroso e as suas pequenas/grandes vicissitudes.
Ler a guerra através de interpretação vestida de bata branca, a salvar vidas, é muito diferente do que saber dela de camuflado a tirar vidas, ainda que em legítima defesa. Acredita que cheguei a comover-me com as tuas palavras e retive -imaginei- muitos detalhes, que estão para além das "estórias", especialmente pelo pudor, sensibilidade e subtileza que soubeste utilizar nas (não)descrições e na maneira com preencheste muitas das entrelinhas. 
Felicito-te por tudo e agradeço-te, porque só o talento do escritor que és pode aguçar o talento do leitor que eu sou.
Não sou de muitas palavras, nem crítico literário, como sabes, mas estas que aqui deixo são sinceras e sentidas.
Temos tantas coisas em comum e, já agora, mais uma: Também nasci em Fevereiro de 1945, a revelação da data fica para o próximo encontro com os nossos Amigos. 
A minha guerra(?) foi diferente, durou uma página e se tivesse um subtítulo seria "Corpo que não foi fardado". Aqui te deixo o link: 
Um forte abraço e votos de tudo de bom para ti e para os teus. 
E foi com o ego inchado que fui ler o texto que me tinha mandado. Vá também!

Poesia (uma por dia) - 29


Do vento que se diz imperfeito (reeditado) 
«O poema que nunca poderá ser escrito
Não está em lado nenhum mas à tua frente»
António Ramos Rosa

Pudesse explicar o sedimento, a forma do vento
e não seria num poema, não

não existem manuais para construção dos pássaros
que voam, mas existem
instruções para conservar a sombra do homem
como um sopro no coração, e por coração
a forma bem revestida
a carcaça ferrugenta na forma dum outro pássaro, talvez
o conciso novelo de arame farpado
que não arde pelo fogo, nem se espalha
na palavra que o vento ateia, mas existe

o sedimento e dobra e forma no vento que não é
engenho voador; é invento ténue, é todo
o claro silêncio que escuta, as quantas pedras da palavra
mas num poema, não

existe o absoluto, a dúvida, as ciência
que explica com a máxima precisão
as incertas dimensões do tempo,
o transbordo dos precários rios que trago na mão
o remendo dos cieiros alojados no vento norte, o ventre
que traz a asa, a raiz do corpo que aos poucos apodrece
no pouco embrulho, o pouco escrito na pele adentro
no mapa do mundo meu caminho que não soube migrar
nem sabe, mas existe

porque escrito no primeiro dos livros, a palavra, a explicação
o que se diz desta mão, o quanto do vento se fez imperfeito
existe
mas num poema, não.

Leonardo B / "A barca dos amantes"

13 janeiro, 2013

Geração sentada, conversando na esplanada - 23 ( ...o gesto feio da autarca)

(Ler conversa anterior) 
- «Filho feio não tem pai.»
- Como?
- «Filho feio não tem pai.»
- Que frase terrível!
- Sim, é terrível, mas é isso mesmo. E não é apenas filho feio. Acontecimento feio também não tem pai. O zero também não tem pai. Culpa também não tem pai. 
Gonçalo M. Tavares, hoje
...até que a Gaby estoirou "Olhem-me só esta cabra... era o que faltava..."

Na esplanada os assuntos pareciam esgotados. Todas elas, o engenheiro e até eu estávamos de acordo sobre o que se tinha falado: que o tal estudo do FMI era uma lebre posta a correr e irá dar lugar ao que vai acontecer e sobre o que vai acontecer, embora não se possa prever, não será nada de bom; que o resultado do jogo de logo é incerto; que o cão que matou a criança é o menor culpado... Isto, assim dito, parece não ter a ver com o tempo que levou até toda a esplanada chegar ao consenso. Fez-se depois prolongado silêncio, até que a Gaby estoirou:
- "Olhem-me só esta cabra... era o que faltava!..."
- "Qual cabra? O que é que estás a ver?"
- "Reforma aos 48 anos, quase 2 mil  dele. E falam estes comunas em exemplo... que acto feio!, todos lhe malham, e é bem feita"
- "Todos?, quais?"
- "Todos os jornais"
- "Algum diz como é que ela fez isso?"
- "Todos dizem que é a coberto da lei..."
- "E algum diz quem é que votou a lei?"
- "Não! esse ponto é omisso... e o que é que a legalidade de um acto tem a ver com a falta de ética de quem o comete?"
- "A lei define a circunstancia. Não é possível julgar o homem isolado da circunstancia... «se a circunstância não é humana, humanizemos a circunstância»...
- "Queres dizer que se devia aproveitar o acto feio para fazer mudar a circunstancia?"
- "Sim, e mais..."
- "Mais o quê?"
- "Responsabilizar a paternidade duma lei sem ética, sem moral"
- "Estás a branquear a responsabilidade da autarca!..."
- "Não!, estou a por a claro a responsabilidade sobre os que provocam a degradação do sistema..."
- "E quem são?"
- "Adivinha!"

12 janeiro, 2013

Poesia (uma por dia) - 28

Palavras sem graça…

Desci hoje à praça,
Sílabas de um e outro,
Palavras sem graça…

Sombra cada olhar,
Cada passo incógnita,
Onde se vai parar?

José Rodrigues Dias / Traçados sobre nós

Álvaro Cunhal, "Porque nenhum de nós anda sozinho / E até mortos vão a nosso lado.” - 7


«O camarada Álvaro Cunhal dizia que estava convencido que eu nunca abandonaria o partido. Tinha razão. E aqui estou», afirmou o Nobel da Literatura, ouvido em silêncio e que recebeu uma ruidosa salva de palmas de militantes e amigos que encheram uma sala do Centro Vitória do PCP, em Lisboa.» in TVI24 - Outubro.2008 
«...As memórias pessoais que se recusou a escrever talvez nos ajudassem a compreender melhor os fundamentos da raquítica árvore a cuja sombra se recolhem hoje os portugueses a ingerir os palavrosos farnéis com que julgam alimentar o espírito. Não leremos as memórias de Álvaro Cunhal e com essa falta teremos de nos conformar. E também não leremos o que, olhando desde este tempo em que estamos o tempo que passou, seria provavelmente o mais instrutivo de todos os documentos que poderiam sair da sua inteligência e das suas finas mãos de artista: uma reflexão sobre a grandeza e decadência dos impérios, incluindo aqueles que construímos dentro de nós próprios, essas armações de ideias que nos mantêm o corpo levantado e que todos os dias nos pedem contas, mesmo quando nos negamos a prestá-las 
(...) Ainda precisávamos de Cunhal quando ele se retirou. Agora é demasiado tarde. O que não conseguimos é iludir esta espécie de sentimento de orfandade que nos toma quando nele pensamos. Quando nele penso. E compreendo, garanto que compreendo, o que um dia Graham Green disse a Eduardo Lourenço: "O meu sonho, no que toca a Portugal, seria conhecer Álvaro Cunhal." O grande escritor britânico deu voz ao que tantos sentiam. Entende-se que lhe sintamos a falta.»

11 janeiro, 2013

Poesia (uma por dia) - 27




O REGRESSO.....AO FUTURO

Estranha viagem num comboio. Estranhas também as personagens. Estranha a paisagem....o rio e a árvore; a nuvem e o sol.

No meio dos túneis ficam bailando os nossos olhos, verdes rituais. E as estranhas personagens, carregadas de embrulhos, sentadas nos seus lugares. Ao lado, campos de papoilas de cor viva quente, de um vermelho reluzente, aparentando um toque aveludado.

As papoilas..... frágeis, solitárias, silvestres, um tanto agrestes que rapidamente deixam de o ser, sopradas pelo vento.......

De repente o sol abre o escuro, quebra a solidão, dá brilho e traz calor .....e são apenas raios de luz que o sol enviou!!!

Os ponteiros rodam....rodam.....passam dias, passam anos, cada dia ao acordar! Mas eu li, escrito nas estrelas - entre as que cintilam - que um sopro profundo há-de transformar o mundo!!!

Logo vão cantar...


E logo, os netos vão cantar... (a mãe faz anos!)

10 janeiro, 2013

Poesia (uma por dia) - 26


 
Mais que um nome...

Cedo na vida me vejo e vislumbro o sonho, o desejo
De crescer mais em Luz e Harmonia.
De ser mais que um nome, uma miragem…
Quero ser arma de União…
quero ser
Bastião da Paz, da Honra o leito.
Quero crescer mais em cada peito
e florir em cada rosto, do futuro a imagem,
como quem traz …do negro da Idade
Uma centelha de Esperança e Verdade.
Eu sou (ainda que)…
…eu permaneço..
(apesar da tirania,)
…eu permaneço
(apesar da crueldade)
Porque
Meu nome és tu, Homem que crê,
Meu nome, sim, é Liberdade!

O estudo e o Estado (tenho que voltar às homilias...)

"... uma vez que a aplicação da política económica não pode ser decidida pelos governos nacionais, então é indiferente que os governos sejam conservadores, nacionalistas, capitalistas, socialistas, social-democratas ou liberais. Apagam-se as fronteiras do que chamávamos ideologias, porque isso não tem mais importância. O mais importante – e eu diria, o mais trágico – é que se tira dos povos o direito de decidirem sobre o seu destino. Claro que nada no mundo é definitivo, e os povos sempre encontram as soluções melhores para os seus problemas..."
José Saramago in "Quem é o patrão da Europa?" (Publicado em Jornal do Brasil – 15 de Maio de 1992)
"A palavra de que eu gosto mais é não. Chega sempre um momento na nossa vida em que é necessário dizer não. O não é a única coisa efectivamente transformadora, que nega o status quo. Aquilo que é tende sempre a instalar-se, a beneficiar injustamente de um estatuto de autoridade. É o momento em que é necessário dizer não.
José Saramago, in ‘Folha de S. Paulo (1991)

Poesia (uma por dia) - 25


I - meia lua e o pássaro
Nesse dia ao sair de casa o rapaz percebeu que a rua não era a mesma. Ficou uns minutos parado, as mãos nos bolsos, os olhos entreabertos, os ouvidos à escuta. Sentiu no ar um cheiro a sementes de sésamo queimadas e não havia vento. Não reconheceu mais nada.
Lembrou-se que aquele ano não tinha começado exactamente como os outros. O pai resmungou, estou desiludido. A mãe pegou na mochila do irmão mais velho, meteu-a na máquina da roupa no programa da água quente para tirar as nódoas, a mochila encolheu. A mãe disse, não faz mal tu também és mais pequeno, e coseu etiquetas a tapar os buracos. Ele pensou, vão gozar comigo, mas não ligou muito a esse facto, e agora que via a professora de português por quem ele estava apaixonado desde o 5º ano, cada vez mais distante, ainda menos. A turma tinha tantos alunos, que no exato momento em que os professores terminavam a chamada, a campainha tocava para o intervalo. Deste modo, aprendiam no recreio uns com os outros e com a matula do bairro XZY que entrava pelos buracos que já não tinham rede. Os Bairros em Processo de Exclusão Instalada eram tantos, a quem ninguém vivo e muito menos morto desejava ver o seu nome associado. Daí a combinação das letras do alfabeto. Claro que a designação atribuída a estes bairros era perfeitamente ridícula e contraditória, pois um processo significa um projecto  um trajecto  e instalada, significa que já não há volta a dar, acomodada.
Mas ele não era bom aluno. Recusava-se a escrever nas paredes e a roubar bicicletas. Era um rapaz estranho, parecia estar sempre distraído, ausente, do outro lado das coisas. No entanto entendia a geometria das casas e das ruas, salvava os gatos assustados no alto das árvores, tratava das feridas aos cães vadios, plantava junquilhos nos buracos da calçada. De manhã quando saía para a escola com o seu fato de marinheiro antiquado, todos lhe diziam bom dia e ele guardava no bolso azul turquesa os recados que tinha que fazer à mãe.
Foi então que apareceu a correr, o pássaro. As patas bem firmes, as pernas longuíssimas, as penas no alto da cabeça a esvoaçar e gritava, não fiques aí parado, não vês tanto desolhar? vem comigo. E assim correram os dois durante vinte e cinco minutos, o rapaz cansado pensou que andava a exagerar nas bolachas e o pássaro a deitar alpista pela boca.
Meia Lua chama-se o rapaz e encontrou o pássaro das histórias.
Desolhar é a terra do povo do outro lado das vozes.

Manuela Baptista / Histórias Com Mar Ao Fundo

09 janeiro, 2013

O empreendedorismo está na moda... (2)


A nova crença não concilia o esforço colectivo com o individual... o mundo pertence aos empreendedores, dizem

O empreendedorismo está na moda. A moda vem e passa. Mas enquanto não passa a moda faz mossa. E a mossa que deixa é uma mossa composta. Composta de duas violentas mazelas. Uma é na mente de muita gente que fica a ciente que está no acto culto, rasgado, voluntarista e ousado a resolução dos problemas da vida, da economia e, assim, é saída para o tormento que vamos vivendo. A outra mazela é na memória, fazendo querer que o sonho de Abril passou definitivamente à história. É que os valores de Abril apelavam ao esforço colectivo, enquanto a doutrina agora vendida proclama que a salvação é possível para quem tenha ganas, garras unhas e guitarras e o sucesso de uma nação é o resultado do somatório dos sucessos individuais. Sucesso individual das pessoas, das empresas e das organizações.
A moda do empreendedorismo nasce de mãos dadas com o neoliberalismo, ambos se fundamentam no mito que o valor do homem apenas está no «valor que o "mercado" lhe dá»*.
Por isso é preciso que a moda não passe com a tranquilidade com que as modas passam de moda. O que é preciso, necessário, urgente é que acabemos com ela. É preciso acabar com a moda, agora!

* O texto linkado parece nada ter com o postado. mas tem, e muito

Poesia (uma por dia) - 24

Vida em pontas

Entrou de mansinho com suas sapatilhas de pontas
Levitou pela sala num suave relevé
Trazia nos olhos os lírios dos campos
e nos ombros a leveza das manhãs.
Imponente
Etérea.
Todo o seu corpo era um prolongamento da alma.
Pirouettes, detournés
E a música ecoava na sua pele.
Cabriole, en l'air
e o coração saía do peito.
Fouetté
E os olhos em extâse nada mais viram que o tempo avançar.
Tombée
Era tempo de receber os aplausos.
En arriére
A vida estagnou.
Sandra Subtil / Sentidos

08 janeiro, 2013

O empreendedorismo está na moda... (1)


O empreendedorismo é um conceito que floresce e se dá bem na selva. Aí o mais empreendedor se afirma com as suas competências, qualidades individuais e outras coisas que tais... mas num deserto? Quem é que foi o esperto?...

Poesia (uma por dia) - 23

Imagem que reporta a poesia editada
Voltar ao compromisso
Parei
Reparei que parei
Quando reparamos
Que paramos
Andamos
A virtude de reparar
É essa... andar

Volto portanto a publicar
Poesia
Uma por dia

Amanhã, porque há sempre um amanhã

07 janeiro, 2013

Sondagem... (enquanto tal susto não chega, é este o sentimento dos sondados)

Passaram-se várias coisas desde a última sondagem. A imprensa, eficaz e eficiente mente, aguentou possíveis veleidades de alteração da opinião e, assim, permanecem as hesitações nas classes média e média baixa quer quanto à situação quer quanto ao sentido da sua votação. Outras sondagens vão-se sucedendo como forma de controlar a eficácia da mensagem dos fazedores de opinião. Ao menor desvio à esquerda, pimba: mixórdia  para cima...
Assim, a outra sondagem que anda para aí a correr, não vale nada. Cá para mim, foi inventada...

-Imagens do estado de espírito de cada classe quanto às consequências do integral cumprimento daquilo a que continuam a chamar pacto. As classes que alguns querem no "centrão" andam, aflitas, de orçamento  na mão, a ver se safam ou não.

Como resposta à única questão sondada: Qual o sentido de voto, se as eleições fossem hoje:
  1. As classes A e B, cerca de 17,5% do eleitorado estão tão radiantes que votarão como votaram antes. 
  2. A classe C (C1, 24,9% + C2, 31%) andam numa roda viva e, tal como na sondagem anterior, a coisa anda distribuída entre os partidos troikanos. Acontece que uns troikanos levam alguma vantagem sobre os outros... troikanos. Lêem o orçamento, declarações, mensagens, apelos e sermões. Olham para o Tribunal Constitucional como quem olha para o Pai de Natal. Quanto a alternativas, nem pensar pois essa coisa de reestruturar a dívida era logo para doer e, assim, vá se lá saber. 
  3. A classe D, 20,7% continua à rasca mas é firme em não aceitar esta situação e votam onde acham que devem votar. Uns até falam na necessidade de nova revolução ou de um susto que acorde quem se julga ainda na classe média...
    ____________________________________________
    Ficha Técnica: Foram inquiridos 9 milhões de portugueses, via telemóvel. Os desempregados viram as suas respostas anuladas para não dar um tom demasiado pessimista aos resultados globais. Foi aplicada uma metodologia assente nos critérios usados pela Marketest no que se refere ao dimensionamento das classes sociais. A análise de resultados segue metodologia própria que designada por Marketestista. Não tem nada de marxista embora, em sonância, o faça lembrar, apesar de fazer arranhar muito mais o aparelho auditivo.

06 janeiro, 2013

Geração sentada, conversando na esplanada - 22 ( ...e o Bloco Central é o que nos vai salvar)

(Ler conversa anterior)
"- Os animais selvagens são capazes de nos engolir com um apetite manso, um apetite tranquilo. 
- Eles são selvagens e cruéis de uma forma natural. Sem esforço. 
- Praticam a crueldade como quem pratica fitness ao domingo. São maus e cruéis para manter a forma, para não ganhar barriga... para não se aburguesarem, no fundo. A crueldade animalesca como actividade de lazer. (...)"
O miúdo fez como já tinha feito, beijou repetidamente o rafeiro...

A esplanada parecia a minha casa. Parecia o dia de festa, o dia do meu aniversário em que apareceram todos. Agora, como lá, trocavam-se cumprimentos, sorrisos, beijos e comentários: "Foi tão bonito...", "Tem uma linda casa...", "Não suponha que tinha tantos amigos...", "São profundos os seus escritos...", "É comuna?"
Eu era, assim, o alvo de todas as atenções, perante o ar enciumado do senhor engenheiro e o olhar (que parecia) divertido do seu cão rafeiro. Entretanto foram-se acalmando, a Teresa estendeu o Expresso sobre a mesa e a Gaby ia mostrando à Ana as cenas que perderam, do final da "Casa dos Segredos". Ninguém falava na ausência da Rita, até que esta apareceu. Trazia pela mão o filho e este logo a largou e correu direito a mim. "Give me five", disse levantando a mão, enquanto com a outra afagava o cão rafeiro e com um sorriso cumprimentava o engenheiro. Quando bateu na minha mão, com força, teatralizei um esgar de dor...
- "Está terrível de aturar, a avó estraga-o com mimos..."
- "É natural, é avó..."
- "É demais... desde que lá estamos em casa..."
- "Agora estás em casa dos teus pais?, e o teu marido?"
- "Separei-me... a vida estava insuportável... Além de, como sabem, ele me bater, agora não dava nenhum dinheiro em casa... o ordenado mínimo mal lhe chegava e o pouco que lhe sobrava nem sei o que dele fazia... tinha de acontecer, mais dia menos dia"
Fez-se um silêncio, aquele que é próprio quando todos não sabem bem o que dizer. E foi ainda a Rita quem o veio quebrar, voltado a falar:
- "Às vezes penso que o amor dele se converteu em raiva por não se julgar útil... por não poder ajudar..." 
Voltou o silêncio e o nosso foi como se déssemos, à sua conclusão, o nosso consentimento.
- "Este coiso está tão manso..." e apontava, no jornal, a foto de Cavaco, "nem parece o mesmo que disse o que disse... agora começo a atar as pontas e a encontrar sentido no que disse o Seguro e hoje o Balsemão..."   
- "E que disse o Balsemão?"
- "Esse sabe-a toda... tranquilamente vamos ser abocanhados pelos mesmos de sempre, estamos entregues aos bichos!"
O diálogo tinha ocorrido sem intervir nele. Não era necessário. Levantei-me e despedi-me lembrando a data. "Bom Dia de Reis", responderam todos...  e o miúdo veio-me dar um aperto de mão, comprovando que a mãe não tinha razão. Era um miúdo calmo.

05 janeiro, 2013

Álvaro Cunhal, "Porque nenhum de nós anda sozinho / E até mortos vão a nosso lado.” - 6

"Há homens que lutam um dia e são bons, há outros que lutam um ano e são melhores, há os que lutam muitos anos e são muito bons. Mas há os que lutam toda a vida e estes são imprescindíveis" - Bertold Brecht
Vão os imprescindíveis sendo ceifados? Vai a morte os afastando? Não, se os que queremos presentes. Foi a 3 de Janeiro de 1960. Não considero uma fuga mas um (re)entrar dentro da luta...

Agora, nesta prisão sem grades, não há que fugir. É seguir-lhe o exemplo, a determinação, a coerência na defesa dos valores, entrando na luta.
Hoje somos todos imprescindíveis...  



(video editado, aquando do 50º aniversário do feito histórico)

04 janeiro, 2013

O Tribunal Constitucional e o que dele esperam os que nem sabem o que os espera...

A imagem reproduz rogériografias de um cérebro normal (esq.) em confronto com uma sua evolução (dir.) 

Em estudos por mim realizados, em Agosto de 2010, eram já maioritários os cérebros anormais, cuja anormalidade ia condicionando a marcha da "coisa pública". Se antes, a lobotomia era a técnica usada para neutralizar o hemisfério pensante, recentemente recorrem-se a métodos menos evasivos e dolorosos com resultados mais proveitosos para os poderes instituídos.  Se fosse o caso deste post pretender o detalhe de tais métodos, iria por certo descreve-los minuciosamente e pôr a claro como se domina a mente.  Para já, basta referenciar que o método resulta:
(...) na noite da passagem do ano com a transmissão da final do reality show Casa dos Segredos 3. O programa foi visto por mais de 1,8 milhões de espectadores.(...) O pico de audiência registou-se pelas 00h17, atingindo os 2,383 milhões de espectadores.
Considerando que a regeneração da parte pensante só acontecerá com um enorme susto, não é espectável que tal aconteça por decisões do Tribunal Constitucional... Enquanto isso uma minoria de cérebros normais resistem! Espera-se o susto...

03 janeiro, 2013

Se eu pintasse... (2)

.
Auto Retrato - Maria João Brito de Sousa
"A gente não faz amigos, reconhece-os." disse Vinicius e é verdade. 
Aconteceu com a João. Não a conhecendo já a conhecia. Chamam-lhe química, empatia e mais não sei o quê quando nos sentimos ligados sem nunca antes termos estado... começou sem que me lembre como tenha começado. Ela leu-me. Eu li-a. Lia-a nas "pekenasutopias" depois em outros lados. Conhecemos-nos a meu convite e fomos onde ambos gostámos de ir e ouvimos falar de coisas solidárias, de vidas dedicadas, de luta, de resistência e de esperança. Hoje ofereceu-me um poema e sugeriu que eu me iniciasse em algo que um dia faço. Nem que seja um simples traço...
------INICIAÇÃO À PINTURA-----
(Em decassílabo quase heróico)

“Pinte-se o céu da cor que te aprouver,
Faça-se luz no traço em movimento,
Cozinhe-se outro mundo, a fogo lento,
E engendre, o coração, quanto puder!

Reinvente, cada homem e mulher,
A génese adequada a cada intento
Roubando a tempestade ao próprio vento
E a centelha de cor que se acender!

Depois… é uma dança, um medir forças
Dos braços que se movem como corças
Sobre a nudez da tela ou papelão…

E não se pára enquanto o fim não chega!”
Relembro enquanto a força se me nega
E a cor se me desfaz num turbilhão…

Maria João Brito de Sousa