31 maio, 2013

Tenho andado (também) ocupado... a DAR ASAS A OEIRAS - 2

Ontem expliquei o projecto. Agora apenas o detalhe de uma imagem, de muitas que poderia mostrar: um Cuco no seu ninho. Nele trabalharam três pessoas, com paralisaria cerebral, do Centro Nuno Belmar da Costa (que visitei há uns dias atrás)... 
E estes pássaros? São raros? Não, são mesmo produto da imaginação. Foram construídos por meninos e não lhes fizeram os ninhos. Habitam a "árvore do nunca". Árvore assim baptizada... pela pequenada.
Para quem tenha facebook, pode seguir aqui todo o projecto

30 maio, 2013

Tenho andado (também) ocupado... a DAR ASAS A OEIRAS - 1

É um projecto inovador, concebido e coordenado pela eleita da CDU à Assembleia de Freguesia de Oeiras e S. Julião da Barra (Comissão de Apoio ao Idoso)  
O PROJECTO - Trata-se de copiar, da natureza, o comportamento das aves na construção de suas casas. É isso, passarinhos e seus ninhos, laboriosamente reconstituídos por mãos habilidosas e depois colocados onde os podemos encontrar... nas árvores do jardim  
QUEM EXECUTA - Equipas de jovens e equipas de idosos investigaram e deram-se ao trabalho de executar os tipos de ninhos associados a cada ave. Os idosos são utentes das IPSS e Centros de Dia da Freguesia. Os Jovens, são alunos de “Artes” do 11º. Ano do Escola Secundária Sebastião e Silva, de Oeiras.  Mas também há deficientes (paralisia cerebral) metidos nisto...

DURAÇÃO - A exposição estará aberta aos visitantes e passeantes do Jardim de Oeiras que envolve o Pavilhão da ADO, até 16 de Junho, podendo prolongar-se até ao final desse mês.
A Gabriela (com a neta dela) que foi da ideia, a professora Fátima que "dá" uma disciplina "de artes" e alguns dos personagens com penas que... também, têm asas... 

E o "miudame" todo envolvido nisto. Está a ser, o que parece que esteja a ser... 

28 maio, 2013

Poesia (uma por dia) - 40


Identidade

Preciso de ser outro
para ser eu mesmo

Sou grão de rocha
Sou o vento que a desgasta

Sou pólen sem insecto

Sou areia sustentando
o sexo das árvores

Existo onde me desconheço
aguardando pelo meu passado
ansiando a esperança do futuro

No mundo que combato
morro
no mundo por que luto
nasço.

Mia Couto

26 maio, 2013

Hoje estou para aqui virado... é que vai ser duro fazer com quase nada, quase tudo...


Pode parecer que não me tenho portado bem e que me desleixei. Não tenho aparecido nem editado com a regularidade a que habituei. Eu sei. Mas, acreditem, venho sempre que posso. Só que tenho podido pouco...  É tanta a ocupação de passar a fazer o que, antes, me limitava a escrever. Mas sempre que possa, escrevo. Sempre que tenha um tempo, apareço. 
Nunca desertei de tarefa em que me empenhei. 

... a CGTP, a UGT e você...


Eu? Claro que estive lá!
"O líder da UGT, Carlos Silva, afirmou a razão que levou o sindicato a não estar associado à manifestação de hoje da CGTP. Carlos Silva disse que em causa não está a demissão do governo, mas a mudança de políticas, e a CGTP sai para a rua para exigir que Passos Coelho se demita ou seja demitido." - RTP 
"Mais de metade dos portugueses, em concreto 57%, defende a queda do Governo, revela um inquérito de opinião realizado pela Intercampus e divulgado esta sexta-feira." - Diário Digital

25 maio, 2013

Cavaco não tem a dignidade de um palhaço...

... fazer rir é coisa séria. Mas chamar palhaço tem várias ambiguidades, tantas que é de admitir que quem o fez julgue que o povo se limita a manifestar pelo riso o que dá vontade de choro, ou de grito. 

24 maio, 2013

Poesia (uma por dia) - 39


ROTEIRO
parar. parar não paro.
esquecer. esquecer não esqueço.
se carácter custa caro
pago o preço

pago embora seja raro.
mas o homem não tem avesso
e o peso da pedra eu comparo
à força do arremesso

um rio, só se for claro.
correr, sim, mas sem tropeço.
mas se tropeças não paro
- não paro nem mereço.

e que ninguém me dê amparo
nem me pergunte se padeço.
não sou nem serei avaro
- se carácter custa caro
pago o preço.

Sidónio Muralha (poema sugerido pelo CID)

23 maio, 2013

Poesia (uma por dia) - 38

imagem sugerida por uma sua amiga

Defesa contra o ataque
nestas horas pardas
dos dias arrependidos
há gente a matar
gente a morrer
gente a matar-se
gente a deixar-se morrer
a morte contínua
tecida na vida intermitente

nestas horas sombrias
dos dias gastos
fecho as janelas
corro as cortinas
não quero saber de viver
não quero saber de morrer
aqui não há tempo
nem consciência

só eu suspensa nos fios de cristal
dos meus sonhos adiados
pesando-lhes a resistência

Uma Rapariga Simples / Rimas Imperfeitas

20 maio, 2013

Conselho de Estado. E se, por absurdo, acontecesse...


Começou há poucos minutos... e durará até às tantas

Na sua composição, o Conselho representa o centrão. Se, por absurdo, o Presidente dissolvesse o Conselho de Estado na sequência deste o ter a aconselhado a que se demitisse abrir-se-ia uma crise nesta "democracia".  Esta implodiria. Não será possível esperar isso, mas é isso o que todos os portugueses passaram a esperar. Esperam um absurdo? Claro que não, tal há-de acontecer mas não numa só reunião... Acontecerá lentamente. Se não assim, de um modo diferente... É que toda aquela gente ali reunida tende a representar apenas 10,8 % dos anseios manifestados em "que se pague a dívida", honrando os seus (deles) compromissos. Dos outros, mais de 80% querem ver a troika sair porta a fora...

Estão todos reunidos, representantes dos partidos que assinaram o "acordo", em choque com os 47,8% de portugueses que consideram que o acordo não devia ter sido assinado. É verdade que se trata apenas de uma sondagem, mas é por isso que se ouvirá na rua: "a luta continua!"

19 maio, 2013

Geração sentada, conversando na esplanada - 32 (Gonçalo M. Tavares saberia da sondagem?)

(Ler conversa anterior)
Apenas o hipopótamo e o seu dono escaparam ao naufrágio, saltando para cima de um pequeno bote. O hipopótamo era o ganha-pão do homem e por isso quando o pequeno bote começou a inclinar-se para o lado onde estava o animal, o homem ficou preocupado com a possibilidade de este se afogar. Para evitar que a pequena embarcação se desequilibrasse completamente, o homem cortou um pedaço do hipopótamo e comeu-o, o que também era oportuno, pois começava a estar com fome. O pequeno pedaço tirado ao hipopótamo permitiu que o bote recuperasse o equilíbrio entre os dois lados, como uma balança. Mas por pouco tempo. Novamente o bote começava a ir ao fundo do lado do hipopótamo. Este, apesar do bocado que lhe fora retirado, ainda era mais pesado. O homem decidiu então comer mais um pedaço do hipopótamo. Depois de o fazer, olhou para o barco e viu que ainda não era suficiente: tirou mais um bom bocado do animal e comeu-o. O barco recuperou o equilíbrio. A viagem durou ainda algumas semanas e o homem, de seis em seis horas, via-se obrigado a cortar mais um bocado do animal. Talvez não fosse a solução perfeita, mas não poderia correr o risco de perder o hipopótamo. 
(histórias do livro O Senhor Brecht ) 
A imagem que se tem hoje nos países que estão violentamente em crise é a de que se está a comer as sementes, em vez de lhes dar tempo de crescerem. Comer as sementes significa destruir o que se tem hoje e destruir ainda a hipótese de vir a ter-se algo no futuro. E há dois tipos de pobreza - a pobreza de hoje e a pobreza de hoje que sente não poder vir a sair desse estado. A pobreza desesperada é, de longe, a mais violenta. Pobreza sem dia seguinte. Perder o tempo: nada há de mais desumano. 
Gonçalo M. Tavares, hoje, aqui

Gaby, viciada na tecnologia, nem ligava ao que se dizia...

Na esplanada, a mesa das professoras estava animada. Não apareceram nem o engenheiro nem o seu cão rafeiro, e, assim, eu refugiava-me na leitura do jornal até que um oh de admiração baralhou-me a concentração. Foi a Gaby que o dera e acenava o iPad com uma euforia que eu lhe desconhecia.
- Querem ouvir isto?
Ninguém lhe respondeu. Ia a dizer "Eu!", mas ela antecipou-se:
- Quer ler isto?, e sem que esperasse a resposta colocou-me o iPad à minha frente.
- Oh!, exclamei eu depois de ler, sem me poder conter. 

Poesia (uma por dia) - 36


CATARINA EUFÉMIA

O primeiro tema da reflexão grega é a justiça
E eu penso nesse instante em que ficaste exposta
Estavas grávida porém não recuaste
Porque a tua lição é esta: fazer frente

Pois não deste homem por ti
E não ficaste em casa a cozinhar intrigas
Segundo o antiquíssimo método obíquo das mulheres
Nem usaste de manobra ou de calúnia
E não serviste apenas para chorar os mortos

Tinha chegado o tempo
Em que era preciso que alguém não recuasse
E a terra bebeu um sangue duas vezes puro
Porque eras a mulher e não somente a fêmea
Eras a inocência frontal que não recua
Antígona poisou a sua mão sobre o teu ombro no instante em que morreste
E a busca da justiça continua

Sophia de Mello Breyner Anderson
NOTA: O assassínio de Catarina ocorreu a 19 de Maio de 1951  

18 maio, 2013

Pode-se prestar toda a atenção aos palestrantes, mas o mais importante são os coffee-breaks


Os reputados convidados garantem que estejam na sala todos aqueles que devem estar...

Aos Spin doctors, aos agentes do lobby e a todos os que, como Lily Caneças, fazem gala em se pavonear em qualquer sala, não chega que existam programas televisivos ou jornais a prolongar-lhes a imagem e o discurso. Pinto Balsemão sabe disso e basta abrir o Expresso para perceber que ele não brinca em serviço. São fóruns disto e daquilo, colóquios, seminários, conferencias, outros eventos e lá estão eles, os reputados palestrantes, preparados para dizer hoje o que já diziam antes. Os patrocinadores são a banca, os "psivinte" e outros bem instalados beneficiários do regime. Tudo às claras menos as conversas que se passam no recato dos longos intervalos dos coffee-breaks. No Expresso de hoje anunciam-se vários destes eventos  onde se vai definindo o nosso destino, mas o meu destaque vai para o próximo "Fórum para a Competitividade" que se adivinha promissor. Cito Ferraz da Costa seu presidente: "Tenho horror do dia que a troika saia daqui para fora, porque vai desaparecer a vontade de reformar". Pressinto que este grupo fechado vá dar o resultado de todas as conversas  nos "coffe-breaks" que terão ocorrido no passado... e para resolverem o horror desse senhor...

17 maio, 2013

Poesia (uma por dia) - 35


«Non dimittitur peccatum nisi restituatur ablatum»
Não! Não é do «Sermão do bom ladrão»
Que vos falo, com mágoa na voz.
É de mim, é do povo, é de nós,
Das sombras que se estendem pelo chão.

E dos pés que nos pisam? Esses não,
Não podem ser de gente assim atroz.
É que os pés sem as sombras morrem sós,
As sombras sem os pés não morrerão.

Eu não gosto dos pés, eu tenho medo
A quem o rosto dei, nele cuspiu.
Antes o rude corpo do penedo,

E sem alma, sem razão, cego ou mudo,
Onde possa como ele, também eu,
Resistir às tempestades e a tudo.

Né Fonte /  "Mais 1 Poema"

16 maio, 2013

Frei Bento Domingues: "A ditadura do medo"

Todos juntos, não teremos medo.
"1. Estamos na era do medo irremediável ou nas vésperas de "novos céus e nova terra", como canta o Apocalipse e que a liturgia continua a proclamar (Ap. 21,1-5)? (...)  
2.(...) Na Quaresma de 2010, ao pedir um gesto fraterno, Jorge Mario Bergoglio escreveu: estamos em risco! Como sociedade, acostumamo-nos, pouco a pouco, a ouvir e a ver a crónica negra de cada dia; habituamo-nos, também, a tocá-la e a senti-la à nossa volta sem que isso mexa connosco; produz, quando muito, um comentário superficial e descomprometido. A chaga está na rua, no bairro, em nossa casa; no entanto, como cegos e surdos convivemos com a violência que mata, destrói famílias e bairros; aviva guerras e conflitos em muitos lugares e olhamos para isso como mais uma imagem. O sofrimento de tantos inocentes deixou de nos incomodar, o desprezo dos direitos das pessoas e dos povos, a pobreza e a miséria, o império da corrupção, da droga assassina, da prostituição imposta e infantil passaram a ser moeda corrente sem realizarmos que, mais cedo ou mais tarde, teremos de pagar a factura (cf. Vida Nueva n.º 2.844 pg. 50).  
Isto não é uma fatalidade. É assim, porque nós consentimos." 
Frei Bento Domingues (ler na integra)

15 maio, 2013

SLB! SLB! SLB! GLO_RI_OSO SLB!


Há uma dúvida que me resta
Ou, eu Mouro, ensino munta bem
Ou meus netos aprendem... depressa
Por ordem (da esquerda para a direita): a Maria; o Duarte; a Marta; o Diogo; o Miguel

Poesia (uma por dia) - 34


Do sentimento trágico da vida

Não há revolta no homem
que se revolta calçado.
O que nele se revolta
é apenas um bocado
que dentro fica agarrado
à tábua da teoria.

Aquilo que nele mente
e parte em filosofia
é porventura a semente
do fruto que nele nasce
e a sede não lhe alivia.

Revolta é ter-se nascido
sem descobrir o sentido
do que nos há-de matar.

Rebeldia é o que põe
na nossa mão um punhal
para vibrar naquela morte
que nos mata devagar.

E só depois de informado
só depois de esclarecido
rebelde nu e deitado
ironia de saber
o que só então se sabe
e não se pode contar.

Natália Correia

13 maio, 2013

Poesia (uma por dia) - 33

Ave Maria (tradução)

Ave Maria
Onde está a justiça no mundo?
O perigo faz muito barulho, mãe
O correcto está ficando diferente
Sem inteligência, todos os ricos do mundo nos deixam pobres, hoje

Ave Maria
Cheia de Graça
Maria, Cheia de Graça
Maria, Cheia de Graça
Ave, Ave o Senhor é Convosco

E a força não existe sem humildade
É a fraqueza, uma intratável doença
E a guerra é sempre a escolha
Dos que a escolheram, e que nunca lutarão

Ave Maria

12 maio, 2013

Sócrates vs. Marcelo. Continua o Campeonato Nacional de "wrestling"


Ranking dos lutadores da "galhofa"

Alguns dados deste campeonato:
...é possível assistir a 69 horas de wrestling por semana. O equivalente a quase três dias completos em frente à televisão. Marcelo Rebelo de Sousa, José Sócrates e Marques Mendes são alguns dos rostos mais conhecidos de uma lista de, pelo menos, 97 "lutadores" com presença semanal na televisão portuguesa. 
(...) actividade parece ser lucrativa. Rebelo de Sousa, ...confirmou... receber dez mil euros por mês pelo seu comentário semanal na TVI. Marques Mendes, antes de sair da TVI24, terá recusado uma oferta de sete mil euros e, alegadamente, ter-se-á transferido para a SIC por ter recebido uma proposta melhor 
(...) Se se comparar a distribuição das "camisolas"... Em primeiro lugar surgem os  "lutadores" ligados ao PSD - o partido com mais figuras na TV -, seguidos pelos do PS e, no último lugar do pódio, os do CDS-PP. (...) 
Alguns comentários de comentadores e contratadores dos "lutadores":
 ...na "confraria dos convidados o que custa é chegar a confrade". - "Escolhemos pessoas livres que estejam em condições de pensar pela própria cabeça e que não sejam apenas correias de transmissão dos partidos." - "É nestas alturas que as pessoas querem pontos de referência, alguém que leia a realidade e que aponte pistas" - eles "fazem a diferença" em períodos de incerteza, uma vez que nestes momentos as pessoas precisam de ter pontos de referência para "analisar a realidade com maior rigor"
O lápis azul era mais fácil de contornar... Se não acreditam nisto, fica aqui o confirmativo, que deve ser lido.

Poesia (uma por dia) - 32


PLANO DE EVASÃO

Que mais podemos fazer?
Este amor é um país cansado

que não nos deixa mudar.
O medo cerca as fronteiras

e a capital é Nenhures,
cidade de perdulários

e pequenas ruas tortas
onde vem morrer a noite –

aqui estamos ambos sós,
desunidos, extraviados,

não há táxis na praceta
nem cinzeiros nos cafés

e perdemos os amigos
entre as curvas de um enredo

que deixámos de seguir.
Mas não era nada disto

o que tinha na cabeça
ao começar a escrever:

os versos chamam o escuro,
abrem os portões ao frio

e eu quero estar nas colinas
do outro lado do rio.

Rui Pires Cabral

11 maio, 2013

Só quero lembrar que o futebol é a coisa mais importante de entre as coisas pouco importantes com que nos devemos preocupar!

Eu, em assembleia de netos, explico o que eu próprio não entendo...
O treinador Mouro (que sou eu, não confundir com o Mourinho) tem o ânimo, para vencer o desanimo, e explicar aos netos: "A melhor defesa é o ataque" - e explicou que nada está perdido a não ser o muito que se perdeu. Os netos não perceberam nada disto... Nem Jesus. 
Nem o Mouro, que sou eu. 
Nota: o que foi lembrado, está aí, por tudo o que é lado 

Eu, tu e "O Lado Obscuro de cada um de Nós…"

montagem de imagens retiradas da net
"Quando nos esforçamos demasiado por penetrar noutra pessoa, descobrimos que a impelimos para uma posição defensiva e que ela cria resistências porque, nos nossos esforços para penetrar e compreender, ela sente-se forçada a examinar aquelas coisas em si mesma que não desejava examinar. Toda a gente tem o seu lado obscuro que – desde que tudo corra bem – é preferível não conhecer.Mas isto não é erro seu. É uma verdade humana universal que é indubitavelmente verdadeira, mesmo que haja imensas pessoas que lhe garantam desejar saber tudo delas próprias…"
Carl Jung

10 maio, 2013

"The postman". o culpado sou eu por não ter feito o filme a tempo...

Num dado momento assumi um compromisso. Por não cumprido estamos a ressentir-nos disso. Foi em Março de 2010, num post que agora repito tal qual, até com a mesma nota final: 

...será um libelo contra a sanha privatizadora, inscrita no PEC.
Estava meio deprimido. A semana não tinha corrido nada bem. Depois das minhas incursões pelas incapacidades educativas e de meia dúzia de propostas a que ninguém ligou, só fiz asneiras: Perdi-me no Chiado e escondi-me dos poetas que por lá estão; troquei as voltas àquela amiga que me oferece flores, cores, sorrisos e poemas (desejei-lhe feliz regresso quando ela ainda se preparava para partir); esqueci a quantas andava e perdi o dia de anos da minha mais recente seguidora; fui avinagrar amigos de infância, etc., etc., etc. Estava assim, zangado comigo mesmo e com o mundo, quando surge o toque salvador. Atendo:
Eu - Sim? (digo em voz mais seca do que me estava a alma)
Uma voz - Rogério? (ouvi, do outro lado, aquela voz bem conhecida que teve o condão de me animar a alma)
Eu - Olá, que bom ouvir-te (disse, quase a confessar-lhe o meu estado)
A tal voz - Rogério, lembras-te daquele meu filme onde eu desempenhava o papel de falso carteiro, perito em obras de Shakespeare, numa apocalíptica terra devastada e onde acabo por descobrir o poder de inspirar a esperança e fazer crer ao povo, perseguido pela tirania,que o Governo do meu país tinha sobrevivido à hecatombe?
Eu - Claro, é um dos meus épicos mais queridos! Aquele em que a juventude assume os correios, como símbolo do Estado e como bandeira da resistência e cidadania, mobiliza o povo contra os opressores. Belo filme, onde te vejo liderar uma heróica rebelião para repor a paz e a justiça
Voz – Esse mesmo. Quero que tu me escrevas umas notas, tipo sinopse, para uma nova versão. O título provisório é “The portuguese postman”, mas estou receptivo às tuas sugestões. Podes?
Eu – Yeessss! (exclamei, com uma alma nova em folha, sem os anteriores vestígios de ferrugem)
… e lá combinamos data e local para o bate-papo em torno do meu argumento. 
NOTA: Kevin Costner está mais atento à nossa realidade que a maior parte dos blogues que estou a seguir. Mas com o filme isso irá mudar...

09 maio, 2013

Poesia (uma por dia) - 31

Homens do futuro

ouvi, ouvi este poeta ignorado
que cá de longe fechado numa gaveta
no suor do século vinte
rodeado de chamas e de trovões,
vai atirar para o mundo
versos duros e sonâmbulos como eu.

Versos afiados como dentes duma serra em mãos de injúria.
Versos agrestes como azorragues de nojo.
Versos rudes como machados de decepar.
Versos de lâmina contra a Paisagem do mundo
— essa prostituta que parece andar às ordens dos ricos
para adormecer os poetas.

Fora, fora do planeta,
tu, mulher lânguida
de braços verdes
e cantos de pássaros no coração!

Fora, fora as árvores inúteis
— ninfas paradas
para o cio dos faunos
escondidos no vento...

Fora, fora o céu
com nuvens onde não há chuva
mas cores para quadros de exposição!

Fora, fora os poentes
com sangue sem cadáveres
a iludiremos de campos de batalha suspensos!

Fora, fora as rosas vermelhas,
flâmulas de revolta para enterros na primavera
dos revolucionários mortos na cama!

Fora, fora as fontes
com água envenenada da solidão
para adormecer o desespero dos homens!

Fora, fora as heras nos muros
a vestirem de luz verde as sombras dos nossos mortos sempre
de pé!

Fora, fora os rios
a esquecerem-nos as lágrimas dos pobres!

Fora, fora as papoilas,
tão contentes de parecerem o rosto de sangue heróico dum
fantasma ferido!

Fora, fora tudo o que amoleça de afrodites
a teima das nossas garras
curvas de futuro!

Fora! Fora! Fora! Fora!
Deixem-nos o planeta descarnado e áspero
para vermos bem os esqueletos de tudo, até das nuvens.

Deixem-nos um planeta sem vales rumorosos de ecos [úmidos
nem mulheres de flores nas planícies estendidas.
Uma planeta feito de lágrimas e montes de sucata
com morcegos a trazerem nas asas a penumbra das tocas.
E estrelas que rompem do ferro fundente dos fornos!
E cavalos negros nas nuvens de fumo das fábricas!
E flores de punhos cerrados das multidões em alma!
E barracões, e vielas, e vícios, e escravos
a suarem um simulacro de vida
entre bolor, fome, mãos de súplica e cadáveres,
montes de cadáveres, milhões de cadáveres, silêncios de [cadáveres
e pedras!

Deixem-nos um planeta sem árvores de estrelas
a nós os poetas que estrangulamos os pássaros
para ouvirmos mais alto o silêncio dos homens
— terríveis, à espera, na sombra do chão
sujo da nossa morte.

José Gomes Ferreira
NOTA: Retomo esta série, interrompida por coisas da vida. Retomo-a com um poema que responde a uma questão colocada num comentário e como exemplo de que um poeta militante também faz versos entre o "azedume" e a "amargura" misturados com palavras de insurgência e luta..

08 maio, 2013

"Com tanto azedume, NUNCA conseguirá desvendar o segredo da VIDA, nem tampouco a sua essência amorosa. Experimente desligar-se do negrume que lhe torna os dias escuros e deixe-se envolver por aromas, flores e adornos... Quem sabe assim, a ignorância dará lugar à luz do espírito. .." - escrito que me foi destinado num comentário...

...ergo o copo. O olhar semicerrado indicia que estou embriagado, não sei se com a vida se com a bebida.

"A memória das palavras ou o gosto de falar de mim", fazem com que me mostre, em imagens e pelo verbo. E porque a memória das palavras as ligo aos actos, não tenho das memórias retidas o fel da vida passada. Diria que foi, até aqui, uma vida... avinagrada com "interregnos para coisas belas". Fosse eu poeta, então sim, teria o azedume de um Camões, de um Pessoa, de um Cesário Verde, de um Bocage, de um Torga, de um Eugénio de Andrade, de uma Sophia, de um José Gomes Ferreira e preparar-me-ia para dedicar as minhas memórias, como fez António Gedeão, aos netos dos meus netos, com aquele azedume, descrença e quase certeza, de que não serão as próximas gerações as que descobrirão o segredo da vida para a tornar menos sofrida. Nem pensar conseguir ter o azedume da vida que antecipa a morte, como aconteceu a quem disse que "Ser poeta é ser mais alto, é ser maior." E nem prescindo de falar da minha vida amorosa, num rasgar de intimidade que muitos me segredam ser excessivo. Falo (tenho falado) da minha relação com os netos, com as filhas, com os genros, com a sogra, com o senhor engenheiro e do seu cão rafeiro, que passaram recentemente a fazer parte da família...

A busca do Outro talvez seja o caminho pelo qual cada um de nós consegue chegar a si próprio. Para aproximarmo-nos àquilo que somos temos de passar pelo Outro.” ignorar isto é procurar dentro de nós respostas que, se as encontramos, nos enganam com uma luz intensa que envaidece, distrai e cega.

Ela, que me comentou, chegou e tão depressa veio assim se foi. Bateu com a porta e saiu. Saiu sem azedume mas com raiva, sem deixar, contudo, de me soltar uma última palavra: "Que seja feliz". Agradecido ergo o copo. o olhar semicerrado indicia que estou embriagado, não sei se com a vida se com a bebida. Talvez com a bebida, pois a felicidade é...:
«Eu não gosto de falar de felicidade, mas sim de harmonia: viver em harmonia com a nossa própria consciência, com o nosso meio envolvente, com a pessoa de quem se gosta, com os amigos. A harmonia é compatível com a indignação e a luta; a felicidade não, a felicidade é egoísta.» 
José Saramago,  citado numa minha homilia 
Volte sempre, minha amiga.

07 maio, 2013

Resistir, enquanto se comemora o dia da Europa - 9 de Maio

Enquanto a classe média não atina,
embora o espectáculo e o sentir a deveria levar a intervir,
há quem dia 9 (Dia da Europa) vá à rua, onde a luta continua. Vejamos quando se junta...

"Tomem nas mãos a necessidade de derrubar este governo e esta política", vá lá!

(concentração, dia 9  às 18 horas, junto ao metro do Chiado)


06 maio, 2013

Euro, aí está a discussão... enquanto o "governo anda às aranhas"(5)

 (...)
"Mas não acha que é difícil sair do euro quando o único partido político que manifesta dúvidas em relação ao euro é o PCP? 
Sim, mas mesmo que os outros tenham dúvidas não o podem dizer. Nenhum político pode dizer que é a favor da saída do euro. No dia em que o disser já não pode ir para o governo, porque, se for para o governo, dir-se-á que vamos sair do euro, e aí o pânico e a especulação vão gerar-_-se. Mesmo que haja políticos convencidos de que devemos sair do euro, nunca o poderão dizer, para não causar pânico nos mercados. 
Então se ninguém pode dizer, como é possível conseguir o consenso político e social para sair? 
Aquilo que devia ser feito, não quero dizer que possa ser feito, não tenho grandes ilusões em relação às elites portuguesas (...) Para mim não está em causa que tenhamos de sair do euro, de uma forma ou outra vamos ter de sair, a não ser que aconteça um milagre de iluminação na zona euro. O que está em causa é a forma de sair. Ou preparamos a saída ou seremos forçados a fazê-lo com custos muito maiores para a população."
Entrevista a João Ferreira do Amaral, ler aqui 

05 maio, 2013

Da Austeridade Europeia à Violação dos Direitos Humanos... num dia em que se celebra Marx

Foto roubada à Ana Paula Fitas
Todos os dias são dias históricos. Nuns casos apercebemos-nos disso, noutros só mais tarde. Hoje há vários factos que poderão ter implicações no curso dos nossos destinos, sem que o possamos afirmar, agora, que assim será. E há assinalar um facto singular:
*** 
... e porque tudo isto anda ligado, escolhi esta passagem de José Barata Moura para lembrar a efeméride: A 5 de maio de 1818, nascia Karl Marx...


Para visionar toda a intervenção, ver aqui

Para sempre

Para Sempre
Por que Deus permite
que as mães vão-se embora?
Mãe não tem limite,
é tempo sem hora,
luz que não apaga
quando sopra o vento
e chuva desaba,
veludo escondido
na pele enrugada,
água pura, ar puro,
puro pensamento.
Morrer acontece
com o que é breve e passa
sem deixar vestígio.
Mãe, na sua graça,
é eternidade.
Por que Deus se lembra
- mistério profundo -
de tirá-la um dia?
Fosse eu Rei do Mundo,
baixava uma lei:
Mãe não morre nunca,
mãe ficará sempre
junto de seu filho
e ele, velho embora,
será pequenino
feito grão de milho.
(Carlos Drummond de Andrade)

04 maio, 2013

Metamorfose - XIII (crisálida)


Ouviu as palavras que
lhe desenhavam um futuro 
medonho e duro

Rasgou-se-lhe o olhar
até à boca
Olhou sem querer ver 
Já nada mais lhe importava
do que a incerteza de vir a ser bela

Dentro, a alma,
converteu-se em crisálida
aguardando asas
... entregou ao silêncio
as forças resignadas
e sentou-se, ansiosa
à espera
da hora da telenovela

02 maio, 2013

1º de Maio, foi assim o dia passado...

Horas depois da rua, Arménio Carlos veio dizer que a luta continua... (o video não está disponível)
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"Os donos do capital incentivarão a classe trabalhadora a adquirir, cada vez mais, bens caros, casas e tecnologia, impulsionando-a cada vez mais ao caro endividamento, até que sua dívida se torne insuportável." (Marx 1867, citado em Maio de 2012
"Não é preciso, portanto, dominar grande aritmética para perceber que o problema não está na taxa de juro, mas na dívida que é grande" (Passos Coelho, 1 de Maio de 2013
"a sociedade aguenta tudo" (D. José Policarpo, 19 de Fevereiro de 2013
"Não é só a falta de trabalho que retira dignidade à vida, é a falta de horizontes e de perspectivas.(...)  O mundo laboral vive hoje debaixo de um sentimento de medo que condiciona e obriga a aceitar todas as regras e todas as imposições. Não podemos permitir que isto aconteça. Não podemos permitir que ter um emprego, seja ele qual for e em que condições, se torne uma atitude de resignação." (Cáritas, 1 de Maio de 2013)
"Os sindicalistas modernos parece que já não lêem Marx, mas os super-ricos, esses, continuam a ser praticantes fervorosos da religião da luta de classes." (Viriato Soromenho, 1 de Maio de 2013)

01 maio, 2013

1º de Maio, dia de luta e de comportamentos kafquianos


Tenho dado titulo de poema à palavra "Metamorfose". Em tempos kafquianos foi erro fazê-lo. Hoje, 1º de Maio, vou estar onde (quase) todos os amigos pensarão que eu vá estar. Vou, mas olho para o outro lado e fico arrepiado com a imagem de festividade anunciada, onde não falta nada. Folclore, bombos, atracções musicais e não sei que mais, como se em tempos de empobrecimento e de perda de direitos houvesse que festejar os sacrifícios tidos para os  conquistar. Diz-se sindicalismo independente. E eu percebo... e confirmo o entendimento de haver o meu e o outro lado:
"(...) Nos últimos trinta anos, a paisagem económica mudou. E, com o atraso habitual, mudaram os ingredientes sociais e a arquitectura política. Muita gente, entre os quais se conta uma multidão inumerável de pequenos e médios empresários, e, certamente, quase todos os dirigentes sindicais europeus, ainda julga que capitalismo e economia de mercado são a mesma coisa. Julgam que a impossibilidade de obterem crédito é uma coisa passageira. Consideram que a actual austeridade é da ordem da conjuntura. Esquecem que o sistema financeiro que não empresta é o mesmo que já custou 4 500 000 000 000 de euros aos contribuintes europeus, não contando com as operações de engenharia do tipo das swap, que acabam sempre no défice público. Os indicadores que nos chegam dos EUA, da Europa e do resto do mundo, incluindo a China, mostram que o capitalismo de hoje deslocou a sua imaginação da esfera da produção de riqueza, onde se revela cada vez mais incompetente e relapso de imaginação, para se concentrar com afã na redistribuição de riqueza disponível, concentrando-a nas mãos de uma superminoria, à custa do empobrecimento das classes médias e da fragilização do trabalho. Os sindicalistas modernos parece que já não lêem Marx, mas os super-ricos, esses, continuam a ser praticantes fervorosos da religião da luta de classes.Viriato Seromenho Marques, in "Metamorfose"